Dois cartões-postais fechados para restauração. Ontem, máquinas começaram a operar na Praça da Liberdade, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, espaço nobre que testemunha todas as fases arquitetônicas e históricas da cidade e que se tornou um grande palco de acontecimentos em mais de 100 anos. Já na Pampulha, foi finalmente implantado o canteiro de obras para restaurar a Igreja São Francisco de Assis, conhecida por brasileiros e estrangeiros como Igrejinha da Pampulha. Mas, mesmo cercada de tapumes, a Praça da Liberdade acabou se transformando em mais um atrativo para moradores da capital e visitantes. Os fotógrafos, então, se esbaldam, diante de uma gigantesca galeria de arte urbana com 57 murais pintados por grafiteiros. Já na Pampulha enquanto não chegam os tapumes, que devem ser instalados a partir de hoje, os visitantes não perdem tempo, aproveitando os dias claros para registrar o monumento ou fazer selfies. Agora, é esperar o fim das intervenções: em um ano para a igrejinha e até novembro para a praça mais famosa de BH.
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Como mostrou o Estado de Minas na semana passada, o painel de azulejos contando a vida de São Francisco de Assis, de autoria de Cândido Portinari (1903-1962), ficará à mostra durante todo o serviço, para que os visitantes possam fotografá-lo. Com extensão de 104 metros lineares, os tapumes vão interditar as laterais do templo, sem fechar a margem da lagoa. Assim, quem estiver do outro lado do reservatório, no Museu de Arte da Pampulha, por exemplo, poderá ver a fachada da construção concebida na década de 1940 pelo arquiteto Oscar Niemeyer (1907-2012). A montagem dos tapumes deve durar duas semanas.
“Este início é animador. Tomara que a obra continue, pois este é um lugar muito importante”, disse o bombeiro militar Wanderson Eduardo Nascimento, que passeava com a mulher, Raquel Viana Nascimento, e a filha, Sophia, de 8. “Viemos aqui exatamente para fotografar a igrejinha, pois a Sophia está fazendo um trabalho da escola sobre o patrimônio”, contou Wanderson. Raquel também ficou feliz, lembrando que o estado atual do templo é desolador.
A consultora Vanessa Salles, moradora do Bairro Castelo, também na região da Pampulha, tem o costume de levar o filho ao colégio e depois fazer uma caminhada. “Então parece que agora vai. Esta é uma referência importante para todos nós. Quando parentes de João Monlevade vêm nos visitar, fazemos questão de trazê-los aqui.” O casal Sérgio José Monteiro, policial militar, e Alvânia dos Santos Monteiro, professora, ambos aposentados, de Brasília, fez questão de visitar a Pampulha. Mas os dois acabaram frustrados. “Consegui ver, através do vidro, que tem obras muito bonitas. É um patrimônio da humanidade, pena que está deste jeito”, queixou-se Alvânia.
Com atraso de dois anos e sete meses na restauração, a igrejinha é um dos ícones da arquitetura moderna brasileira e tem tombamento municipal, estadual e federal, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. As intervenções mais do que necessárias, na avaliação dos especialistas, fazem parte dos compromissos assumidos com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), depois da entrega do título, há pouco mais de dois anos.
NO FOCO Desde a instalação dos tapumes, há 10 dias, a Praça da Liberdade, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, não para de atrair fotógrafos interessados em registrar, na câmera ou no celular, os murais que ganharam a arte dos grafiteiros. Em visita a BH no fim de semana, o casal paulista Andreza Kadima, médica, e Guilherme Sakajiri, engenheiro, deu a volta para guardar na galeria do celular todos os detalhes do espaço. “Gostamos muito de arte urbana e aqui está muito bonito”, disse Andreza, que veio a BH pela primeira vez. Guilherme espera que a restauração do espaço público se harmonize com o conjunto arquitetônico, que reúne vários estilos, como modernista e pós-moderno, neoclássico. Com atenção, olhou os trabalhos minuciosamente e perguntou: “O que será feito com esses painéis quando terminar a obra?”.
No domingo, mesmo com o sol quente, muita gente passava demoradamente para observar os detalhes dos painéis. “Tem uma diversificação grande de temas”, comentou a estudante Sabrina Couto, ao lado da amiga Bia Vasconcelos, baiana que vive na Pampulha. Com um grupo de amigos apaixonados por fotografia, moradores de BH e cidades da Região Metropolitana, Leonardo Perdigão elogiou a iniciativa. “Estes tapumes com grafites tiram aquele ar de abandono que muitas obras costumam ter.
Do lado de dentro da praça, pais empurrando carrinhos de bebê, amigos no bate-papo sentados nos bancos, contumazes corredores e adeptos da caminhada matinal ocupavam as alamedas para o lazer e o esporte. E como entraram lá? Quem responde é uma jovem, suando em bicas. “Uai, o portão está aberto”, respondeu. Com efeito, a entrada no tapume estava livre para quem quisesse.
Sobre os destinos dos painéis, a assessoria da prefeitura informou que tudo vai depender do estado de conservação da madeira, já que o material vai enfrentar sol e chuva. Quanto ao acesso à praça, é outra história: no fim de semana, o portão estava sem cadeado, mas desde ontem o acesso está fechado, sem possibilidade de trânsito a não ser do pessoal da obra.
Dois ícones
A Praça da Liberdade foi inaugurada em 1897 e tombada como patrimônio há 40 anos pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG). A revitalização completa do complexo turístico, prevista para terminar em novembro, tem à frente Prefeitura de BH, governo do estado, por meio do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha/MG), e uma empresa privada.
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