Os ataques a ônibus em Minas Gerais fizeram a primeira vítima. Um motorista de 61 anos ficou ferido depois de o coletivo dirigido por ele ser alvo de um incêndio criminoso na noite de domingo, em Contagem, na Grande Belo Horizonte. Na capital e região metropolitana, o número de ocorrências chegou a 36 desde o início do ano. De acordo com a Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp), 129 pessoas foram presas em 2018 por envolvimento nessas ações criminosas. O Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros Metropolitano (Sintram), que não cogitava reduzir a circulação de veículos nas linhas afetadas, começa a reavaliar a situação.
Os criminosos fugiram descendo a rua e entraram em um Palio, onde estaria um comparsa. O fogo foi apagado por testemunhas. Conforme a PM, com 60% do corpo queimado, e lesões aparentemente graves, o motorista foi levado para o Hospital de Pronto-Socorro João XXIII. A Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) não passou informações sobre o estado de saúde do motorista. Os bandidos não deixaram reivindicações ou bilhetes que pudessem indicar a possível motivação do ato. O caso foi encaminhado à Polícia Civil.
"Tivemos uma redução desses casos por causa das prisões feitas ao longo do tempo e daquelas advindas da operação conjunta do Ministério Público e polícias Militar e Civil"
Major Flávio Santiago, chefe da Sala de Imprensa da Polícia Militar
O chefe da sala de imprensa da PM, major Flávio Santiago, acredita que o crime esteja relacionado ao que ele chama de “espelhadores”. “É a pulverização dos casos. Os bandidos vão espelhando as ações de outros e entram em cena para, de alguma forma, levantar sua bandeira, de cunho criminoso. Às vezes nem têm reivindicação alguma”, afirma. “Mas, o que demostra uma ação de repressão qualificada pela PM esbarra num problema da legislação, que permite a essas pessoas voltarem às ruas”, lamenta.
O major afirma que as ocorrências recentes não se relacionam com a onda de ataque a ônibus promovida no primeiro semestre e que tiveram como alvo principalmente cidades do Triângulo e do Sul de Minas. “Tivemos uma redução desses casos por causa das prisões feitas ao longo do tempo e daquelas advindas da operação conjunta do Ministério Público e polícias Militar e Civil”, diz.
No início do mês, a força-tarefa divulgou ter desarticulado as lideranças de organização criminosa nacionalmente conhecida que determinaram o ateamento de fogo a ônibus e bens públicos. Como 22 criminosos já se encontravam detidos, um deles numa instituição federal, esses cabeças da organização foram reunidos para serem remanejados para uma unidade onde cumprirão Regime Disciplinar Diferenciado (RDD).
PREJUÍZOS Somente este ano, o prejuízo às empresas de ônibus é de, no mínimo, R$ 14,4 milhões. Por meio de nota, o Sintram reiterou que “repudia veementemente os ataques que têm atingido os ônibus do sistema metropolitano de transporte. Trata-se de um crime grave que está colocando em risco os colaboradores e os usuários do transporte público”. Acrescentou que a empresa responsável pela linha está prestando todo apoio necessário ao motorista e à sua família. O condutor segue internado e seu quadro de saúde é estável.
O sindicato ressaltou que “para além do ônus às empresas, a grande incidência de ocorrências de incêndios criminosos prejudica todo o sistema, incluindo os usuários do transporte, já que as empresas não têm veículos-reserva disponíveis para substituir os incendiados, o que afeta diretamente o atendimento prestado à população”. De janeiro a julho deste ano, 20 veículos do sistema metropolitano foram incendiados. O Sintram afirma que não há definição sobre a interrupção da circulação de veículos, inclusive pela preocupação de não deixar os moradores sem atendimento, mas que avalia a possibilidade.
Em BH, o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (Setra-BH) informou que não há como prever a redução da frota e que manterá a suspensão da circulação à noite somente nas regiões onde houver ataques.