Em meio às cobranças pelos resultados da auditoria dos contratos da BHTrans com as empresas de ônibus – promessa de campanha do prefeito Alexandre Kalil (PHS) –, a população da capital mineira enfrenta um cenário de insegurança quanto às condições dos veículos responsáveis pelo transporte público da cidade. Em 14 mil fiscalizações realizadas até junho deste ano, o poder público retirou 1.178 coletivos de circulação, o que representa cinco ônibus a menos na frota por dia, segundo dados da BHTrans. Os números das duas últimas checagens, realizadas em junho, reforçam a preocupação: metade dos 12 carros vistoriados teve a autorização de tráfego retida, conforme a empresa de trânsito. O número de documentos suspensos somente nos primeiros seis meses deste ano é mais que o dobro das 586 autorizações retidas de janeiro a dezembro de 2017. O problema se evidenciou na manhã de ontem, quando duas pessoas foram feridas por um veículo desgovernado.
Outro número que chama a atenção diz respeito às multas aplicadas contra ônibus do transporte público: foram 12.853 autuações somente no primeiro semestre, ou seja, 54,6 infrações por dia. Em média, 660 mil viagens são realizadas por mês, de acordo com a BHTrans. O número é 6,5 vezes maior que o total de 2017, quando 1.949 multas foram aplicadas, segundo a autarquia de trânsito.
ACIDENTE Na manhã de ontem, um incidente envolvendo um ônibus deixou duas pessoas ficaram feridas depois que um veículo da linha 5503 B (Goiânia B) desceu desgovernado a Rua Maria do Nascimento Abreu, localizada no Bairro Goiânia, na Região Nordeste de Belo Horizonte. Ele estava estacionado no ponto final sem o motorista, desceu a via, bateu em um táxi e colidiu contra a fachada de uma casa.
As vítimas foram socorridas pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde (SMSA), uma mulher de 38 anos fraturou o tornozelo direito e foi levada para o Hospital de Pronto-Socorro João XXIII, enquanto um adolescente de 17 sofreu uma contusão no cotovelo esquerdo. Ele foi atendido na Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) Norte. Os nomes das vítimas não foram divulgados.
O taxista Helon da Silva Santana, de 55, disse que parou a cerca de seis metros de distância do ônibus para pegar um passageiro, quando foi surpreendido pela descida do coletivo. “O motorista deixou o freio de mão puxado com o ônibus esquentando para fazer a leitura da roleta. O freio de mão não suportou e começou a descer devagarinho. Fui dando ré no meu carro e o ônibus começou a atingir a minha frente. Pensei, ‘vou jogar para o meio fio’. Impedi o ônibus de descer”, contou Santana. Segundo ele, foi seu táxi que evitou que o ônibus continuasse descendo a rua e atingisse mais veículos ou outros imóveis. Contradizendo o relato encaminhado aos bombeiros de que o veículo estava vazio, Santana afirma ter visto que, além do motorista e do cobrador, havia duas passageiras no ônibus. Todos os ocupantes tiveram que saltar do coletivo, segundo ele. Os militares foram acionados para acompanhar a retirada do ônibus, devido ao risco de desabamento. A Coordenadoria Municipal de Defesa Civil (Comdec) de Belo Horizonte disse que o veículo atingiu a garagem do imóvel, destruindo elementos estruturais e construtivos. Parte da via precisou ser interditada para a retirada do ônibus, que já havia sido realizada por volta das 11h30.
Por meio de nota, o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (Setra-BH) informou que a empresa de ônibus acionou a perícia para identificar as causas do acidente, que ainda são desconhecidas, segundo a entidade. “A empresa já tomou todas as providências, nomeando um funcionário para prestar todo apoio às pessoas envolvidas, principalmente nos casos que tenham ocorrido danos físicos ou materiais”, finaliza.
Falha e mortes
Em 13 de fevereiro, um ônibus da linha 305 (Estação Diamante/Mangueiras) ficou sem controle e caiu dentro de um córrego na Rua José Luiz Raso, matando cinco pessoas, sendo quatro mulheres e o motorista Márcio João de Carvalho, de 60 anos. Segundo a Polícia Civil, uma falha no compressor de freios causou o acidente. O equipamento produziu pressão de ar inferior à necessária para que os freios fossem acionados. Apesar do problema de manutenção, os delegados Pedro Ribeiro e Roberto Alves Barbosa, que estiveram à frente da investigação, descartaram responsabilização criminal à empresa dona do ônibus, a Transoeste.