Conceição do Mato Dentro e Santana do Riacho – Uma garganta rochosa de 273 metros de altura engole o Ribeirão do Campo de uma só vez. Faz o corpo hídrico despencar de tão alto que, nas épocas de seca, antes da metade da queda todo o jorro d’água se dissipa numa fina chuva. A opulência da Cachoeira do Tabuleiro, em Conceição do Mato Dentro, a 175 quilômetros de Belo Horizonte, se destaca de longe na formação rochosa dominante na região e marca a paisagem da Serra do Espinhaço. Por mais antiga e consolidada que pareça, a queda d’água mais alta de Minas Gerais se mostra mutável aos pontos de vista dos observadores. A incidência da luz solar nas rochas tem a curiosa capacidade de fazer com que a cachoeira adquira colorações diferentes, variando de um tom amarelado e brilhante para um vermelho opaco. É um destino muito procurado por ecoturistas e aficionados por aventuras. Contudo, o grande público ainda não se deixou seduzir por essa atração natural, como já ocorre em outros locais mais famosos. A Serra do Cipó, por exemplo, recebe cerca de 7 mil visitantes por mês, soma que resume todos os turistas de um ano que vão ao Parque Municipal Natural do Tabuleiro.
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Depois de poucos metros na parte mais rústica da trilha, chega-se a uma sequência impressionante de 1.500 degraus de eucalipto imunizado, parafusados e com corrimãos, numa descida de 150 metros até o leito pedregoso do Ribeirão do Campo. Antes, o acesso até o curso d’água se dava por trilhas íngremes, onde não eram raros os escorregões, deslizes e utilização das mãos para avançar ou reduzir a velocidade. Vários totens ajudam a calcular a distância percorrida e alertam para pontos de interesse, como mirantes que permitem avistar a cachoeira por todo o deslocamento. As obras ficaram em cerca de R$ 1 milhão e foram custeadas em 2017 pela Anglo American, mineradora que atua na região de Conceição do Mato Dentro, por meio de condicionantes ambientais para as atividades da empresa.
Caminhada de obstáculos
A chegada às rochas escuras do ribeirão é um bom momento para tomar fôlego. O abastecimento dos cantis e reservatórios de água também pode ser feito ali. Mas o alívio é apenas passageiro, pois o caminho que se segue não deixa de ser exigente. A única forma de chegar à cachoeira é seguindo por rochas do leito, muitas delas altas e esparsas. A orientação para o melhor caminho é feita por setas vermelhas pintadas pelo percurso e que descrevem uma trilha mais aprazível. Vencidos esses obstáculos, a recepção se dá com uma refrescante chuva das gotículas d’água pulverizadas pela queda do ribeirão do alto do precipício. No fundo da garganta se abre um espaço com várias pilhas de rochas, muitas delas planas como plataformas e que servem para os turistas se esticarem e pegar um pouco de sol. Algo importante para aplacar o frio na imersão nas águas geladas da cachoeira e para trazer mais ânimo para o caminho contrário, que agora é para o alto.
Junto com um grupo de escaladores de Brasília, que foi treinar na Serra do Cipó, o casal Daniel Carneiro, de 33 anos, advogado, e a servidora pública Juliana Nunes, de 32, procurou recobrar suas forças curtindo a Cachoeira do Tabuleiro. “Toda vez que estamos na serra fazemos questão de visitar o Tabuleiro”, afirma o advogado, que já esteve cinco vezes no parque. “A estrutura melhorou demais, agora ficou mais acessível para as pessoas. Tornou-se uma caminhada mais tranquila de ser feita”, disse. Para Juliana, ainda que a queda tenha pouco volume na época da estiagem, a diversão vale a pena. “Mesmo quando a água diminui, o vento a faz virar uma chuvinha que bate no rosto da gente e é sensacional. Melhora também nessa época a subida do rio, fica mais tranquila, com menos água. Aparecem também mais pedras para a gente ficar ao sol”, afirma.
(A LOJA ROTA PERDIDA/ROTA EXTREMA - www.rotaperdida.com.br - forneceu parte dos equipamentos usados nas expedições)