De Minas para todo o universo da fé. Centro espiritual, histórico, ambiental e paisagístico com mais de 250 anos de peregrinações e visita anual de cerca de meio milhão de pessoas, o Santuário da Serra da Piedade, em Caeté, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, quer ser patrimônio da humanidade. A iniciativa, que ganha adesões e já tem um grupo trabalhando para encaminhar o projeto à Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), foi divulgada, ontem, no topo do maciço, durante a cerimônia comemorativa dos 58 anos de oficialização de Nossa Senhora da Piedade como padroeira do estado. “Minas tem quatro locais já reconhecidos pela Unesco e apoiamos essa boa ideia, pois aqui temos a magnífica arquitetura divina”, afirmou o arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira de Azevedo.
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Acompanhando o arcebispo na procissão até a basílica, o padre Fernando César lembrou que a comemoração dos 58 anos é uma referência para todo o país, de forma especial nesses tempos de crise, pelo respeito, religiosidade e dignidade à padroeira e ao território sagrado. Ao lado, o pró-reitor acrescentou que se trata de um “chamado” para que as pessoas tomem consciência da realidade em que estão vivendo e citou também o momento de crise. “É um exemplo de fé que Minas oferece ao país”, afirmou.
PROJETO O prefeito de Caeté, Lucas Coelho Ferreira (PTB) é um dos articuladores do projeto para tornar a Serra da Piedade um patrimônio da humanidade, como já ocorreu, em Minas, com o Centro Histórico de Ouro Preto e o Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas, ambos na Região Central, o Centro Histórico de Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, e o conjunto moderno da Pampulha, que conquistou os títulos de Patrimônio Cultural e Paisagem Cultural da Humanidade, há pouco mais de dois anos.
“A Serra da Piedade, sem dúvida, é o ponto mais bonito de Minas e um dos mais belos do país. Além de ser um lugar de espiritualidade, atrai o turismo, recebendo cerca de 500 mil pessoas por ano. Para nós, de Caeté, é muito bom, pois com todos os benefícios feitos aqui, desde que dom Walmor assumiu a arquidiocese, a região é conhecida no mundo inteiro”, disse o prefeito. Ele informou que vem tratando, inclusive com políticos, para que a ideia se concretize.
A revitalização da Praça Dom Cabral ficou em R$ 150 mil, pagos pela prefeitura com autorização do Legislativo municipal. “Nós ainda fazemos pouco por um lugar que é chamado de magnífica arquitetura divina”, explicou o chefe do Exercutivo.
FESTA DA FÉ Durante a procissão até a ermida, um dos momentos mais emocionantes foi ver os andores de Nossa Senhora da Piedade e São José carregados pelos operários que trabalharam na revitalização da Praça Dom Cabral. Eles estavam com seus uniformes e capacetes e, à frente, seguiam as freiras da Congregação das Irmãs Auxiliares de Nossa Senhora da Piedade (Ciansp), que atuam no santuário.
Quando as imagens chegaram à entrada da ermida, muitos fiéis fizeram seus pedidos e aproveitaram para tirar fotos. “A primeira vez que vim à Serra da Piedade foi em 1955, no meu batizado. Desde então, estou sempre aqui”, contou o agrimensor Valdir Bartolomeu Rodrigues, de 63 anos, acompanhado da mulher Geralda Ferreira Lima e do neto Pedro, de 4, moradores do Bairro São Bernardo, na Região da Pampulha, em BH. Carregando o neto, Geralda fez questão de tocar a imagem e pedir muitas graças e paz para o mundo.
Memória
A história do Santuário Nossa Senhora da Piedade começa no século 18, com o relato de um milagre: a Virgem Maria teria aparecido para duas jovens no alto da serra. A partir desse dia, o fato se espalha rapidamente. O episódio toca o coração do português Antônio da Silva Bracarena, então na colônia para ganhar dinheiro. Mas ele se converte e decide dedicar sua vida à construção de uma capela no lugar onde ocorrera o milagre. O singelo templo dedicado a Nossa Senhora da Piedade começa a ser erguido em 1767 e, mais tarde, ganha a imagem esculpida por um jovem de Ouro Preto, depois reconhecido como o mestre do Barroco mineiro Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. No ano passado, foram celebrados os 250 anos de peregrinação.
Consagração da padroeira
De acordo com a Arquidiocese de Belo Horizonte, a consagração de Minas Gerais a Nossa Senhora da Piedade ocorreu em 31 de julho de 1960, durante uma grande festa na Praça da Liberdade, após o Papa João XXIII, hoje santo da Igreja, reconhecer que Maria, com o título de Senhora da Piedade, é a padroeira do estado. Com o reconhecimento, o pontífice acolheu um pedido dos bispos mineiros, de modo especial do cardeal dom Carlos Carmelo de Vasconcellos Motta. O religioso, conhecido como Cardeal Motta, foi arcebispo de São Paulo e Aparecida (SP), mas cresceu no alto da Serra da Piedade, acompanhando de perto as grandes peregrinações do povo mineiro ao local (foto). Tombada pelo estado, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e pelo município de Caeté, a Serra da Piedade é ponto de partida e chegada do Caminho Religioso da Estrada Real (Crer), que liga o santuário da padroeira de Minas a Aparecida (SP), onde está a imagem da protetora do Brasil, Nossa Senhora da Conceição Aparecida.
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