Os problemas verificados a partir da massificação e popularização dos veículos a serviço dos aplicativos de transporte são relatados pelos motoristas, ficam explícitos em pesquisa conduzida na UFMG e também estão na boca do povo. Dados do site Reclame Aqui, que recebe queixas contra diferentes empresas, mostram que, somados, os apps Uber, Cabify e 99 tiveram aumento de reclamações em Minas Gerais quando analisados os períodos de janeiro a julho, entre 2015 e 2018 (veja quadro). Em 2015, foram 62 reclamações por motivos diversos, contra 4.533 em 2018, sempre considerando os sete primeiros meses do ano. Veja quadro:
O advogado Frederico Amaral, de 31 anos, costuma usar um dos aplicativos mais populares nos fins de semana. Um dos problemas que tem notado com frequência é o ar-condicionado desligado. “É comum eles não se oferecerem para ligar mais. Uso terno e gravata e, às vezes, o calor fica complicado”, afirma. Este ano, durante uma das corridas que contratou, ele conta ter se deparado com um carro muito sujo e com problemas no banco. “Tinha barro até no teto e o couro do banco soltava pedaços”, afirma. “Passei a usar outro aplicativo, que tem carros mais novos, mas mesmo assim comecei a observar veículos mais mal cuidados.”
No caso da servidora pública Bárbara Viegas, de 30, a experiência ruim não foi com manutenção do carro, mas com um motorista. Ela havia chamado o carro por um dos apps, do Centro para casa, no Bairro Silveira, Nordeste de BH, e resolveu cancelar, devido à demora. Pediu outro carro, mas continuou esperando no mesmo lugar. Instantes depois, o primeiro motorista a aceitar a corrida apareceu, xingando-a. “Deletei o aplicativo na hora. Tenho observado uma queda de qualidade grande nos serviços. O próprio motorista que me atendeu depois do episódio relatou isso.”
Em nota, a Uber informou que responde o consumidor por meio do canal Consumidor.gov.br, gerenciado pelo governo federal para intermediar o diálogo entre a população e as empresas privadas. Na plataforma, a Uber diz que tem um índice de resposta de 98% e entende a ferramenta como a melhor para resolver tais problemas, ao lado do próprio suporte da companhia.
A Uber ainda defende que o site do governo federal é monitorado "pela Secretaria Nacional do Consumidor - Senacon - do Ministério da Justiça, Procons, Defensorias, Ministérios Públicos e também por toda a sociedade - e por isso traz mais transparência e legitimidade para o aprimoramento das relações de consumo".
Eu, passageira
Larissa Ricci,
repórter do Estado de Minas
“Comecei a usar aplicativo de transporte no início de 2016. Como moro no Centro de BH, a tarifa mínima se tornou muito atrativa, já que no meu dia a dia me locomovo para lugares próximos de onde moro. Pagar R$ 6,76 para ir de carro, no ar-condicionado, é uma ótima opção para não ter que encarar o estresse do trânsito em um ônibus cheio. Porém, é perceptível a queda na qualidade do serviço no último ano: tornaram-se comuns carros imundos, velhos – já ocorreu de eu embarcar em um carro popular que parecia da década de 1980, em péssimo estado. Balinhas? Ficaram escassas. Pedindo, o passageiro ainda consegue alguma, mas água mineral já não vejo há muito. Quando peço, sempre ouço: ‘O último passageiro acabou de pegar’. Curioso, penso: nunca sou a última passageira. A falta de educação e de bom senso de alguns também chamam a atenção. Se esse era um diferencial comparado ao serviço de táxi, já se perdeu. Como mulher, independentemente da forma de transporte, o medo me acompanha ao embarcar com uma pessoa desconhecida – principalmente de madrugada. Estamos cansadas de ver casos de assédio, então, sempre opto por me sentar no banco de trás, como forma de segurança. Preocupação que não existiria se fôssemos respeitadas. Por outro lado, o compartilhamento de trajeto em tempo real é das melhores invenções para aumentar a segurança. Preciso reconhecer também que as reclamações são respondidas com rapidez pelo suporte do aplicativo.”
Eu, motorista
Lucas Balbino,
estagiário do Estado de Minas
“‘Ser Uber’ há três anos era uma experiência diferente do que é ‘ser Uber’ (ou motorista de qualquer outro aplicativo) hoje. Por ser uma ferramenta recente na época, tanto os condutores quanto os passageiros eram menos numerosos. A obrigação de ofertar qualidade superior à dos tradicionais táxis, oferecendo um bom carro, limpo, com balas e água, conferindo a temperatura do ar e a estação de rádio, era uma cobrança constante da empresa e, principalmente, dos clientes. Hoje, já na condição de passageiro, vejo que esses hábitos se tornaram raros entre os profissionais. A própria avaliação (as conhecidas ‘estrelinhas’) é menos exigente. Entrei para o serviço consciente dos requisitos, com um carro qualificado, fardos de água mineral e balas a bordo, além de disposição para ganhar um dinheiro extra e da expectativa de trabalhar nos horários que bem entendesse. Na época, sem muitos casos de assalto, o principal risco eram taxistas que agrediam quem trabalhasse pelo app. O início se mostrou promissor, empolgante, principalmente pela sensação de estar ganhando dinheiro quando e onde quisesse. Mas, com o tempo, percebi que as contas não batiam. Os gastos com o carro faziam o faturamento ser irrisório, a não ser que dirigisse 11, 12 horas por dia. Por esses motivos, trabalhei com o aplicativo por apenas nove meses. Depois deles, acabei voltando a investir nos trabalhos com produção de eventos que já fazia antes de enfrentar o volante como motorista de app.”
O advogado Frederico Amaral, de 31 anos, costuma usar um dos aplicativos mais populares nos fins de semana. Um dos problemas que tem notado com frequência é o ar-condicionado desligado. “É comum eles não se oferecerem para ligar mais. Uso terno e gravata e, às vezes, o calor fica complicado”, afirma. Este ano, durante uma das corridas que contratou, ele conta ter se deparado com um carro muito sujo e com problemas no banco. “Tinha barro até no teto e o couro do banco soltava pedaços”, afirma. “Passei a usar outro aplicativo, que tem carros mais novos, mas mesmo assim comecei a observar veículos mais mal cuidados.”
No caso da servidora pública Bárbara Viegas, de 30, a experiência ruim não foi com manutenção do carro, mas com um motorista. Ela havia chamado o carro por um dos apps, do Centro para casa, no Bairro Silveira, Nordeste de BH, e resolveu cancelar, devido à demora. Pediu outro carro, mas continuou esperando no mesmo lugar. Instantes depois, o primeiro motorista a aceitar a corrida apareceu, xingando-a. “Deletei o aplicativo na hora. Tenho observado uma queda de qualidade grande nos serviços. O próprio motorista que me atendeu depois do episódio relatou isso.”
Em nota, a Uber informou que responde o consumidor por meio do canal Consumidor.gov.br, gerenciado pelo governo federal para intermediar o diálogo entre a população e as empresas privadas. Na plataforma, a Uber diz que tem um índice de resposta de 98% e entende a ferramenta como a melhor para resolver tais problemas, ao lado do próprio suporte da companhia.
A Uber ainda defende que o site do governo federal é monitorado "pela Secretaria Nacional do Consumidor - Senacon - do Ministério da Justiça, Procons, Defensorias, Ministérios Públicos e também por toda a sociedade - e por isso traz mais transparência e legitimidade para o aprimoramento das relações de consumo".
Eu, passageira
Larissa Ricci,
repórter do Estado de Minas
“Comecei a usar aplicativo de transporte no início de 2016. Como moro no Centro de BH, a tarifa mínima se tornou muito atrativa, já que no meu dia a dia me locomovo para lugares próximos de onde moro. Pagar R$ 6,76 para ir de carro, no ar-condicionado, é uma ótima opção para não ter que encarar o estresse do trânsito em um ônibus cheio. Porém, é perceptível a queda na qualidade do serviço no último ano: tornaram-se comuns carros imundos, velhos – já ocorreu de eu embarcar em um carro popular que parecia da década de 1980, em péssimo estado. Balinhas? Ficaram escassas. Pedindo, o passageiro ainda consegue alguma, mas água mineral já não vejo há muito. Quando peço, sempre ouço: ‘O último passageiro acabou de pegar’. Curioso, penso: nunca sou a última passageira. A falta de educação e de bom senso de alguns também chamam a atenção. Se esse era um diferencial comparado ao serviço de táxi, já se perdeu. Como mulher, independentemente da forma de transporte, o medo me acompanha ao embarcar com uma pessoa desconhecida – principalmente de madrugada. Estamos cansadas de ver casos de assédio, então, sempre opto por me sentar no banco de trás, como forma de segurança. Preocupação que não existiria se fôssemos respeitadas. Por outro lado, o compartilhamento de trajeto em tempo real é das melhores invenções para aumentar a segurança. Preciso reconhecer também que as reclamações são respondidas com rapidez pelo suporte do aplicativo.”
Eu, motorista
Lucas Balbino,
estagiário do Estado de Minas
“‘Ser Uber’ há três anos era uma experiência diferente do que é ‘ser Uber’ (ou motorista de qualquer outro aplicativo) hoje. Por ser uma ferramenta recente na época, tanto os condutores quanto os passageiros eram menos numerosos. A obrigação de ofertar qualidade superior à dos tradicionais táxis, oferecendo um bom carro, limpo, com balas e água, conferindo a temperatura do ar e a estação de rádio, era uma cobrança constante da empresa e, principalmente, dos clientes. Hoje, já na condição de passageiro, vejo que esses hábitos se tornaram raros entre os profissionais. A própria avaliação (as conhecidas ‘estrelinhas’) é menos exigente. Entrei para o serviço consciente dos requisitos, com um carro qualificado, fardos de água mineral e balas a bordo, além de disposição para ganhar um dinheiro extra e da expectativa de trabalhar nos horários que bem entendesse. Na época, sem muitos casos de assalto, o principal risco eram taxistas que agrediam quem trabalhasse pelo app. O início se mostrou promissor, empolgante, principalmente pela sensação de estar ganhando dinheiro quando e onde quisesse. Mas, com o tempo, percebi que as contas não batiam. Os gastos com o carro faziam o faturamento ser irrisório, a não ser que dirigisse 11, 12 horas por dia. Por esses motivos, trabalhei com o aplicativo por apenas nove meses. Depois deles, acabei voltando a investir nos trabalhos com produção de eventos que já fazia antes de enfrentar o volante como motorista de app.”