Jornal Estado de Minas

Reabertura dos parques das Mangabeiras, Serra do Curral e Burle Marx será definida nesta semana

Risco de contágio de febre amarela levou à interdição do Serra do Curral - Foto: Beto Novaes/EM/DA Press

Depois de mais de 220 dias fechados ao público para prevenir a transmissão da febre amarela, os parques municipais das Mangabeiras (incluindo também o seu mirante), da Serra do Curral e Roberto Burle Marx finalmente terão uma previsão de reabertura definida nesta semana. A informação é da Fundação de Parques Municipais e Zoobotânica (FPMZB), que administra os espaços, e da Secretaria Municipal de Saúde (SMSA), responsável pela recomendação de fechamento devido ao encontro de saguis (micos-estrela) mortos e que apresentaram exames positivos para contaminação pelo vírus da febre amarela. Essa interdição vinha sendo contestada pelos frequentadores e pela população, já que o Ministério da Saúde, por exemplo, considera que a época de transmissão da doença se dê entre dezembro e maio.

Neste ano, foram apurados 97 casos suspeitos da doença na capital, sendo 14 confirmados e quatro óbitos constatados em BH, todos com contaminação em outros municípios. A SMSA garante que o único motivo para a recomendação de fechamento foi a febre amarela. “A constatada permanência da circulação do vírus da febre amarela no Sudeste brasileiro ainda implica riscos à saúde pública”, justificou a pasta.

As quadras de tênis, basquete e futebol estão silenciosas. Em plenas férias escolares, nem uma criança desfruta dos dias ensolarados de inverno brincando no espaço.
Na pista e no circuito de skate, em vez de manobras radicais, pássaros se empoleiram após revoadas entre os lagos paisagísticos, sem ninguém para fotografá-los. Por ora, ninguém pode usufruir das instalações de lazer e contemplação dos parques das Mangabeiras e da Serra do Curral – normalmente, o público ultrapassa os 50 mil por mês. Espaços reconhecidos como símbolos da capital mineira, sobretudo por serem emoldurados pela formação serrana do Curral, que continuam com seus portões lacrados a cadeado.

Renata e Podé: "Este fechamento é uma grande perda", comenta ele - Foto: Beto Novaes/EM/DA Press

Nos três portões de acesso ao Parque das Mangabeiras e também no Mirante das Mangabeiras, vigilantes solitários passam os dias sentados, lendo jornais, fazendo cruzadinhas e caminhando sem destino ou serventia outra que ativar a circulação das pernas. No mirante, um dia normal teria a concentração de casais de namorados, turistas e amigos admirando a vista de uma elevação de 1.200 metros. Nada mais deles ou dos tradicionais carrinhos de pipoca, cachorro-quente e água de coco.

O Parque das Mangabeiras é tão apreciado pelos visitantes que, no ano passado, a estudante Carolina Guimarães de Castro, de 28 anos, escolheu o local para comemorar seu aniversário fazendo um piquenique. “Na nossa família, fomos acostumadas a frequentar o parque desde muito pequenas.
Então, a nossa história acaba muito ligada ao parque”, disse. A irmã dela, a também estudante Emanuela Guimarães de Castro, de 31, disse ter se esquecido da proibição. “A gente chegou à pista de caminhada e sugeri irmos ao parque. Foi aí que nos lembramos de que está fechado. É muito ruim que esteja assim por tanto tempo, pois há tão poucos espaços de lazer aqui na nossa cidade. É, com certeza, uma perda para todos nós”, afirma. 

Clique para ver as características das áreas interditadas desde janeiro devido à febre amarela - Foto: Arte EM

PERDA Diariamente, o vocalista da banda Tianastácia, Paulo André Nastácia, o Podé, e sua mulher, Renata Roizembruch, frequentam o alto das Mangabeiras para pedalar. Eram frequentadores das trilhas do parque e sentiram muito pela interdição. “Vemos muita gente se decepcionando quando chega à portaria e encontra o portão fechado”, conta Renata.
“Sempre frequentei o parque para pedalar. Este fechamento é uma grande perda. Uma perda até para o turismo de BH. Tem gente que vem de outras cidades para visitar o parque e quando chega está fechado. Um dos points turísticos mais procurados da cidade. E infelizmente ainda está fechado”, disse Podé.

A FPMZB informou que não se tratou de política de economia de custos pois ações rotineiras como poda, capina, roçada, segurança e equipe administrativa continuaram a ocorrer. “No Mangabeiras, foram reformados o centro de educação ambiental e os banheiros, limpeza de lagos e da cobertura de toda a praça das águas (realizada pela última vez há 30 anos), entre outros. No Serra do Curral, estão sendo implantados mais aspersores para combate aos incêndios e dois projetos de preservação de um cacto sob risco de extinção. No Parque Roberto Burle Marx, houve limpeza para evitar a proliferação de mosquitos, implantação de jardins, revitalização paisagística e troca de iluminação.
Nenhum funcionário de qualquer um desses parques foi dispensado de suas atividades em função do fechamento”, informou.

Sucessão de impedimentos


 

Desde 2014, a população de BH foi perdendo aos poucos o contato mais direto com a Serra do Curral, elemento paisagístico que para muitos simboliza a própria capital mineira. Naquele ano, a travessia em altitude entre os parques da Serra do Curral e das Mangabeiras foi suspensa devido a erosões no topo da formação e à descoberta de uma espécie de cacto ameaçada de extinção. O nome científico da planta é Arthrocereus glaziovii, não tem denominação popular e é endêmica da canga mineira, ou seja, só existe no substrato de solo das áreas ricas em minério de ferro de Minas Gerais. As visitas naquele espaço se restringiram ao primeiro posto do trajeto.

Em janeiro do ano passado, o parque ficou mais duas semanas sem poder ser visitado devido ao término da licitação com a empresa que fornecia funcionários terceirizados. Em fevereiro daquele ano, mais uma vez o espaço foi fechado por 96 dias depois que macacos foram encontrados mortos e a contaminação pela febre amarela foi confirmada. Em dezembro, o espaço foi mais uma vez interditado, junto com o Mangabeiras e o mirante.

Na terça-feira, a única movimentação no parque estava nas suas cristas. Funcionários espalhados pelo alto da serra operavam os aspersores de água que fazem a umidificação do mato para evitar que incêndios atinjam a unidade. Todas as demais estruturas estavam fechadas.



Curiosamente, um macaco sagui resolveu aparecer no parque. Justamente esse que é o animal que dispara o alarme de febre amarela quando um corpo é encontrado e que motivou os últimos fechamentos da unidade. Contudo, o sagui que passeava por aquela área não estava febril. Pelo contrário, chegou saltando dos pinheiros para dentro do parque, percorreu o cabeamento elétrico, pulou para o telhado da administração e desapareceu na mata, sem qualquer preocupação.

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