"Não deu tempo de fazer nada. A linha já chegou me cortando. Quando eu parei, e tirei o capacete, eu ainda não tinha noção da gravidade. Quando eu vi, estava sangrando. Estava jorrando sangue para todos os lados", contou Ivan Rodrigues, de 25 anos, que pilotava sua motocicleta pela Avenida dos Andradas quando foi atingido no pescoço por uma linha de cerol. Gravemente ferido, foi socorrido pela Guarda Municipal e levado, inicialmente, a uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA). De lá foi transferido para o Hospital João XXIII. Em apenas 5 minutos, já estava no bloco cirúrgico.
Após 20 dias do acidente, Ivan ainda tem 14 pontos no pescoço. Ele aproveitou para contar sobre o momento de desespero e a importância da conscientização. "Minha primeira reação foi tirar a blusa e colocar no pescoço para conter o sangue. Em seguida, uma viatura da Guarda Municipal me socorreu. A rapidez foi fundamental para que eu estar vivo hoje contando minha história", lembrou o jovem, em coletiva de imprensa na manhã desta quinta-feira.
Desde o início deste ano até o dia 16 deste mês, o Hospital João XXIII atendeu 22 vítimas de linhas de cerol. Só no último final de semana, foram três casos. A expectativa é de que os númerosainda aumentem, pois, historicamente, julho é o mês com maior incidência de casos.
Dados da Fundação Hospitalar de Minas Gerais (Fhemig) mostram que os atendimentos a vítimas vêm aumentando desde o início deste ano. No ano passado, foram 26 casos: 86% eram do sexo masculino, 49% das vítimas tinham entre 13 a 29 anos e 37% e 30 a 49 anos.
"Todos os pacientes vítimas de cerol chegam muito graves. Quando a lesão acomete a região cervical, a gravidade é maior. Em cerca de cinco minutos a pessoa pode ter um choque hemorrágico e morrer", explicou diretor técnico e gerente assistencial do HPS, Marcelo Lopes Ribeiro. "Há casos que não atingem a cervical, mas deixam sequelas irreversíveis. Nós tivemos um paciente que colocou a mão para se defender da linha e, hoje, devido à lesão, não consegue fechar a mão", completou.
O cerol é tão danoso que até mesmo o helicóptero Arcanjo 4, do Corpo de Bombeiros Militar, que foi atingido. No dia 15 de junho, a aeronave foi danificada por linhas de cerol que se enroscaram em seu rotor e impediram que o Arcanjo cumprisse sua missão. O tenente Pedro Aihara do Corpo de Bombeiros explicou que além de colocar a vida da tripulação em risco, o conserto do Arcanjo 4 – parado para manutenção desde a data, deve custar cerca de US$ 40 mil. "A peça é da França e, ainda, não conseguimos. O atendimento fica prejudicado", completou.
CONSCIENTIZAÇÃO Pensando em diminuir os números, a Guarda Municipal de Belo Horizonte, por meio da Patrulha Escolar, promoveu uma oficina de pipas para 200 alunos da rede municipal de ensino. Durante os meses de julho e agosto serão realizadas novas ações com panfletagem e orientação a ciclistas, motociclistas e pedestres em diferentes pontos da cidade. Somente no mês de junho as ações de fiscalização da Guarda Municipal apreenderam 70 latas envoltas com cerol ou linha chilena.
Foram distribuídas antenas de proteção para motocicletas. “O ideal é ter duas antenas e deixarem elas sempre levantadas. Além do mais, o uso de proteção de pescoço e as luvas. Nós distribuímos 50 pares de antenas na Avenida dos Andradas, em frente a UPA-Leste. E as recomendações também são validas para os ciclistas. Quando o acidente acontece, é sempre grave. As linhas de cerol e chilena são muito cortantes. Dá para se divertir sem ferir o outro”, pontuou.
Leis municipais 7.189/1996 e 8563/2003, somadas à Lei estadual 14.349/2002, proíbem o comércio e uso do cerol.