Jornal Estado de Minas

Moradores da Rua México, em BH, fazem mutirão para assistir partida contra o Brasil

Vendedora de espetinhos na rua, Amanuela de Souza reforçou o estoque de carne para a partida de hoje - Foto: Ramon Lisboa/EM/DA Press

As homenagens que políticos e urbanistas belo-horizontinos fizeram aos mexicanos não comoveram brasileiros nem incentivaram os latino-americanos da América do Norte a se mudarem para o Bairro Jardim Leblon, em Venda Nova, onde a Rua México se estende por 1.300 metros. Lá, como em várias periferias nacionais, torcedores do Brasil se preparam para torcer hoje pela Seleção Brasileira contra o México. Na esquina com a Rua Coronel Antônio Lopes Coelho, a união comunitária funcionou em favor do futebol. Ao mesmo tempo em que a comerciante Luciana Gonçalves vende bebidas na sua distribuidora, em frente Amanuela de Souza, de 35 anos, assa espetinhos de boi, porco e frango. Servem às cerca de 40 torcedores do Brasil que tomam as calçadas em dias de jogos da Copa.

O movimento na Rua México, inclusive, gerou um mutirão pela Seleção. Vizinhos conseguiram uma velha televisão de sistema de tubo e 20 polegadas para assistir ao jogo de hoje pelas oitavas de final. Não só isso, inspirou uma vaquinha para adquirir um conversor digital e a sua instalação para que todos possam assistir, de graça, ao confronto de Neymar e de Gabriel Jesus contra os mexicanos.

“Aqui, tem sempre uma turma que se senta ao balcão para prosear. Mas, nos dias de jogos, fica tudo tomado com gente ouvindo rádios, vendo as televisões espalhadas, comentando e bebendo cerveja aqui na distribuidora”, comemora o vendedor Robson Baptista da Silva, de 55 anos, um dos frequentadores mais costumeiros do estabelecimento.
O pedreiro Renê Benevides, de 52, foi um dos articuladores do arranjo em prol da Seleção. “A gente queria ter como assistir ao jogo sossegado. Bebendo uma latinha e comendo um churrasquinho. Daí, conseguimos a televisão, vamos instalá-la e vai dar Brasil, com certeza. Mexicano, aqui, nunca teve, tinha uns argentinos, mas depois do jogo contra a França, eles sumiram”, brinca Renê.

Moradores instalaram, no fim de semana, uma televisão com antena digital em distribuidora de bebidas para receber torcedores e clientes - Foto: Ramon Lisboa/EM/DA Press

Os espetinhos de Amanuela têm um segredo que faz os fregueses sempre pedirem mais. “É o meu molho de alho caseiro. Depois de assar a carne, as pessoas passam o espeto na farofa e capricham no molho.

Fica uma delícia”, garante a mulher, que aposta na concentração de torcedores nesta manhã. A mesma aposta faz o comerciante Fernando Bráz, de 38, dono do Bar Bartuke, ponto de encontro de apreciadores de futebol na Rua México. O boteco é uma profusão de torcidas diferentes: tem sombreiro mexicano com as cores do Brasil, bandeiras verde e amarelas e flâmulas de Portugal em homenagem ao pai de Fernando, que é português. “A Copa do Mundo está fraca, as pessoas não conseguem vir muito cedo por causa do trabalho, preferem assistir aos jogos em casa. Quem sabe se passarmos pelo México, a coisa engrena. Certamente, ninguém aqui vai saber de torcer pelos mexicanos. A rua tem o nome deles, mas, aqui, somos todos torcedores do Brasil”, garante.

Picolé despacha paleta mexicana


A Rua México não guarda mesmo quase nenhuma semelhança com o país que a denomina. Se na nação latino-americana o calor pede as tradicionais paletas, na rua de BH quem faz sucesso é o picolé “Quero %2b”, que tem sede na via e chega a concentrar cerca de 80 carrinhos para distribuir o sorvete pela região.
Sai por até R$ 2. “Já tivemos paletas aqui, mas as pessoas querem mesmo é o picolé. Durante a Copa, como os jogos acabam sendo mais cedo, os vendedores de rua estão faturando com a criançada que assiste aos jogos”, diz o empresário Alexandre Gomes de Melo Lima, de 33, dono da fábrica dessas guloseimas.

Se no México a fé pela Virgem de Guadalupe se destaca nos principais bairros e arrebanha fiéis para a padroeira do país, na rua de BH a fé é protestante, voltada a quatro templos de igrejas dessas religiões. No campo de futebol do time local, o Oriente, futebol mesmo é raro. As crianças preferem empinar pipas e muitos soltam seus cavalos de carga para pastar aquilo que ainda sobrou de gramado alto à volta da poeira vermelha. “Joguei muita bola aqui quando era criança”, afirma o torneiro mecânico Guilherme Jacinto da Silva, de 60, que hoje prefere assistir aos jogos em casa e frequentar apenas a igreja Adventista que fica perto da várzea. “As pessoas aqui são bem tranquilas, uma vizinhança que assiste aos jogos mais em casa. Mudei para cá aos 16 anos e nunca vi um mexicano aqui. No bairro, as ruas ganharam nomes de vários países, mas nenhum (imigrante) veio junto”, disse Guilherme.



No Bairro Concórdia, na Região Nordeste, há também um local em homenagem aos adversários de hoje da Seleção Brasileira. Contudo, na Praça do México, que fica entre as ruas Iguassu e Guanabara, não há qualquer característica ou hábito que lembre a cultura dos mexicanos, mas há bares onde brasileiros se reunirão para torcer pela Seleção.

HOMENAGENS NA GRANDE BH A Rua México não está sozinha em BH.
A homenagem a outros países resulta frequentemente em batismo de ruas. Só na capital mineira o Estado de Minas contabilizou 36 vias urbanas que denominam 19 países. Pode parecer muito, mas, na vizinha Contagem são 44, que homenageiam 17 países. Boa parte dessas menções se devem ao Brasil. Mas há menções a vários países, alguns deles que passaram pela Copa do Mundo, como Irã, Alemanha, Nigéria, Costa Rica, Polônia, Egito, Islândia e Portugal. Entre os que ainda disputam o Mundial, há ainda 10 países homenageados, como Bélgica, Inglaterra, França e Colômbia..