Elas pareciam estar, se não erradicadas, bem controladas. Nomes como sarampo, rubéola, difteria e poliomielite já não faziam mais parte da rotina dos brasileiros. Mas a boa notícia virou do avesso e eles foram esquecidos no pior dos sentidos. Pacientes, certos da ausência do perigo, sumiram das salas de vacinação. Em todas essas doenças, as taxas de imunização estão bem abaixo do desejado – 95% pelo menos. O problema criou uma geração de pessoas suscetíveis a vírus e bactérias que, encontrando a porta aberta e terreno fértil, voltam a dar as caras no país. Em Minas Gerais, mais da metade dos municípios têm risco muito alto ou alto para essas enfermidades. Entre os exemplos estão as cidades da Regional de Saúde Belo Horizonte, onde o combate à poliomielite, eternizado com o personagem Zé Gotinha em todo o Brasil num passado recente, está perdendo a força.
Leia Mais
A partir desta semana, prefeitura de BH vai atrás de quem não se vacinouSarampo: baixa cobertura vacinal em Minas e casos em estados vizinhos preocupamMinas bate meta de vacinação contra gripe; baixa adesão de crianças e gestantes preocupa Veja lista de postos de saúde de BH para se vacinar contra sarampo e poliomeliteÀs vésperas da campanha nacional contra o sarampo, Minas entra em alertaMinas investiga 63 casos suspeitos de sarampoEstoque baixo afeta vacinação em Minas GeraisAdolescentes em carro roubado trocam tiros com a PM e um morre na PampulhaA SES está refazendo a classificação de risco para reemergência de doenças que podem ser prevenidas pela vacinação. Dos 853 municípios mineiros, 56% estão na corda bamba. São considerados de risco muito alto 29 deles; outros 448, alto; e o restante, médio, baixo e muito baixo. Uma das regiões que mais preocupa o estado é a Regional de Saúde Belo Horizonte, classificação da SES que engloba 39 cidades da Grande BH e outras cinco da Região Central. Nela, a cobertura vacinal acumulada de 1997 a 2018 é de apenas 36,22%. A estimativa é de 22.391 crianças não vacinadas na Grande BH. “Às vezes, os pais não têm condição de levar a criança para vacinar, pois os postos de saúde funcionam em horário comercial. Outros, são negligentes.
O Brasil tem certificado de erradicação da poliomielite. A doença não é registrada no país desde 1990. As vacinas são aplicadas em três doses, em crianças de 2, 4 e 6 meses de vida. Aos 15 meses e 4 anos, há o reforço, via oral. De acordo com a SES, em Minas, no acumulado de 1997 a 2018, pouco mais da metade das crianças menores de 1 ano tomaram as três doses (65,66%). A estimativa é de 45.806 não vacinados com a terceira dose. A faixa etária de 4 anos é mais crítica: a cobertura vacinal desses pequenos, com as três doses, é de apenas 38,55%. Considerando todas as crianças menores de 4 anos, a cobertura chega a 71,31%, mas a estimativa é de que 354.282 não tomaram a terceira dose.
O último caso autóctone de pólio notificado em Minas data de 1989.
URGÊNCIA O sumiço das salas de vacinação está levando ao extremo. No Centro de Saúde Pompeia, no bairro homônimo, na Região Leste de BH, a gerência determinou a caça a quem deveria estar protegido contra a pólio e o sarampo mas ainda não se vacinou. “Vamos atrás de todos os pacientes faltosos abaixo de 5 anos”, conta a gerente Solange Cicarelli.
Ela lembra das campanhas contra a pólio, iniciada nos anos 1980, que usavam o personagem Zé Gotinha como chamariz das crianças.
Perigo à vista
Confira a situação da vacinação em Minas Gerais e características da difteria, sarampo e poliomielite
DIFTERIA Doença transmissível aguda. Frequentemente se aloja nas amígdalas, faringe, laringe, nariz e, ocasionalmente, em outras mucosas e na pele. A presença de placas pseudomembranosas branco-acinzentadas, aderentes, que se instalam nas amígdalas e invadem estruturas vizinhas, é a manifestação clínica típica. A transmissão ocorre ao falar, tossir, espirrar, ou por lesões na pele. O período de incubação é de um a seis dias, podendo ser mais longo. Já o período de transmissibilidade dura, em média, até duas semanas depois do início dos sintomas.
RUBÉOLA Doença aguda, de alta contagiosidade, transmitida pelo vírus do gênero Rubivirus da família Togaviridae. A doença também é conhecida como “sarampo alemão”. No campo das doenças infectocontagiosas, a importância epidemiológica da rubéola está representada pela ocorrência da Síndrome da Rubéola Congênita (SRC), que atinge o feto ou o recém-nascido cujas mães se infectaram durante a gestação. A infecção na gravidez acarreta inúmeras complicações para a mãe, como aborto e natimorto (feto expulso morto) e para os recém-nascidos, como malformações congênitas (surdez, malformações cardíacas, lesões oculares e outras).
SARAMPO Doença infecciosa viral e extremamente contagiosa. A transmissão se dá por meio de secreções das vias respiratórias, podendo ser passar diretamente de uma pessoa à outra por secreções expelidas ao tossir, espirrar, falar ou respirar. Os principais sintomas são febre alta, manchas avermelhadas em todo o corpo, congestão nasal, tosse e olhos irritados e pode causar complicações graves como cegueira, encefalite, diarreia intensa, infecções do ouvido e pneumonia, sobretudo em crianças com problemas de nutrição e pacientes imunodeprimidos.
POLIOMIELITE A poliomielite ou “paralisia infantil” é uma doença infectocontagiosa viral aguda, caracterizada por um quadro de paralisia flácida, de início súbito. O déficit motor instala-se subitamente e sua evolução, frequentemente, não ultrapassa três dias. Acomete em geral os membros inferiores, de forma assimétrica, tendo como principal característica a flacidez muscular, com sensibilidade conservada e ausência de reflexos no segmento atingido. A transmissão ocorre por contato direto pessoa a pessoa, pela via fecal-oral (mais frequentemente), por objetos, alimentos e água contaminados com fezes de doentes ou portadores, ou pela via oral-oral, por gotículas de secreçõesao falar, tossir ou espirrar. A falta de saneamento, as más condições habitacionais e a higiene pessoal precária constituem fatores que favorecem a transmissão do poliovírus.