Jornal Estado de Minas

Falhas na manutenção já retiraram 1.178 ônibus das ruas de BH em 2018



Em meio às cobranças pelos resultados da auditoria dos contratos da BHTrans com as empresas de ônibus – promessa de campanha do prefeito Alexandre Kalil (PHS) –, a população da capital mineira enfrenta um cenário de insegurança quanto às condições dos veículos responsáveis pelo transporte público da cidade. Em 14 mil fiscalizações realizadas até junho deste ano, o poder público retirou 1.178 coletivos de circulação, o que representa cinco ônibus a menos na frota por dia, segundo dados da BHTrans. Os números das duas últimas checagens, realizadas em junho, reforçam a preocupação: metade dos 12 carros vistoriados teve a autorização de tráfego retida, conforme a empresa de trânsito. O número de documentos suspensos somente nos primeiros seis meses deste ano é mais que o dobro das 586 autorizações retidas de janeiro a dezembro de 2017. O problema se evidenciou na manhã de ontem, quando duas pessoas foram feridas por um veículo desgovernado.


Os problemas vão desde limpeza aquém da ideal e padronização interna em desacordo com as normas até defeitos que trazem riscos ao passageiro, como freio de porta desligado, falhas mecânicas e erros no funcionamento do elevador destinado às pessoas com deficiência ou dificuldade de locomoção. A primeira vistoria ocorre assim que o veículo é comprado, enquanto a segunda é executada quando se completam dois anos de uso. Para os veículos entre três e seis anos de circulação, a fiscalização é anual. Os coletivos com seis a 10 anos de fabricação são avaliados a cada semestre.
A vida útil é de 10 anos de fabricação para os convencionais, 12 anos para os articulados e seis anos para micro-ônibus.


Outro número que chama a atenção diz respeito às multas aplicadas contra ônibus do transporte público: foram 12.853 autuações somente no primeiro semestre, ou seja, 54,6 infrações por dia. Em média, 660 mil viagens são realizadas por mês, de acordo com a BHTrans. O número é 6,5 vezes maior que o total de 2017, quando 1.949 multas foram aplicadas, segundo a autarquia de trânsito.

ACIDENTE Na manhã de ontem, um incidente envolvendo um ônibus deixou duas pessoas ficaram feridas depois que um veículo da linha 5503 B (Goiânia B) desceu desgovernado a Rua Maria do Nascimento Abreu, localizada no Bairro Goiânia, na Região Nordeste de Belo Horizonte. Ele estava estacionado no ponto final sem o motorista, desceu a via, bateu em um táxi e colidiu contra a fachada de uma casa.


As vítimas foram socorridas pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde (SMSA), uma mulher de 38 anos fraturou o tornozelo direito e foi levada para o Hospital de Pronto-Socorro João XXIII, enquanto um adolescente de 17 sofreu uma contusão no cotovelo esquerdo. Ele foi atendido na Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) Norte. Os nomes das vítimas não foram divulgados.


O taxista Helon da Silva Santana, de 55, disse que parou a cerca de seis metros de distância do ônibus para pegar um passageiro, quando foi surpreendido pela descida do coletivo.

“O motorista deixou o freio de mão puxado com o ônibus esquentando para fazer a leitura da roleta. O freio de mão não suportou e começou a descer devagarinho. Fui dando ré no meu carro e o ônibus começou a atingir a minha frente. Pensei, ‘vou jogar para o meio fio’. Impedi o ônibus de descer”, contou Santana. Segundo ele, foi seu táxi que evitou que o ônibus continuasse descendo a rua e atingisse mais veículos ou outros imóveis. Contradizendo o relato encaminhado aos bombeiros de que o veículo estava vazio, Santana afirma ter visto que, além do motorista e do cobrador, havia duas passageiras no ônibus. Todos os ocupantes tiveram que saltar do coletivo, segundo ele.
Os militares foram acionados para acompanhar a retirada do ônibus, devido ao risco de desabamento. A Coordenadoria Municipal de Defesa Civil (Comdec) de Belo Horizonte disse que o veículo atingiu a garagem do imóvel, destruindo elementos estruturais e construtivos. Parte da via precisou ser interditada para a retirada do ônibus, que já havia sido realizada por volta das 11h30.


Por meio de nota, o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (Setra-BH) informou que a empresa de ônibus acionou a perícia para identificar as causas do acidente, que ainda são desconhecidas, segundo a entidade. “A empresa já tomou todas as providências, nomeando um funcionário para prestar todo apoio às pessoas envolvidas, principalmente nos casos que tenham ocorrido danos físicos ou materiais”, finaliza.

Falha e mortes


Em 13 de fevereiro, um ônibus da linha 305 (Estação Diamante/Mangueiras) ficou sem controle e caiu dentro de um córrego na Rua José Luiz Raso, matando cinco pessoas, sendo quatro mulheres e o motorista Márcio João de Carvalho, de 60 anos. Segundo a Polícia Civil, uma falha no compressor de freios causou o acidente. O equipamento produziu pressão de ar inferior à necessária para que os freios fossem acionados. Apesar do problema de manutenção, os delegados Pedro Ribeiro e Roberto Alves Barbosa, que estiveram à frente da investigação, descartaram responsabilização criminal à empresa dona do ônibus, a Transoeste. .