Ela não aparece entre as rodovias mais perigosas do país. Em Minas Gerais, a BR-251 ocupou no ano passado a sexta posição na listagem das estradas com o maior número de mortos. Apesar disso, tem concentrado uma quantidade de eventos graves, dignos de chamar a atenção. Somente nos 70 primeiros dias deste ano, 19 pessoas perderam a vida em quatro acidentes nesta BR que corta Minas Gerais. Ontem, as estatísticas engrossaram: um engavetamento envolvendo 11 veículos matou pelo menos oito pessoas e deixou 53 feridas e três desaparecidas, num total de 64 vítimas, no Km 474, na Serra de Francisco Sá, no município homônimo, conhecido como “Curva da morte”, no Norte do estado. Enquanto tragédias se repetem, obras de revitalização da rodovia não saem do papel. Projeto de melhorias em mais de 300 quilômetros da via, incluindo a mudança de traçado no trecho da serra, se arrasta há pelo menos cinco anos.
Uma carreta câmara fria carregada com melões foi o estopim do acidente. De acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), tudo começou quando uma carreta baú com câmara fria carregada de melão bateu na traseira de um Fiat Doblô e o arremessou em chamas para fora da pista. A carreta continuou desgovernada e bateu numa outra carreta carregada com 1 tonelada de pacotes de sal, que estava na frente da Doblô. Essa, por sua vez, atingiu quatro carros parados atrás de um ônibus e os arremessou contra outra carreta carregada com 50 quilos de sacos de sal que estava quebrada na pista e outras duas que subiam sentido contrário (uma carregada de piso e outra de cerveja). O motorista do ônibus, que havia parado para a passagem de outro veículo que vinha no sentido contrário, ao perceber a aproximação rápida da carreta de melões arrancou e bateu lateralmente nas três carretas, mas ninguém se feriu. A tragédia podia ter sido ainda maior, pois o ônibus tinha 16 crianças, segundo a corporação.
No Doblô, foram encontrados seis corpos carbonizados. Também morreram os ocupantes de um Corolla e de um Uno da Prefeitura de Josenópolis, também no Norte de Minas. Até o início da noite, o motorista da carreta de melões não havia sido encontrado e a suspeita era de fora carbonizado e calcinado. A tragédia mobilizou várias equipes do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência e Emergência (Samu) e do Corpo de Bombeiros, além de um helicóptero da Polícia Militar, para o socorro às vítimas, prejudicado pela grande cortina de fumaça local. Os Bombeiros controlaram o incêndio por volta das 11h40. Os feridos foram levados para hospitais de Francisco Sá e de Montes Claros. A Santa Casa de Montes Claros recebeu seis feridos, dos quais um estado gravíssimo e outros cinco com quadro estável, de acordo com informações da unidade.
ALERTA E ORIENTAÇÃO O perigoso trecho da Serra de Francisco Sá é palco de constantes acidentes, apesar da sinalização no local alertando sobre os riscos e orientando os motoristas a reduzir a velocidade. A BR-251 registrou aumento de 138% no número de mortes em 2017 na comparação com o ano anterior. Foram 50 contra 21. Este ano, os números já são assustadores. Um dos acidentes mais graves ocorreu logo nos primeiros dias de janeiro. Seis veículos se envolveram num acidente perto de Bocaina, entre os municípios de Francisco Sá e Salinas, deixando 13 mortos e mais de 30 feridos.
Em 2013, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) informou ao Estado de Minas que estava em fase de aprovação projeto que prevê intervenções na BR-251, nos 340,5 quilômetros entre o Km 197,3 (BR-116) e o Km 537,8 (Montes Claros). Na época, estava previsto edital dividido em dois lotes, com custo estimado em R$ 800 milhões e prazo de execução de 36 meses. Cinco anos depois, nada saiu do papel. O Dnit informou ontem, por meio de nota, que o trecho da rodovia BR-251 onde ocorreu o acidente tem contrato de manutenção vigente. “Tanto o pavimento quanto a sinalização (horizontal e vertical) estão em boas condições”, afirma o texto.
O departamento acrescentou que tem projeto executivo para obras de grande vulto do entrocamento com a BR-116 até Montes Claros – Km 197,3 ao Km 526,1, numa extensão de 328,8 quilômetros. Entre as intervenções, estão previstos a mudança de traçado na Serra de Francisco Sá e a implantação de 110 quilômetros de terceira faixa ao longo da rodovia. O investimento tem valor de R$ 1 bilhão e depende de dotação orçamentária do governo federal, segundo o Dnit.
Mais radares
Chega a 449 o número de radares controladores de velocidade instalados nas estradas mineiras. Os motoristas devem ficar atentos a mais três aparelhos, que entram em operação hoje. Eles estão instalados em duas rodovias, uma que passa por Curvelo, na Região Central de Minas Gerais, e outra por Estrela do Sul, no Alto Paranaíba. Desde o dia 10 eles funcionavam em modo educativo. Hoje, passam a multar os motoristas infratores. Os trechos vão permitir a velocidade máxima de 60 quilômetros por hora, de acordo com o Departamento de Edificações e Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DEER/MG). Dois dos equipamentos estão fixos em dois trechos da BR-135, próximo a Curvelo. Um deles está no Km 603,8 e o outro no 660. O terceiro opera no Km 39 da MG-223, em Estrela do Sul.