O recrudescimento da ação dos perueiros em Belo Horizonte motivou uma operação para tentar coibir a presença das vans que praticam transporte irregular de passageiros, aumentam a insegurança nas ruas e usam como base principalmente o Hipercentro da capital mineira. Acostumados a se concentrar no quadrado formado pelas ruas Tupinambás, Rio Grande do Sul, Carijós e A Avenida Olegário Maciel, os motoristas vêm encontrando nos últimos cinco dias nessa região grande concentração de guardas municipais, que agem em parceria com a Polícia Militar, Departamento de Edificações e Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DEER/MG) e BHTrans. Em quatro dias de fiscalização intensa já foram 242 autuações, somando a prática do transporte clandestino e também outras infrações, como mau estado de conservação, excesso de passageiros, parada em local proibido, entre outras. Como os perueiros só podem ser multados caso sejam flagrados com os veículos cheios, muitos deles não chegam nem a se preocupar com a presença dos guardas, apenas esperando a saída do poder público para embarcar os passageiros.
O aumento da fiscalização, que destinou 50 agentes para fiscalizar os perueiros no Hipercentro, fez com que as vans sumissem da região. Há duas semanas, o Estado de Minas flagrou dezenas de veículos praticando o transporte clandestino na mesma área. Cinco placas informadas pela reportagem ao Departamento Estadual de Trânsito de Minas Gerais (Detran/MG) concentravam 139 multas por transporte clandestino. Sem preocupação de parar nos próprios pontos de ônibus, os perueiros ainda gritavam os destinos em meio às pessoas como se a atividade fosse devidamente legalizada. Ontem, as filas de vans sumiram do Hipercentro, mas a fiscalização não impediu perueiros de ficarem em seus veículos aguardando a saída dos agentes públicos. Para saber se determinado veículo está a serviço dos perueiros basta checar a placa, como ocorreu com um dos veículos parados na esquina na Rua dos Carijós com a Rua Rio Grande do Sul ontem, que somava 36 autuações pelo transporte clandestino.
Segundo o inspetor João Marinho, a multa só é aplicada quando as vans são encontradas com passageiros. “Temos a presença dos agentes nessa região para inibir o transporte e abordagens volantes com motocicletas nos itinerários para flagrar o transporte sendo realizado”, diz o inspetor. Durante a rotina normal de fiscalização, equipes descaracterizadas percorrem os principais pontos de tráfego dos perueiros e sinalizam para as forças ostensivas os veículos-alvos, que são abordados. Ontem, essa forma de agir garantiu a abordagem de duas vans que praticavam o transporte clandestino, uma chegando de Sete Lagoas (Região Central) e outra de Ribeirão das Neves (Grande BH).
“FORMIGAS” Nas ruas, os perueiros contam com diferentes funções. Motoristas normalmente ficam responsáveis apenas por conduzir os veículos, enquanto aquelas pessoas conhecidas como “formigas” saem angariando potenciais passageiros nos pontos de ônibus. Além disso, olheiros ficam sempre atentos e rodam em busca de policiais e guardas, para alertar os condutores para qualquer possibilidade de fiscalização. Acostumado a rodar entre o Bairro Santa Cecília, nos limites de Esmeraldas e Ribeirão das Neves, na Grande BH, e Belo Horizonte, um perueiro que conversou com a reportagem disse que os passageiros normalmente são convencidos com base em alguns pontos fracos dos ônibus, como preço mais em conta e tempo de espera muito menor, principalmente no fim de semana. “Não tem aquele tanto de parada em pontos da BR-040 onde acontecem assaltos várias vezes. E se o trânsito estiver parado, a gente passa por outros caminhos”, afirma.
Mas a Guarda Municipal alerta a população para o risco que as pessoas correm quando optam pelo transporte clandestino. A Guarda pontua que elas estão escolhendo veículos em mau estado de conservação, guiados por condutores desconhecidos e até inabilitados, que desrespeitam as leis de trânsito e que, ao se deparar com a fiscalização, normalmente fogem, gerando grande risco de acidentes, inclusive para os demais usuários das vias. Perueiros flagrados pela fiscalização pagam R$ 130,16, referentes a uma infração média, e perdem quatro pontos na Carteira Nacional de Habilitação (CNH).