A emoção por rever a imagem da padroeira restaurada e a alegria de reabrir, após quatro anos de obras, a capela de Nossa Senhora da Boa Viagem na igreja homônima, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, marcaram a celebração da data dedicada à protetora da capital mineira. Uma multidão saiu em procissão da Praça Rio Branco, no Centro, até o templo tradicional, em cuja lateral o arcebispo metropolitano, dom Walmor Oliveira de Azevedo, celebrou uma missa histórica para os fiéis e benzeu a imagem, antes de sua volta ao altar.
Fiéis acostumados a participar da celebração e novatos foram unânimes: capela e imagem ficaram lindas. “Venho à procissão há mais de 20 anos, sempre com minhas amigas. Desta vez é ainda mais especial, porque, depois da espera, ver (a imagem) Nossa Senhora da Boa Viagem restaurada é maravilhoso pra mim. É linda demais”, disse Maria José Dias, de 72 anos, frequentadora da Paróquia São Domingos, no Bairro Ribeiro de Abreu, na Região Norte da cidade.“É a primeira vez que venho. Passo aqui de ônibus com minha tia e sempre ficamos curiosas para ver a igreja. Agora que estou aqui, fico muito emocionada porque ela é linda”, comentou Wilkimara Aparecida Silva, de 25, natural de Bom Sucesso, na Região Centro-Oeste, e moradora de Belo Horizonte há cinco anos.
A capela dedicada à Nossa Senhora da Boa Viagem foi reaberta depois de quase quatro anos em obras. Durante a execução do projeto, especialistas removeram sete camadas de tinta e descobriram os tons originais do interior do santuário, inaugurado em 1922 – verde, amarelo, azul e branco – referência à bandeira nacional.
As obras integram os trabalhos de restauro do Santuário Arquidiocesano de Adoração Perpétua – Paróquia Nossa Senhora da Boa Viagem, que estão sendo feitos em etapas. As intervenções começaram em 2013, com reforma do telhado. Em seguida, veio a parte de infraestrutura, com as obras na rede elétrica, iluminação, sonorização e segurança.
A igreja em estilo neogótico não está muito longe de completar seu centenário de inauguração, que ocorrerá em 8 dezembro de 2023. Até agora, foram investidos R$ 700 mil nas obras, recursos provenientes da ajuda da comunidade, de atividades da paróquia e de emenda parlamentar.
Com tombamento municipal e estadual, além de elementos sob proteção federal e que pertenceram ao templo antigo – incluindo a imagem, altar, pia, chafariz e outras peças do século 18, as obras na igreja ainda não foram concluídas. A reforma ainda vai contemplar a nave, termo referente à ala central de uma igreja, e outros elementos arquitetônicos.
DESCOBERTAS O restauro da imagem de Nossa Senhora da Boa Viagem, que chegou ao Brasil em 1714, pelas mãos de Francisco Homem Del Rey e tem 80 centímetros de altura, 40cm de largura e 26cm de profundidade, demorou cerca de um ano. Foram removidas quatro camadas de tinta sobre a peça sacra policromada e esculpida em madeira de lei.
Cada dia de trabalho reservava uma nova descoberta. Dois dedos da mão esquerda da peça se quebraram e foram substituídos por resina epóxi em vez de madeira. O nariz de um anjo querubim da base, que estava quebrado, também estava refeito
Sob as camadas de tinta, descobriu-se um azul mais claro, provavelmente usado para pintar o manto de estrelas na inauguração da igreja gótica, em 1922, que foi recuperado. Havia ainda vestígios da pintura original, insuficientes, no entanto, para que fosse restaurada.
Ato de fé nas alturas
Nos caminhos tortuosos da serra que levam à Basílica Nossa Senhora da Piedade, em Caeté, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, rostos jovens seguiam adiante. Bem ao estilo dos mais novos, a fé se manifestava por sorrisos e na pura alegria, quase em festa. Também pudera. Cerca de 10 mil pessoas peregrinaram ao santuário, em comemoração ao Dia de Assunção de Nossa Senhora.
Na 22ª peregrinação da juventude ao Santuário Basílica Nossa Senhora da Piedade, os jovens vivenciaram momentos de adoração à eucaristia, oração do terço e confissões, com padres da Arquidiocese de Belo Horizonte. Pela manhã, a missa, diante da Basílica da Piedade – Ermida da Padroeira de Minas Gerais –, no ponto mais alto da serra, estava repleta. À tarde, a programação contemplou ainda a oração do novenário e apresentações artísticas dos jovens.
O bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte, dom Vicente Ferreira, que celebrou missa durante a peregrinação, lembrou que Maria é para os católicos um exemplo da humanidade redimida na glória de Deus. “Nós também nos espelhamos nesse caminho de seguimento de Jesus. Por isso, esse evento de peregrinação da juventude à basílica, para celebrar a dignidade da vida, o seguimento de Jesus Cristo e valorizar, hoje, na história nossa, a importância da nossa juventude na vida de cada um de nós”, afirmou dom Vicente.
Padre Carlos Antônio da Silva, pró-reitor do Santuário Basílica Nossa Senhora da Piedade, disse que essa é uma das mais belas peregrinações ao santuário. “O jovem é alegria e apresenta um jeito novo de ser a Igreja, de viver a cidadania com responsabilidade, promovendo a vida, dom e graça de Deus.”
No caminho, as histórias de fé se multiplicavam. A estudante Aline Amorim rezava o terço e contemplava a natureza enquanto subia ao ponto mais alto da Serra da Piedade. “Aprendi a peregrinar ao santuário com a minha mãe, que vinha aqui acompanhada de minha avó. Também a minha bisavó era devota de Nossa Senhora da Piedade”, contou. A jovem Wiliana Vitória Pitangui de Souza acordou às 5h e saiu do bairro São Bernardo, Região Norte de BH, acompanhada da mãe e dos amigos. “É um momento especial, bem animado, muito bom. A peregrinação aproxima ainda mais o jovem da Igreja”, disse.
Celebração dupla
Os católicos comemoram o dia 15 de agosto por dois motivos diferentes na capital mineira. Considerada a protetora dos viajantes no Brasil há mais de 300 anos, desde 1932 Nossa Senhora da Boa Viagem também é a padroeira de Belo Horizonte, título oficializado pelo Papa Pio XII (1876-1958) a pedido do cardeal dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Mota e comemorado ontem no templo que leva o nome da protetora da cidade. No mesmo dia, a Igreja Católica também celebra a Assunção de Nossa Senhora, evento que significa a elevação ao céu do corpo da Virgem Maria ao fim de sua vida terrestre. O dogma da Assunção da Virgem Maria foi proclamado, solenemente, pelo Papa Pio XII, em 1º de novembro de 1950.