“Foi apenas um susto!” Essa foi a expressão mais ouvida entre moradores de Congonhas, na Região Central do estado, que residem abaixo da barragem de rejeito de minério de Casa de Pedra, da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), depois de superada a tensão provocada pelo toque de uma das sirenes de aviso de rompimento do reservatório na tarde de ontem. O toque, creditado a uma falha, acabou por revelar a inércia das pessoas, que ficaram em suas casas na área de risco, e indicar que elas continuam despreparadas para uma eventual evacuação. No caso de vazamento dos resíduos minerais, a comunidade estaria sujeita a impactos maiores que os registrados no rompimento do reservatório de Fundão, em novembro de 2015, em Mariana, na mesma região, que deixou 19 mortos e centenas de desabrigados.
Há suspeita de que a falha tenha sido provocada por ato de vandalismo. Boletim de ocorrência policial por danos materiais foi registrado por funcionário da mineradora. O promotor de Justiça Vinícius Alcântara Galvão, que desde 2013 acompanha a situação de estabilidade da barragem e as medidas de segurança no caso de um eventual rompimento, adiantou que amanhã vai oficiar a mineradora para que explique o ocorrido. “Queremos explicações e vamos acionar a perícia técnica do Ministério Público. O sistema é para dar segurança e não deixar as pessoas apreensivas”, afirmou. O promotor destacou que vai solicitar à empresa que promova a integração contínua dos moradores com o plano emergencial, para que a proposta tenha eficácia.
O incidente de ontem ocorreu uma semana depois de uma simulação de acidente no reservatório realizada pela CSN, atendendo ao Plano de Emergência de Barragens, exigido pelo Departamento Nacional de Produção Mineral.
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Ronan Guedes, que mora no residencial, foi uma das pessoas que demonstraram certa tranquilidade nas discussões nos grupos de WhatsApp da comunidade local. “Teve muita gente em pânico, tentando saber se deixava sua casa ou não. Mas de certa forma, entendo que a CSN ainda não disse que o sistema está pronto, funcionando 100%. Isso me fez pensar que não seria uma situação real. A verdade é que se a barragem romper agora, com as sirenes tocando, muitos morreríamos, pois ainda não há uma expectativa de que se trata de um alerta real”.
COMUNICAÇÃO FALHA
Já o diretor de Meio Ambiente da União das Associações Comunitárias de Congonhas, Sandoval Souza Pinto, considerou que o alarme falso evidenciou a possibilidade de uma tragédia ainda maior que a de Mariana. “Quando a sirene tocou, as pessoas ficaram assustadas, mas sem reações efetivas de evacuação.
De acordo com José Pedro Miranda, integrante da Defesa Civil Municipal, que apurou o ocorrido e se encarregou de tranquilizar a comunidade, a sirene foi acionada por volta das 13h15. “Imediatamente entramos em contato com a CSN. Nos informaram que a sirene foi acionada involuntariamente, sem qualquer problema de segurança na barragem. Fomos até a comunidade para tranquilizar as pessoas”.
Horas depois do alarme falso, a mineradora distribuiu comunicado na cidade esclarecendo que estava apurando as causas do acionamento da sirene de emergência instalada na barragem Casa de Pedra. “A companhia reforça que não há qualquer tipo de problema com a barragem Casa de Pedra e a população de Congonhas pode ficar tranquila.” A empresa foi procurada pela reportagem do Estado de Minas, mas não se manifestou sobre o ocorrido nem confirmou um suposto ato de vandalismo, ou sabotagem, que teria levado ao acionamento do alarme..