Itamonte e Passa Quatro – Um paredão de montes verdejantes abraça o horizonte. Debruçada sobre essa cadeia, se ergue uma sequência de picos cinzentos ainda mais altos e encobertos por nuvens, dos quais mal se avista a silhueta rochosa. Essa visão, que reduz tudo mais no Vale do Rio Verde, parte da Bacia Hidrográfica do Rio Grande, é como a Serra Fina presta as boas-vindas aos aventureiros que chegam a Passa Quatro, no Sul de Minas, com a intenção de explorar uma das áreas mais hostis do planeta. Um gosto ainda distante das dificuldades reservadas pelos 33 quilômetros de passagens dessa sucessão de montanhas, que figura entre os expoentes das travessias brasileiras com alto grau de exigência. E foi para mostrar os contrastes desse sertão quase esquecido de Minas Gerais que a reportagem do Estado de Minas montou uma expedição para trazer imagens e relatos desse terreno remoto do estado das alterosas.
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Conheça a travessia em Minas Gerais considerada a mais dura do BrasilVentania dificulta ainda mais a travessia na Serra FinaIncêndio mata idoso de 96 anos e deixa cinco feridos em BHO início da trilha é na zona rural de Passa Quatro, atingido por péssimas estradas.
Guias e relatos de aventureiros consideram o primeiro trecho da travessia como o mais difícil, pois é quando se ganha mais elevação. Do outro lado do riacho, isso logo se traduz em realidade com a passagem ingressando em aclives tão fortes que aproximam os membros superiores do solo úmido, ao ponto de ser preciso avançar usando as mãos agarradas às raízes das árvores. A trilha beira um abismo com névoa encobrindo suas bordas, até que a floresta de mata atlântica dá lugar a uma cobertura de mato amarelado e fino.
Já no alto, o caminho pela crista dos morros ganha muitos nomes, como Passo dos Anjos ou Vale de Nuvens. Essa estreita cumeeira é que denominou a Serra Fina. Há momentos em que os exploradores se encontram em trilhas com menos de dois metros de largura, que terminam em precipícios. O destino do primeiro dia é uma muralha rochosa e íngreme, o Alto Capim Amarelo, uma montanha de 2.392 metros que figura como o 27º mais alto pico do Brasil e o 11º de Minas Gerais. Um cume que ostenta paredões escuros e barro formado por pequenas minas. Cordas com nós ao longo do comprimento foram deixadas nos trechos mais agudos, para auxiliar na subida dos montanhistas.
Depoimentos
Lições nas alturasMateus Parreiras
A primeira vez que enfrentei a Serra Fina foi em 2007, quando escalei com um grupo de amigos seu ponto culminante, a Pedra da Mina. Fomos pela chamada Trilha do Paiolinho e levamos três dias para concluir a subida. Uma amostra clara das dificuldades que a travessia completa imporia, como a vegetação densa, o clima instável e o relevo desgastante. Na época, dos três amigos que começaram, dois conseguiram assinar seus nomes na Pedra da Mina, algo que mostra como aquela cadeia de serras é hostil. A travessia foi ainda mais exigente, mas as lições de 11 anos atrás me fizeram antecipar a preparação física e racionalizar equipamentos para concluir o desafio.
Recompensa espetacular
Ramon Lisboa
Nas costas, aproximadamente 23 quilos, entre equipamentos, comida e água, que me acompanharam nesses quatro dias de travessia, uma das mais difíceis do Brasil. Assim começou a aventura na Serra Fina. De cara, começamos em uma subida pela mata fechada, que logo se abriu revelando as lindas cadeias da Serra da Mantiqueira em direção ao Alto Capim Amarelo, primeiro cume da travessia. O mais bacana desse primeiro dia é poder ver a progressão toda apenas olhando para trás.
(A LOJA ROTA PERDIDA/ROTA EXTREMA - www.rotaperdida.com.br - forneceu parte dos equipamentos usados nas expedições)
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