Advogada, cabeleireira, os crimes em Minas e no Paraná evidenciam que a violência contra a mulher não faz distinção de profissão ou extrato social. E vem crescendo, apesar do cerco da legislação. Dados do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) mostram que o número de denúncias e representações recebidas vem aumentando nos últimos anos. Somente no primeiro semestre de 2018 foram abertos 2.360 procedimentos investigatórios por esse tipo de violência em Minas, o que representa média de 13 por dia.
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Embora os dados apontem maior disposição das vítimas para denunciar, conscientizar mulheres que são vítimas de agressões em relacionamentos abusivos ainda é uma tarefa desafiadora. “O desafio é, individualmente, cada mulher enxergar a violência, para se fortalecer e romper com esse quadro”, afirma a promotora Patrícia Habkouk, da Promotoria de Justiça Especializada no Combate à Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher de BH. Assim como ela, outras autoridades ligadas ao assunto advertem: é preciso quebrar o silêncio. E quanto antes, melhor.
Apelos contra o silêncio
O aumento das denúncias de violência contra a mulher em Minas revela o alcance desse tipo de crime, mas também a maior disposição das vítimas de procurar pelos serviços de ajuda.
A policial também chama a atenção para o fato de que as denúncias não precisam partir necessariamente das agredidas, embora no caso da proteção prevista na Lei Maria da Penha essa participação seja necessária. “Em briga de marido e mulher a Justiça, a polícia, a sociedade têm que meter a colher, sim. Casos de lesão corporal, independentemente da representação da vítima, podem ser denunciados pelo telefone 180. Em caso de lesão, podemos instaurar o inquérito de imediato. Porém, a medida protetiva da Maria da Penha precisa da vítima”, explicou.
Procedimentos investigatórios instaurados em Minas culminaram no primeiro semestre deste ano em 3.797 medidas protetivas.
Os últimos dados divulgados pela pasta em relação a feminicídio e tentativa registram a mesma tendência de aumento. O número saltou de 335 em 2015 para 433 em 2017, alta de 29%. Além disso, os assassinatos de mulheres aumentaram nos últimos dois anos, passando de 353 em 2016 para 376 no ano passado, alta de 6,1%, enquanto os crimes de homicídio em geral recuaram em 5,5%, o que indica que a proporção de mulheres executadas vem crescendo no cálculo geral de assassinatos em Minas.
Para a Promotora Patrícia Habkouk, o trabalho integrado é a melhor maneira de combater essa violência. Por isso, há 12 anos, foi criada a Rede de Enfrentamento à Violência contra a Mulher de Minas Gerais – conceito que diz respeito à atuação articulada entre as instituições e serviços oficiais, não oficiais e a comunidade. “A ideia é a concepção de trabalho articulado, órgãos governamentais e não governamentais juntos para pensar em estratégias, em políticas e serviços especializados”, disse.
“No estado todo, a Polícia Civil é a principal porta de entrada para o procedimento de medidas protetivas. Belo Horizonte tem o plantão 24 horas, é o único município do estado com esse serviço. Sempre temos pensado em estratégias de diminuir o tempo que a mulher gasta para conseguir a medida protetiva e encurtar esse caminho.
Cabeleireira de Minas implorou para viver
A rede de proteção, porém, não foi capaz de salvar a vida da cabeleireira Tatiane Rodrigues da Silva, de 30 anos, esfaqueada na madrugada de ontem em Governador Valadares, no Vale do Rio Doce. O acusado do crime é o ex-namorado dela, Hamilton Ezequiel da Silva, de 33, que estava inconformado com o término do relacionamento. Ele já havia ficado preso por 60 dias por agredir a mulher.
O atual namorado de Tatiane, de 25, também foi esfaqueado pelo assassino, que fugiu e ainda é procurado. Segundo o relato do rapaz, por volta de 1h o casal voltava para casa quando foi surpreendido pelo criminoso, que estava escondido no quintal. Ele contou que a mulher suplicou para não ser morta, mas foi esfaqueada sete vezes pelo agressor.
Violência à flor da pele
Os últimos casos de feminicídio em Minas
» 24/7 – A advogada Monalisa Camila da Silva, de 36 anos, foi morta dentro do escritório de advocacia onde trabalhava. O acusado é o ex-companheiro dela, Flávio Santos da Silva, de 37, que alegou ciúmes por ela ter ido a uma festa dias antes. Os dois tiveram um relacionamento de aproximadamente 15 anos, e estavam separados havia cerca de um mês. Em conversa com militares, ele teria informado que havia combinado de se encontrar com a vítima, com quem começou a discutir. Segundo a versão dos PMs, o homem teria se alterado e desferido vários socos no rosto de Monalisa, que caiu, desacordada. Ele então teria pegado uma faca e atingido a mulher no pescoço e no peito.
» 15/5 – O policial civil Paulo José de Oliveira entrou em uma casa de Santa Luzia, matou uma mulher, duas filhas dela e se matou em seguida.
» 16/5 - Ludmila Leandra Braga, de 27 anos, foi assassinada dentro da Câmara de Contagem, na Grande BH. O autor do crime foi o ex-companheiro dela, o policial civil Cláudio Roberto Weichert Passos, de 42. De acordo com a polícia, na manhã daquele dia ele entrou na sede do Legislativo municipal passando por todos os procedimentos de segurança, que envolviam seu cadastro e fotografia na recepção. Porém, o prédio não dispõe de detector de metais para prevenir a entrada de pessoas armadas. A vítima estava abrindo o gabinete do vereador Jerson Braga Maia, conhecido como Caxicó, quando foi atacada pelo assassino, com quem tinha rompido o relacionamento cerca de 30 dias antes. Cláudio deu quatro tiros na mulher, depois atirou contra si mesmo. Ele morreu dias depois.
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