Jornal Estado de Minas

Pampulha consumirá mais R$ 33 milhões, mas nata verde e mau cheiro devem continuar

Visitantes como a advogada Flávia Diniz e a sogra, Maria Freitas, se surpreendem com o aspecto poluído do espelho d'


Porém, a continuidade do processo, interrompido em março deste ano, ainda não tem data. Como mostrou o Estado de Minas em maio, a prefeitura já decidiu manter o sistema de tratamento da qualidade da água, considerado um sucesso pela administração. Mas ainda está definindo quais serão os critérios do novo contrato, e só depois disso será possível saber quanto o programa vai custar aos cofres públicos.


A Secretaria Municipal de Obras informa que ainda está sendo analisado internamente o processo de contratação de empresa para dar continuidade aos trabalhos. “No entanto, é fundamental que se tenha a compreensão de que, mesmo com o enquadramento da água da Lagoa da Pampulha em classe 3, ela continuará sujeita a variações em sua qualidade, pois se trata de um lago urbano, que sempre será afetado por fontes poluidoras (poluição difusa em função da lavagem do solo pelas chuvas, eventuais vazamentos no sistema de esgotamento sanitário, lançamento de efluentes domésticos e/ou industriais clandestinos) que podem superar a sua capacidade de autodepuração”, ressalta a pasta.


A secretaria sustenta que o diferencial alcançado durante os serviços de recuperação é que a lagoa se tornou mais resiliente, “respondendo em curto prazo às agressões provocadas pelo aporte de poluentes que provocam alterações na qualidade de sua água, estando com a sua capacidade de autodepuração aumentada em função da ação dos remediadores aplicados durante o tratamento”.



DESCONFIANÇA No feriado municipal de quarta-feira, a orla da Pampulha estava lotada de pessoas correndo, caminhando, pedalando ou simplesmente contemplando o espelho d’água. Famílias inteiras aproveitaram o dia livre para passear e praticar esporte. Mas crianças ou adultos tinham, invariavelmente, a atenção desviada para a mancha verde que tomava conta do ponto próximo à Igreja São Francisco de Assis.

Os comentários comuns remetiam ao aspecto desolador e ao mau cheiro quase insuportável que pairava no ar.


A advogada Flávia Diniz, de 37 anos, moradora do Bairro Serrano, na Região da Pampulha, caminhava com a sogra, Maria Freitas, de 81. “Tenho a impressão de que o problema está aumentando, pois antes o mau cheiro se concentrava perto do Parque Ecológico. É uma pena, pois a lagoa estava muito bonita”, disse.
O casal Shirley Iara da Silva Veiga, de 50, e Jardel Moia Monteiro, de 34, estava revoltado com o que via. Ao passar pelo local, o gestor em segurança disparou, atônito: “É esse nosso cartão-postal – podre”. Para a enfermeira, o aspecto colocava em xeque os investimentos anunciados em despoluição. Os dois duvidam da classificação de nível 3 que já foi atribuída à lagoa. “É uma vergonha isso”, disse Jardel. Para Shirley, a esperança acaba ficando nas mãos da própria natureza: “No período das águas, pelo menos, a chuva esconde e escoa essa sujeira”.

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