A síndrome respiratória aguda grave (SRAG) provocada pelo vírus influenza já tirou a vida de 64 pessoas em Minas Gerais neste ano. O número é 28% maior do que o registrado durante toda a temporada de 2017, quando 50 pessoas morreram em decorrência da gripe. Entre as vítimas deste ano, 14, ou 21%, não estavam inseridas no grupo de risco – composto por crianças menores de 5 anos de idade, gestantes, adultos com 60 anos ou mais e portadores de doenças crônicas – e que tem acesso gratuitamente à vacina no Sistema Único de Saúde (SUS). Entre esses pacientes, 28,6% morreram apesar de terem recebido antivirais nas primeiras 48 horas da doença, período em que as chances de sucesso de tratamento são maiores. Para especialistas, entretanto, o que mais preocupa é que a maioria (71,4%) demorou a buscar atendimento médico ou nem chegou a ser tratada – nesse último caso o índice é em torno de 28% –, o que aponta para uma desmobilização da população e da área médica em relação à gripe. No caso dos que tinham fator de risco (50), 8% morreram apesar de receber o tratamento nas primeiras 48 horas e em torno de 22% não foram tratados. Como a patologia é viral, frisam especialistas, todos os grupos estão sujeitos a complicações.
O balanço epidemiológico da gripe mostra que já são 252 casos de SRAG provocados pelo vírus Influenza em 2018, nos quais estão inseridos os 64 óbitos. Especialistas procurados pela reportagem para falar sobre as mortes de pacientes fora do grupo de risco informaram que cada caso tem que ser avaliado individualmente para determinar os motivos dos óbitos. Mesmo assim, esclareceram que o vírus pode matar pessoas de todos os grupos. “A patologia infecciosa acaba atingido mais as pessoas com sistema imunológico ruim, como idosos ou as que têm outras doenças. Mas podem atingir a todos”, disse Dirceu Grego, infectologista do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Uma das preocupações é com a demora pela busca de atendimento médico, o que pode complicar ainda mais os sintomas e levar à morte. Entre os 64 pacientes que morreram, apenas oito fizeram uso de antivirais dentro das 48 horas recomendáveis entre os primeiros sintomas e o início do tratamento. Destas, quatro eram do grupo sem fator de risco. “As pessoas que são mais suscetíveis e estão no grupo de risco têm mais cuidado. A gripe comum é autolimitada. As pessoas costumam esperar passar. Quando tem maior risco, ficam mais atentas”, comenta Dirceu Grego.
Já o infectologista Estevão Urbano, presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, acredita que a desmobilização da população intensifica as complicações. “Quando chegou o H1N1 anos atrás, a pessoa tossia e já procurava tratamento. Houve uma desmobilização. Com o tempo vamos nos acostumando e até a classe médica vai se desmobilizando”, afirma.
EM ALTA Os casos de SRAG provocados pelo vírus Influenza vêm avançando em Minas Gerais e já causaram 28% mais mortes em 2018 do que as registradas em todo o ano passado. A maioria dos óbitos neste ano foi provocada pelo vírus Influenza A, em casos nos quais não foi possível definir o subtipo (26). Em seguida vêm o A/H1N1, com 22 óbitos, o A/H3N2, com 13, e o Influenza B, com três. Belo Horizonte (três) e Uberlândia (quatro), no Triângulo, são as cidades com o maior número de mortes.
Chama a atenção o avanço do H1N1. No ano passado, apenas uma pessoa perdeu a vida depois de ser infectada pelo vírus. Neste ano, já são 22 óbitos. Já o H3N2, que infectou milhares de pessoas nos Estados Unidos no último inverno, provocou menos mortes. O Número caiu de 33 em 2017 para 13 este ano.
A Campanha de Vacinação contra a gripe atingiu a meta de 95% de imunização para o público-alvo. Entretanto, os índices para crianças e gestantes, que fazem parte do contingente prioritário, ainda estão abaixo do necessário. Apenas 84,15% das grávidas estão protegidas, enquanto 85,08% das crianças receberam o imunizante. Segundo o subsecretário de Vigilância e Proteção à Saúde da SES/MG, Rodrigo Said, os centros de saúde permanecem aplicando a vacina, apesar do término da campanha. “Nossa recomendação é que as unidades de saúde, preferencialmente, apliquem as vacinas em estoque nas crianças e gestantes. No caso de sobra de vacina, ela pode ser utilizada conforme a orientação de cada secretaria municipal de saúde”, ressalta. (Com Gabriel Ronan)