Uma das principais rodovias do Brasil, a BR-381, via importante para fazer a conexão entre São Paulo e o Nordeste do país passando pelo interior do território nacional, engloba atualmente três realidades completamente diferentes. Seus 787 quilômetros em Minas Gerais se dividem em 313 de pistas simples e 474 de rodovia duplicada, além de pontos dentro do trecho em que não há barreira física entre os sentidos e estão em obras, que se arrastam para a tão sonhada duplicação. Apesar das diferentes características, uma coisa é comum a todos segmentos dessa estrada: ainda que por meios diferentes, a morte passa pelos três. Enquanto o excesso de velocidade é o principal vilão da parte duplicada entre Belo Horizonte e São Paulo, provocando capotamentos, saídas de pista, colisões em objetos fixos e uma série de outros acidentes, no percurso de 313km entre BH e Governador Valadares, no Vale do Rio Doce, o maior perigo é representado pela colisão frontal. No meio desse caminho ainda entram os obstáculos impostos pelas obras de duplicação, como estreitamentos de pista e falta de sinalização, que potencializam os efeitos da imprudência.
O que mais chama a atenção da BR-381 é que ela é, ao mesmo tempo, tratada como rodovia da morte e melhor estrada de Minas Gerais. A primeira caracterização vale para o caminho entre a capital mineira e Governador Valadares, devido ao histórico de tragédias, especialmente nos 110 quilômetros até João Monlevade, extremamente sinuosos. Já a segunda leva em conta a pista dupla, com duas faixas de circulação (às vezes até três) para cada sentido, viadutos para possibilitar os acessos e acostamento em todo o trecho. Porém, a diferença nos adjetivos atribuídos a cada segmento não se mantém quando o assunto é a mortalidade.
DESCONTROLE No aspecto controle de velocidade, outra característica dessa rodovia tão importante para Minas Gerais chama a atenção.
Em nota, a Autopista Fernão Dias, responsável pelo trecho duplicado da BR-381, admite que fez estudos para viabilizar a instalação de novos radares na rodovia, mas não informou o número previsto de equipamentos. Os estudos foram apresentados à ANTT, que analisa o documento. A Autopista ainda sustenta que já considerando os primeiros sete meses de 2018, a concessionária registra redução de acidentes e mortos na ordem de 19,3% e 20,2% respectivamente quando os números deste ano são comparados com o mesmo período desde 2015. A empresa pontua que esse resultado foi obtido por uma série de ações de construção de 88km de faixas adicionais, instalação de 63 passarelas, entre outras.
Os caminhos da dor
Sem duplicação para acabar com as colisões frontais em toda a extensão entre Belo Horizonte e Governador Valadares, e com poucos radares para frear os abusos no caminho para São Paulo, a morte é frequente na BR-381, seja na pista dupla seja na simples. Na terça-feira, o motorista de caminhão Guilherme de Freitas, de 39 anos, ia de Itaúna para Itabira, na Região Central de Minas, quando deu de cara com um carro em sua mão de direção na altura do Km 438, em Sabará, na Grande BH. “Eu estava na faixa da esquerda ultrapassando uma carreta que seguia na terceira faixa e veio esse carro. Ele trombou na carreta, rodou e bateu com o lado dos passageiros na frente do meu caminhão. Quando vi que os três ocupantes estavam mortos fiquei impressionado”, conta. “Acredito que ele passou mal, porque veio de uma vez, em alta velocidade, na transversal, sem esboçar nenhuma mexida no volante ou pisada no freio. Essa rodovia é muito complicada, tinha que ter a duplicação para pôr fim a batidas desse jeito”, afirma.
Do quintal de sua casa na comunidade Caminho dos Emboabas, em Caeté, na Grande BH, o motorista de ônibus Wellinton Aparecido da Cruz, de 36, assiste a outra linha de problemas da BR-381 em seu trecho de pistas simples: as tragédias e todo o transtorno causados pelas obras de duplicação na região. Ele se lembra do desastre que matou cinco estudantes em 2009 em Sabará e deixou outros 13 feridos em uma curva no Km 435. Um caminhão invadiu a contramão e pegou a van onde estavam os universitários. A curva ganhou cruzes simbolizando os mortos.
EXCESSO Na Rodovia Fernão Dias, trecho duplicado da BR-381, praticamente não há registros de colisões frontais justamente pelo fato de ter barreiras físicas para separar os fluxos opostos.
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