Nas redes sociais, ostentação. Dinheiro, carros, joias, armas e camisas e bonés com as iniciais da gangue eram tema de fotos postadas na internet com o rosto descoberto. Mas, ontem, caiu a pompa de um dos grupos responsáveis pelo comando do tráfico de drogas no Morro do Papagaio, aglomerado situado entre os bairros São Pedro, Santo Antônio e Santa Lúcia, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte. Operação policial desmantelou a quadrilha e prendeu 22 dos 25 integrantes. Entre eles estão os líderes do grupo, dois irmãos que, de acordo com as investigações, tinham um padrão de vida incompatível com a profissão alegada por eles.
A Polícia Civil cumpriu a quarta etapa da Operação Elba, iniciada em fevereiro. Desde então, foram apreendidas cinco armas de fogo e um simulacro, 12 barras de maconha, uma barra de cocaína e várias pedras de crack, munições e 1,5 mil pinos de cocaína. Ao todo, foram expedidos 24 mandados de prisão e 30 de busca e apreensão. “No início do ano, o serviço de inteligência passou a monitorar cada etapa. Chegamos a um organograma grande dos alvos e conseguimos mapear quem fornecia e os donos do grupo”, conta a delegada Cristiana Angelini, da 1ª Delegacia de Polícia Sul.
Segundo a polícia, os líderes da gangue Beco do Galope seriam os irmãos Gabriel Hugo Marciano, de 22 anos, e Fábio Henrique Marciano, de 26. Eles cresceram nos negócios angariando vizinhos e adolescentes para as vendas. As apurações mostram que muitos dos que moram perto dos locais de tráfico eram obrigados pela quadrilha a esconder a droga em casa para a polícia não pegar. O homem apontado como o principal fornecedor do morro, Júlio Martins da Silva, e a mulher dele também foram presos. “Acreditamos que a prisão dele vai atrapalhar muito o fornecimento de substâncias ilícitas a outros grupos”, diz a delegada.
"Na delegacia hoje, os comentários dos presos era de que a criminalidade no morro acabou, porque estava todo mundo preso"
Delegada Cristiana Angelini, da 1ª Delegacia de Polícia Sul
RESPEITO Ela explica que uma lei reina no Morro do Papagaio: cada gangue respeita seu espaço, por isso, é baixo o número de homicídios. No ano passado, 19 pessoas de outro grupo criminoso importante, a gangue Beco dos Ratos, foram presas. “Na delegacia hoje (ontem), os comentários dos presos era de que a criminalidade no morro acabou, porque estava todo mundo preso”, relatou. O Papagaio tem se tornado estratégico para a polícia por causa de suas características: “São muitos becos, vielas e os bandidos têm visão privilegiada, em local de onde conseguem ver a movimentação da polícia e ter tempo de dispersar e jogar fora a droga”.
Na quarta fase da operação, 20 pessoas foram presas. Duas haviam sido detidas na semana passada pela Polícia Militar e, até o fechamento desta edição, duas estavam foragidas. O modo de vida dos chefes do bando chamou a atenção. Eles se intitulam serventes de pedreiro e têm casas, de acordo com a polícia, em patamar acima do que há no aglomerado, além de carro de luxo – um Hyundai Sonata, cujo valor de mercado é de cerca de R$ 100 mil.
A polícia não deu detalhes, mas acredita que a quadrilha movimentava valores consideráveis. Chamou ainda a atenção o poder bélico. Os homens estão presos no Centro de Remanejamento do Sistema Prisional (Ceresp) da Gameleira, na Região Oeste de BH, e as mulheres foram levadas ao Presídio José Abranches Gonçalves, em Ribeirão das Neves, na região metropolitana.