Os frequentadores dos parques da Serra do Curral, Aggeo Pio Sobrinho, das Mangabeiras e Roberto Burle Marx sentiram na pele os quase 230 dias de interdição devido à febre amarela. Parece muito, mas há áreas em Belo Horizonte que são consideradas parques há 20 anos, mas que até agora não foram de fato implantados ou são espaços de preservação onde a entrada de pessoas não é permitida por serem exclusivamente reservados à preservação ambiental (onde a presença do homem é vedada para que a natureza possa se reconstituir) e não a manejos de conservação (onde se integra regeneração natural, educação ambiental e atividades de impacto controlados). Nessas duas situações há 14 parques, que têm áreas somadas de 718.480 metros quadrados. Representam, aproximadamente, 7% do destinado a esse tipo de espaço público. Ao todo, a capital mineira conta com 75 parques, ocupando 10,5 milhões de metros quadrados. Muitos desses parques se encontram abandonados, servindo de alvos para o descarte irregular de entulho e lixo ou como esconderijos para usuários de drogas e criminosos, trazendo violência em vez de entretenimento para a vizinhança.
TRILHAS IRREGULARES O parque aguarda há 15 anos para ser implementado, mas não se encontra inviolado. Ao longo de suas cercas de tela metálica, a reportagem encontrou seis rombos, que são utilizados como acessos clandestinos a trilhas irregulares abertas por pessoas que não poderiam frequentar o espaço verde sem autorização. Os dois portões foram também arrebentados para o mesmo propósito. Como muitos espaços da região, o local onde se encontra o parque era ocupado por uma fazenda e devido a isso ainda se enxerga no seu interior, despontando do denso matagal, folhagens de coqueiros, bananeiras e goiabeiras.
Um dos buracos na cerca parece levar a um desses setores de pomar, mas ao se percorrer a trilha vicinal percebe-se que o coqueiro e as bananeiras estão com seus cachos intactos. O objetivo real para a invasão se encontra no solo: bitucas de cigarro, garrafas de bebida e latinhas furadas e queimadas para servir de cachimbo mostram ser aquele um espaço utilizado por usuários de crack para consumir suas drogas. Essas pessoas não apenas utilizam suas pedras de entorpecente no local, como também fazem a mata de banheiro improvisado, infestando o local de insetos e causando um forte cheiro de dejetos.
A vizinhança afirma que essa situação tem contribuído para a insegurança do bairro residencial, que já conta com praticamente todas as suas casas fortificadas por rolos de concertina, arames farpados, cercas elétricas e placas com a marca da Polícia Militar do Programa de Vizinhos Protegidos. “Temos vários casos de arrombamentos e de tentativas de invasão das casas. Sabemos que essas pessoas consumindo drogas trazem traficantes para perto de nós e como precisam também de dinheiro para sustentar o seu vício se voltam para crimes aqui na região. Era preciso que se acabasse com isso e criar um parque poderia ser a solução”, sugere um das moradoras do bairro Enseada das Garças, de 47 anos, que pede para não se identificar com medo de ser alvo dos criminosos. “A gente até evita sair de casa à noite. Quando preciso muito, peço para meu filho ou meu marido esperar no portão da garagem e esperar enquanto estaciono”, diz a mulher.
O desempregado Felipe Wellis Ramos, de 31, corre todos os dias por 10 quilômetros e tem de se sujeitar ao movimento dos carros, mau cheiro do córrego e à violência devido à ausência de um espaço adequado para a prática de seus exercícios. “Um parque seria excelente para quem quer se exercitar, como eu, mas também para crianças brincarem nas férias e passear com seus pais”, diz.