“Foi um grande susto. Um deles me mostrou a arma e disse que queria apenas queimar o ônibus”. Foi assim que o motorista V., de 32 anos, descreveu o ataque ao coletivo da linha 635 (Estação Vilarinho/Jardim Comerciários) que dirigia na noite desta segunda-feira. Dois homens, que ele acredita serem adolescentes, colocaram fogo no veículo, por volta das 20h30, e ameaçaram seguir com os incêndios criminosos caso agentes da penitenciária Bicas II, em São Joaquim de Bicas, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, continuem a maltratar os presos.
O atentado foi na Rua Sete de Outubro, no Bairro Jardim Comerciários C, na Região do Venda Nova. “Parei para descer passageiros e retornava para a estação. Vi quando entraram os dois pela porta traseira. Um deles pulou a roleta e veio em minha direção com uma arma e disse que era para abrir a três portas, pegar minhas coisas e descer. Tinham quatro passageiros no carro, que desceram rapidamente.Vi que o outro tinha uma garrafa pet, acredito que com gasolina”, contou o motorista.
Segundo V., os criminosos lhe disseram que não queriam fazer nada com ele, mas apenas colocar fogo no coletivo. “Fiquei em choque e um deles por duas vezes me cutucou para entregar um bilhete que não quis nem ler e entreguei à polícia. Mas antes de fugirem a pé, disseram que enquanto continuar os maus-tratos aos presos em Bicas II (penitenciária de São Joaquim de Bicas) eles vão incendiar ônibus”.
Além do coletivo que ficou totalmente destruído, foi queimada a fiação de eletricidade e telefone de duas casas da Rua Sete de Outubro, na altura do número 150. As famílias ficaram no escuro. Militares do 49º Batalhão da PM realizaram levantamentos no local e teriam identificado dois suspeitos. Foi montado um esquema especial de policiamento em busca dos bandidos e para garantir a segurança das viagens de ônibus na região.
Devido ao ato de vandalismo, as viagens das linhas troncais, que partem das estações Vilarinhos e Venda Nova, foram suspensas a partir das 23h, segundo informou a BHTrans. Já as linhas alimentadoras funcionam até meia-noite. As viagens de linhas na área do Jardim Comerciários foram suspensas pouco depois do ataque.
Os atentados contra ônibus, estabelecimentos comerciais e repartições públicas ocorridos em Minas Gerais desde 3 de junho, levaram à destruição de 28 veículos de transporte público em 42 municípios até o dia 16 daquele mês, e obrigaram a segurança pública mineira a um rearranjo. Algo também necessário devido ao fato de as ordens para essas ações terem partido da organização criminosa paulista que age nos presídios brasileiros.
Entre as medidas adotadas pelas autoridades mineiras, está uma troca sistemática de inteligência entre as forças de segurança pública locais, paulistas e das esferas federais, a transferência e o isolamento de presos que lideram o movimento e o lançamento de mais operações para a prisão de quem participou dos atentados, chegando a 90 detenções e a 16 apreendidos. Esse novo ataque volta a desafiar as forças de segurança do estado.