O trecho é conhecido, os riscos também, mas a descida do Anel Rodoviário no Bairro Betânia voltou a fazer vítimas ontem, com efeitos colaterais sobre o tráfego de toda a Região Centro-Sul de Belo Horizonte. Com o agravante de que um acidente ocorrido ainda na noite de domingo, com uma pessoa morta e outra ferida, contribuiu para um segundo em intervalo de menos de 12 horas: um engavetamento que deixou dois feridos e envolveu nove veículos. A sucessão de batidas expõe uma realidade que não é nova, nem para motoristas e passageiros, tampouco para autoridades municipais, estaduais e federais: as armadilhas de uma via de traçado superado, envolvida em debates que não avançam sobre reforma, municipalização e restrição ao tráfego pesado.
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Caminhão bate em carros no Anel RodoviárioFalta de ação leva a repetidos desastres no Complexo da Lagoinha e no Anel RodoviárioTrincheira no Complexo da Lagoinha teve ao menos outros quatro acidentes semelhantesCaminhão-tanque bate em vários veículos no Anel Rodoviário Motorista de caminhão cochila e carga de cerveja se espalha pelo Anel Rodoviário de BHVigilância com câmera passa a multar no Anel Rodoviário de BHBaixa umidade ainda preocupa na maior parte de MinasTrincheira no Complexo da Lagoinha terá alternância de pistas durante obras“Por volta de 9h, o trânsito estava lento devido ao horário de pico e à ocorrência da madrugada, pois a carga do veículo ainda estava sendo retirada da pista. O tráfego fluía em apenas em duas faixas, quando surgiu um caminhão carregando óleo mineral, que não conseguiu parar a tempo e acabou se chocando com outros oito automóveis – uma viatura do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e sete veículos de passeio”, explicou o tenente Geraldo Donizete, da PMRv. Por volta das 9h30, o congestionamento no sentido Vitória-Brasília chegava a cinco quilômetros. Apesar dos estragos, não houve mortes.
O primeiro acidente envolveu um caminhão que transportava vergalhões de metal. “O motorista não conseguiu mudar de marcha, bateu em uma mureta de proteção e em um carro. Com o impacto da batida, o passageiro da carreta morreu e a carga se espalhou na pista”, disse o tenente Donizete. Havia um radar no ponto do acidente, que foi destruído em outra batida, ocorrida em maio.
SUSTO E REVOLTA O economista Tiago Pinheiro, de 39 anos, que teve o carro mais destruído, escapou ileso. Ele seguia para o trabalho quando foi surpreendido pelo impacto. “Foi aquele acidente clássico do Anel, a que a gente está acostumado.
Washington Luis do Carmo, de 44, também teve o carro atingido pelo engavetamento. Após o susto, a revolta: “Vemos isso todo dia na TV.
IMPRUDÊNCIA O tenente Donizete explicou que não foi possível constatar as causas do acidente. “Mas todo condutor tem a obrigação, de acordo com o Código de Trânsito Brasileiro, de dirigir com atenção indispensável à segurança do trânsito”, disse. Ainda, segundo ele, os motoristas que transitam pelo Anel precisam ter mais prudência e paciência, sabendo que estão em uma rodovia de fluxo intenso, onde pode haver retenções ou paradas repentinas.
O Anel tem 26 quilômetros de extensão e liga quatro rodovias que passam pela Região Metropolitana de Belo Horizonte. A maior parte da estrada fica a cargo do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e o restante, entre os bairros Califórnia (Região Noroeste) e Olhos D’água (Oeste) é administrado pela concessionária Via 040. A empresa atua na prestação de serviço de socorro médico e mecânico, manutenção contínua da sinalização e do asfalto, serviços de conservação e gestão do tráfego nos 10 quilômetros sob concessão – que incluem o trecho crítico, onde ocorreram os últimos desastres.
Como ficou?
Principais propostas de intervenção no Anel Rodoviário não avançaram. Confira a situação de cada uma
» A municipalização
A Prefeitura de BH propôs ação judicial cobrando a municipalização da rodovia, em setembro do ano passado, após um grave acidente que matou três pessoas no Bairro Betânia, na Região Oeste. Em abril deste ano, o pedido foi negado pela Justiça Federal. O município interpôs recurso e, ontem, informou que ainda aguarda julgamento.
» A restrição para caminhões
Em janeiro, a Prefeitura de BH informou que a restrição para veículos pesados deveria começar até março no Anel Rodoviário.
» A revitalização
Em junho deste ano, começou novo capítulo para o início da reforma da rodovia. Um acordo negociado entre o Ministério Público Federal (MPF) e a Ferrovia Centro-Atlântica (FCA) surge como esperança de acabar com gargalos e reduzir os graves acidentes que acontecem na rodovia. Dívida da empresa com a União pode ser revertida em recursos para as obras. O valor do repasse seria de R$ 600 milhões. Com o montante, seriam feitas intervenções no trecho entre o Bairro Betânia e a Avenida Amazonas. Ontem, o Estado de Minas entrou em contato com o MPF sobre o tema. Em nota, o órgão informou apenas que as negociações continuam.
(BR-040) e o fim do Anel Rodoviário, na saída para Sabará. Mas não deu mais detalhes ou qualquer previsão de prazo.
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