Embora a mobilização em torno da vacinação de crianças contra o sarampo e a poliomielite tenha conseguido ampliar a cobertura em Belo Horizonte e em Minas Gerais, o percentual de alcance da imunização ficou muito abaixo do que o Ministério da Saúde pretendia alcançar durante o Dia D da Campanha Nacional de Vacinação para as duas doenças. A expectativa era de que o sábado de postos de saúde abertos pudesse elevar a imunização a 60% do público-alvo (crianças menores de 5 anos), o que ainda está distante tanto na capital quanto no estado. Segundo a Prefeitura de BH, na capital 33,13% das crianças nessa faixa estão protegidas contra a paralisia infantil e 32,82% contra o sarampo. No estado, os números alcançam 28,40% de proteção contra a pólio e 28,58% contra o sarampo. A campanha vai até 31 de agosto e o objetivo é chegar a 95% de cobertura dos pequenos de 1 ano a 4 anos, 11 meses e 29 dias. Entre os desafios para avanço nesses números estão o combate às notícias falsas e à falsa sensação de que a população já está protegida contra doenças, devido ao sucesso de campanhas de vacinação de anos anteriores.
“Quanto mais desprotegida estiver nossa população, maior o risco de se contaminar com os vírus. Queremos que a população tenha essa consciência e precisamos que venha tomar a vacina. Só dessa forma vamos ter proteção”, completou o ministro. Secretário de Saúde de BH, Jackson Machado Pinto destacou que a campanha tem que ser contínua. “Precisamos que as pessoas estejam convencidas a trazer seus filhos para se vacinar. É isso que vai promover maior circulação dos anticorpos pela população e vai impedir que as doenças cheguem”, afirmou. A diretora de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, Janaína Fonseca Almeida, ressaltou que a campanha continua até 31 de agosto. “Então, quem não pôde comparecer ao Dia D ainda tem oportunidade de levar o filho para vacinar”, convocou.
Baixa procura
Em termos de procura dos postos de BH, o movimento ontem começou fraco e só aumentou depois das 10h. No Bairro Serra, na Região Centro-Sul, o Centro de Saúde Nossa Senhora de Fátima tinha recebido, até as 9h, apenas quatro crianças. No Leopoldo Crisóstomo, no Bairro União, Região Nordeste, a procura também ficou abaixo das expectativas, segundo funcionários, enquanto no Carlos Chagas, no Bairro Funcionários, Centro-Sul da capital, havia fila com 15 pessoas por volta das 11h. Um atendente explicou que, por ser mais central e com acesso de vários bairros, a unidade recebe maior procura.
Moradora do Bairro Serra, a advogada Lílian Inês Neves Cabral levou o filho Caio, de 3 anos, para tomar as doses. “Ele já está vacinado, mas a pediatra recomendou o reforço. A prevenção é fundamental para evitar uma doença tão perigosa quanto o sarampo”, disse. No dia do aniversário de 5 anos, Maria Eduarda chegou com mãe, a coordenadora educacional Renata Medeiros Ribeiro, e o irmão Matheus, de 8. “Ela vai receber a tríplice viral, que imuniza contra o sarampo, a rubéola e caxumba, e a gotinha contra a poliomielite. Prevenção é tudo”, afirmou Renata.
Igualmente precavida, a auxiliar financeira Camila Cruz Silva levou Maria Cecília, de 4, para tomar a vacina contra o sarampo. Já a dona de casa Rosemeire Aparecida da Silva chegou por volta das 9h com as filhas Ana Luiza, de 9, e Maria Cecília, de 5. Cuidadosa, contou que levou a caçula para se vacinar contra o sarampo e procurou se informar se a mais velha precisaria de algum reforço.
PREVENÇÃO No Centro de Saúde Leopoldo Crisóstomo, no Bairro União, as enfermeiras tiraram as dúvidas dos pais, destacando que deveriam levar o cartão de vacinação e um documento de identidade. Acompanhado da avó Nanci Pereira, moradora do bairro, Miguel Antônio, de 4, fez questão de mostrar o braço com o algodão colocado após a “picadinha” e garantiu que “não doeu nada”. A dentista Cidea Carvalhaes levou a filha Isadora, de 3, e ressaltou a importância da prevenção. Na sala de vacinação, o menino Benício, de 4, também não se incomodou com a agulha. “Ele é ótimo para tomar vacina”, comentou a mãe, Estefânia Nogueira, educadora, que foi ao centro de saúde com o marido, Eros Moraes, e a filha Beatriz, de 9. “A criança não pode ficar sem vacina, é essencial para prevenir doenças”, acrescentou o pai.
Ministro acena com recursos para o Sofia
Mais recursos podem chegar ao Hospital Sofia Feldman, unidade de saúde no Bairro Tupi, Norte de Belo Horizonte, na tentativa de tirar da penúria a maternidade, que é referência em Minas Gerais. A sinalização partiu do ministro da Saúde, Gilberto Occhi, que ontem esteve na capital mineira para promover a campanha de vacinação contra o sarampo e a poliomielite. “Estamos discutindo com a Prefeitura de Belo Horizonte e vamos fazer uma reunião na próxima semana para estudar em conjunto como podemos ter atendimento pleno no hospital. Estamos discutindo uma questão de aporte maior do governo federal para o funcionamento. Estamos dispostos a aumentar o repasse de recursos federais”, afirmou.
Na última quinta-feira, o presidente Michel Temer assinou medida provisória que abre linha de crédito, via Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), para financiar as Santas Casas e hospitais filantrópicos – como o Sofia Feldman –, unidades que complementam o funcionamento do Sistema Único de Saúde (SUS). A MP precisa ser validada pelo Congresso em até 120 dias. O governo informou que o texto prevê financiamento com juros de 8,66% ao ano, enquanto os empréstimos atuais giram em torno de 17% a 18%. A mudança promete um alívio, mas ainda depende de reunião do Conselho Curador do FGTS para que a linha de crédito seja efetivada.
Na ponta da agulha
Confira os números da campanha de prevenção contra a pólio e o sarampo
» Público-alvo em BH
109.348 crianças de 1 ano a 4 anos, 11 meses e 29 dias
Cobertura alcançada
Contra a poliomielite: 36.226 (33,13%)
Com a tríplice viral (inclui o sarampo): 35.887 (32,82%)
» Público-alvo em Minas
1.027.305 crianças
Cobertura alcançada
Contra a poliomielite: 291.800 (28,40%)
Com a tríplice viral: 293.666 (28,58%)