Mais de sete meses após o fechamento dos parques das Mangabeiras e Serra do Curral, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, por conta do risco da transmissão da febre amarela, as duas unidades de conservação foram reabertas ontem. O longo período de portas fechadas ao público, entretanto, não foi suficiente para colocar novamente à disposição da população a trilha Travessia da Serra, atrativo que percorre a crista da Serra do Curral e faz a ligação entre essas duas áreas verdes encravadas em um dos maiores símbolos da capital mineira. Aberto em setembro de 2012, junto com a inauguração do parque que leva o nome do cartão-postal da cidade, o percurso completo de cerca de quatro quilômetros ligando 10 mirantes só funcionou por completo durante cinco meses. Logo houve restrições em dois mirantes devido ao risco de desmoronamento da montanha, fechamento de mais cinco pontos de visualização da paisagem para garantir estudos sobre uma espécie rara de cactos, encontrada na região e, por fim, o bloqueio completo em função do risco de contágio de febre amarela.
A população lamenta a abertura parcial do parque. Márcia Fernandes, de 47 anos, foi com a família fazer uma trilha na região e ficou decepcionada ao saber que o atrativo permanecia interditado. “Vim para fazer caminhada no Parque da Serra do Curral e vi a placa da Travessia da Serra logo na entrada. Fiquei muito interessada, mas logo soube que estava fechada. Achava que era por causa da febre amarela, porém, ao saber que já tem tanto tempo interditada, acho um absurdo que os possíveis problemas não tenham sido solucionados. Até porque, essa é uma das principais atrações do local. É um lugar maravilhoso e merece ser compartilhado”, comentou. Já Bernardo Ladeira, de 28, fez a travessia em 2010 e conta os dias para que ela seja reaberta. “Caminho sempre no parque e tenho muita vontade de fazer a travessia novamente. Acho um absurdo. O problema não é fechar, mas sim, interditar e demorar tanto para reabrir”, avaliou.
USO INTENSIVO No Parque das Mangabeiras, as áreas de mata e trilhas também estarão com acesso temporariamente restrito, permitido somente para pessoas autorizadas, como pesquisadores e funcionários do parque. A área reaberta ao público contempla as praças das Águas e de Esportes, Ilhas do Passatempo e Ciranda de Brinquedos, além do estacionamento. “Após meses fechado, é natural que a fauna sofra uma reorganização das populações silvestres. A restrição dos acessos será feita para o manejo progressivo da fauna local, sem prejudicar o lazer nas áreas de uso público intensivo. Precisamos fazer com que essa reaproximação da fauna com o público não seja impactante e, para isso, reabriremos as áreas de forma planejada, paulatinamente, visando à segurança dos visitantes e à conservação de toda a biodiversidade”, explica o presidente da Fundação. Portanto, ainda não há um prazo para abrir 100% das atividades do espaço. Pesquisas do meio ambiente poderão prever como, gradualmente, as trilhas serão normalizadas. Mas os visitantes poderão percorrer a pé e sem guias o trajeto dos mirantes 1 a 3 do parque.
Andréa Campioto, de 39, veio de São Paulo para Belo Horizonte e aproveitou a reinauguração no período de férias. “A primeira impressão é a melhor possível. O visual é muito legal. Agora, vou trazer os familiares de São Paulo”, contou ela, que estava com as duas filhas, de 4 e 6 anos. Durante o período em que ficaram fechados, os parques passaram por intervenções. Além da manutenção regular da vegetação, no Parque das Mangabeiras foi feita ainda a reforma do Centro de Educação Ambiental e dos banheiros, pintura de equipamentos na Ciranda de Brinquedos e a limpeza do lago das carpas e de toda a cobertura da Praça das Águas. Além dos projetos de pesquisa que visam à conservação do cacto na Serra do Curral, foi iniciado o processo de implantação de mais três aspersores, que, juntos com os já existentes, vão totalizar 19 equipamentos no parque, com promessa de aumentar a eficácia das ações de combate aos incêndios florestais.
Porém, após tanto tempo fechado, ainda havia muitos apelos por melhorias. “Ficamos felizes pela reabertura, mas, nos deparamos com um parque sem manutenção, ruim já tem muito tempo. Não acho que a questão seja apenas a febre amarela, mas, sim, um possível problema de verbas. Hoje (ontem), as pistas de skate estavam completamente abandonadas, com muita sujeita”, contou Bernardo Ladeira, que frequenta o parque para andar e se exercitar no esporte. Ele disse que, ao chegar, precisou “lixar” parte da pista e fazer a limpeza. “Havia várias pedras, até tomei um ‘capote’ por isso”, completou o jovem sobre a situação. Sobre a Serra do Curral, Márcia Fernandes contou que outro problema encontrado foram as placas pichadas: “Dificultam muito a sinalização do local”, pontuou ela.
Percurso da serra
» Em setembro de 2012, a trilha foi inaugurada, junto com o Parque da Serra do Curral, com 10 mirantes em um percurso de cerca de quatro quilômetros na crista da montanha até o Parque das Mangabeiras
» Em fevereiro de 2013, o alargamento de uma fenda na encosta do maciço rochoso na área próxima de uma cava de mineração desativada motivou o fechamento de parte da trilha, entre os mirantes 8 e 10. Os visitantes iam até o 8 e voltavam pela mesma entrada, no Parque da Serra
do Curral
» Em abril de 2016, o fechamento alcançou mais cinco mirantes, liberando apenas o acesso até o de número 3. O argumento inicial da Prefeitura de BH foi de que eram necessários estudos de segurança para a trilha, mas no meio do caminho foi descoberta uma espécie rara de cacto que demandou estudos específicos
» Em fevereiro de 2017, o Parque da Serra do Curral e o das Mangabeiras são totalmente fechados devido ao risco de febre amarela por conta do surto da doença em Minas naquele ano. Toda a trilha fica interditada, sem acesso a nenhum dos mirantes.
» Em maio de 2017, o parque reabre, reativando o caminho entre os mirantes 1 e 3.
» Em novembro de 2017, o parque ´é fechado pela segunda vez devido à febre amarela, bloqueando novamente o acesso aos três mirantes que estavam disponíveis
» Ontem, os mirantes 1, 2 e 3 voltaram a receber os visitantes com a reabertura dos parques da Serra do Curral e Mangabeiras
Cartão de vacina é essencial
No primeiro dia da reabertura dos dois parques, visitantes tiveram que comprovar que estão imunizados contra a febre amarela para entrar nas unidades de conservação. Isso porque ainda prevalece o estado de alerta em relação às medidas preventivas contra a enfermidade. “Mesmo tendo havido uma melhora nos indicadores de controle da doença, a Secretaria Municipal de Saúde (SMSA) autorizou a reabertura desses dois parques e reiterou a necessidade da apresentação do cartão de vacinação ou a garantia de que os visitantes estejam vacinados”, disse o presidente da Fundação de Parques Municipais e Zoobotânica.
Thaís Dutra, de 26 anos, e Daniel Rodrigues, de 32, não levaram o cartão de vacina na manhã de ontem. “Eu sabia que tinha a quadra de tênis aqui, mas nunca tinha vindo ao parque. Então, aproveitei que estou de férias para conhecer. Fui pega de surpresa, não sabia que deveria trazer o cartão, mas como já tomei a vacina, assinei um termo de responsabilidade. Agora é chegar em casa e colocar o cartão na bolsa,” disse.
Aqueles que quiserem evitar as filas, que podem ocorrer no processo de conferência dos cartões ou assinatura dos termos de compromisso, têm a opção de fazer o agendamento prévio das visitas aos parques das Mangabeiras e da Serra do Curral no site da Prefeitura de Belo Horizonte. Para grupos de visitantes é fundamental que o agendamento seja feito, para comodidade e conforto de todos. O agendamento deve ser feito no mínimo dois dias úteis e no máximo 30 da data desejada para visita pelo site www.pbh.gov.br/servicos.