No país com um dos índices de envelhecimento populacional mais acelerados do mundo, a definição de idoso está ultrapassada. Afinal, boa parte de quem está nessa faixa etária cuida dos pais quando ainda toma conta dos filhos, adota estilo de vida e hábitos de consumo que eram associados aos jovens, se sentem saudáveis, mas viram o padrão de vida cair nos últimos anos, aponta o estudo “Tendências do mercado prateado de Minas Gerais”. Encomendado pela Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH) e divulgado na tarde de ontem, o levantamento traça o perfil do grupo que até 2031 vai superar, em termos numéricos, o de crianças e jovens até 14 anos, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Produzido pela consultoria de marketing Hype60%2b e a plataforma Pipe.Social, o estudo integra um levantamento inédito chamado“Tsunami 60 ”, que contou com uma pesquisa quantitativa de 277 casos (veja quadro). E os números não deixam dúvidas: os ganhos dessa geração são proporcionais aos desafios que enfrenta.
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Esse é o caso do núcleo familiar de Adriana Pinheiro, de 59 anos, que ainda conta com a presença dos filhos em casa.
“Todos ajudam de alguma forma e isso não precisa envolver dinheiro.
GERAÇÃO SANDUÍCHE Segundo Lívia Hollerbach, cofundadora da Pipe.Social e uma das idealizadoras da pesquisa, é muito interessante o intercâmbio entre gerações. “Principalmente em lares onde há avós e netos no mesmo lugar. Percebe-se o avô muito mais ativo, correndo atrás da criança e muito mais ligado às pautas do mundo contemporâneo. E, para o neto, também há ganhos, como absorver valores que são importantes dentro de uma fundação socioemocional”, explicou.
Com dois filhos pequenos, a professora Janaína Bastos dos Santos, de 41, é uma dessas filhas que precisa lançar mão dos cuidados oferecidos de pais “maduros” e sente o benefício do intercâmbio de gerações. Ela teve que retornar à casa deles por não ter condições de sustentar a família sozinha. Desempregada, pediu ajuda após se separar do marido. Na época, Janaína e os filhos, de 5 e 7 anos, moravam em uma cidade no interior de Minas Gerais e a volta para BH não foi fácil. “Voltar pra casa não é traumático, mas envolve um sentimento de fracasso. Mas eu não tinha outra alternativa”, afirma. Mesmo depois de conseguir se estabilizar, Janaína decidiu continuar morando na casa dos pais. “Percebi que o convívio com os avós foi muito bom para as crianças. Abri mão da minha privacidade para que eles tivessem conforto”, argumenta.
Janaína conta que apesar de o pai das crianças ser presente e fazer visitas regulares aos filhos, ele não contribui com as despesas da educação deles.
PLANEJAMENTO Enquanto se torna comum o perfil de filhos adultos que moram com os pais, 69% dos mineiros com mais de 55 anos planejam a velhice e só querem a sua independência, sem depender de ninguém. Mas conquistar essa independência não tem sido nada fácil, devido aos gastos: a conta do envelhecimento aperta e 38% dos mineiros entre 55 e 64 anos afirmam que o padrão de vida caiu nos últimos anos. Esse número aumenta para 48% entre os que têm mais de 65 anos. Embora 49% tivessem a expectativa de que estariam em uma condição financeira melhor, a realidade não é bem essa.
Chances no mercado de trabalho
Nem a palavra “idoso” é bem aceita hoje para identificar quem passou dos 60 anos. Uma a cada três pessoas com mais de 55 anos prefere aplicar o termo “maduro” a essa faixa etária em plena atividade. Somente um em cada 10 considera o termo “idoso” adequado. “Trata-se de um novo conceito de idoso. E seria importante que não usássemos uma nomenclatura que não os representa, idoso como construção social, que era a pessoa com muleta. Precisamos revisitar esse conceito”, explica Lívia Hollerbach, cofundadora da Pipe.Social e uma das idealizadoras da pesquisa “Tendências do mercado prateado de Minas Gerais”.
Segundo o estudo, entre os que trabalham na faixa de 55 anos a 64 anos, 31% são autônomos, 13% empresários, 17% funcionários em período integral e 4% são funcionários em um dos períodos. Entre os entrevistados com mais de 55 anos, 22% afirmaram que não há vagas no mercado de trabalho para pessoas dessa idade. “Queremos transformar Belo Horizonte na capital dos 60 , ou a capital da geração prateada. Queremos mostrar o benefício do jovem e do mais experiente. Eu, por exemplo, contratei um funcionário de 59 anos há três semanas. É uma pessoa estável, mais equilibrada, que vai agradecer a oportunidade de estar aqui e, consequentemente, ficar mais tempo na empresa. É preciso reconhecer a qualidade”, diz o presidente da CDL/BH, Bruno Falci.
Por isso, a CDL/BH pretende acionar o governo do estado, a prefeitura da capital, outras entidades de classe e representantes da sociedade civil para, em conjunto, planejarem ações voltadas especificamente para essa parcela da população – o que inclui planos de mobilidade urbana, acessibilidade, programas de saúde e prevenção de doenças, de cultura e lazer, atendimento qualificado, além de outras iniciativas. “Temos que criar o melhor ambiente de trabalho e de negócios. Se a pessoa já entra na empresa sendo tratada como velho, isso destrói o relacionamento e a desmotiva”, afirmou Falci. A CDL/BH também vai iniciar um trabalho para qualificar os seus associados, comerciantes e prestadores de serviços para entender e atender melhor esses consumidores, que crescem a cada ano.