Jornal Estado de Minas

MONTANHAS DE HISTÓRIAS

Hidrelétrica da década de 1920 continua gerando energia no Rio Paraúna


Gouveia – Do alto de um paredão rochoso de 50 metros de altura, a água se precipita por quatro quedas principais ao longo de 200 metros até encontrar um poço largo, de bordas arenosas brancas entre mata fechada. Um espetáculo de espuma, saltos e espirros que roubava o fôlego daqueles que chegavam à beira do Rio Paraúna, em Gouveia, na Região Central de Minas Gerais, para conhecer as suas cataratas. Esse lugar de paisagismo natural belo como poucos na Serra do Espinhaço, no entanto, há muito não pode ser visto em todo seu esplendor, pois entre 1923 e 1927 começou a operar ali uma das mais importantes usinas hidrelétricas de Minas Gerais para a época, responsável por manter fábricas e luzes acesas em Corinto, Curvelo, Diamantina e Gouveia. De tão importante, ficou conhecida como Hulha Branca (hoje, Usina de Paraúna), numa referência às propriedades energéticas do carvão (hulha).

A geração de energia entre essas formações rochosas que caracterizam Minas Gerais se aproveita das cristalinas águas que vertem das serras alterosas. Longe da visão das estradas e caminhos corriqueiros entre Curvelo, Diamantina e Gouveia, as Cataratas do Rio Paraúna são um tesouro que nem sequer é admirado atualmente por muitos funcionários, já que a operação da usina – que tem capacidade instalada de 4,28 megawatts – se tornou automatizada pela Cemig, empresa fornecedora de energia elétrica que a controla desde 1976.

É preciso descer uma estrada de terra tortuosa na direção do fundo do vale para só então, depois de algumas curvas, dois quilômetros depois do fim do asfalto, ver aparecer ao longe as cataratas, rompendo a paisagem verde das matas montanhosas, logo abaixo das rochas altas e escuras da Serra do Cipó. Esse grande rio se forma justamente nas quedas que vêm da serra, com a união de vários corpos de água puríssima, considerada de classe 1 (podem ser utilizadas para consumo humano com tratamento simples), como o Ribeirão Congonhas e os córregos do Cervo e do Tanque. Um manancial vigoroso e limpo antes mesmo de receber as águas de classe especial (o tipo mais puro de água existente) do Rio Cipó.



Ao entrar nas instalações, a sensação que se tem é de que o local é uma cidade-fantasma. Várias casas e imóveis usados como escritórios estão abandonados.
Apesar das desbotadas placas de alerta, nada impede o acesso até a barragem da represa sobre as cataratas do Rio Paraúna, que é área de segurança nacional, segundo lei.

Do alto, a queda das águas que vêm das comportas abertas depois de percorrer um extenso platô rochoso é um espetáculo natural. Abaixo, o rio se alarga depois da queda de 50 metros de altura e vai serpenteando a mata do vale em sua viagem de 40 quilômetros até desaguar no Rio das Velhas. Mas não sem mais interferências humanas. Menos de um quilômetro depois das cataratas, o Rio Paraúna começa a ser devassado por dragas de areeiros e garimpeiros de ouro e diamantes aluvionários.

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