Perdas e esperança na ciência, na cultura e na pesquisa, em um momento que comove o mundo e deixa em aberto os caminhos do Museu Nacional, consumido pelo fogo no Rio de Janeiro. Minas pode ajudar na recomposição do riquíssimo equipamento cultural destruído na capital fluminense durante incêndio entre a noite de domingo e a madrugada de segunda-feira. Mas lamenta a perda de um acervo valioso, composto, entre muitas peças, pelos milhares de vestígios arqueológicos retirados da gruta Lapa Vermelha IV, em Pedro Leopoldo, na Grande BH, e levados para a instituição, na década de 1970. Nesse sítio da região metropolitana da capital mineira foi também encontrado o crânio de Luzia, considerada a primeira brasileira, peça sobre a qual ainda não se tem notícia concreta após o desastre.
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Museu Nacional abrigava mistério dos ancestrais de Belo HorizonteMinas tem vários museus em estado precário: veja o que estado e MP prometem fazerMuseu mineiro que abriga o povo de Luzia teve de fechar às pressasIncêndio no Museu Nacional atrasa estudos na UFMGGoverno cria força-tarefa para verificar condições do patrimônio mineiroEstudantes do interior vivenciam artes, arquitetura e história de BHPrevisão é de céu claro para maior parte do estado nesta quarta-feiraEstudantes do interior têm aulas em pontos turísticos de Belo HorizonteOutra perda, que tende a se transformar em um mistério insolúvel, refere-se ao acervo de milhares de anos que ajudaria a contar a pré-história de Belo Horizonte – bem antes dos tempos de Curral del-Rey, que deixou de existir para dar lugar à capital inaugurada em 1897.
COOPERAÇÃO Com a tragédia consumada no Rio de Janeiro e uma parte ainda não descrita do acervo perdido no Museu Nacional, os cientistas, apesar de lamentar a destruição, têm a possibilidade de trabalhar em um sistema de cooperação, fundamental para reerguer o equipamento das cinzas. O Museu de Ciências Naturais da PUC Minas, em Belo Horizonte, por exemplo, está pronto a auxiliar o Museu Nacional a repor parte do acervo paleontológico (fósseis) que, conforme estimativas iniciais, arruinou não só o prédio de 200 anos como também 90% do acervo em exposição no imóvel histórico. Segundo o coordenador do equipamento mineiro, Bonifácio José Teixeira, as réplicas de exemplares da megafauna expostas na unidade do câmpus Coração Eucarístico, na Região Noroeste da capital, foram feitas em resina, sobre originais exibidos no museu fluminense.
Mesmo diante da atitude solidariedade entre cientistas de instituições de renome, fica difícil não falar sobre a destruição do Museu Nacional, que abrigava um acervo composto de parcela considerável da história da humanidade.
CRIANÇAS Com 10 coleções científicas e pesquisadores qualificados, o Museu de Ciências Naturais da PUC Minas, criado em 1993 e há 10 anos em um prédio específico para sua finalidade, recebe mais de 100 mil visitantes por ano – apenas em 2017, foram 103 mil. Diante das relíquias e de suas reconstituições, os estudantes, principalmente as crianças, não perdem tempo nem as explicações dos monitores. Na companhia da professora Ana Paula da Matta, os alunos da Escola Municipal Antônio Tereza dos Santos, de Betim, na Grande BH, ficaram um longo tempo admirando a reconstituição do crânio de Luzia, encontrado em 1974. Perto dali, há também uma versão para que os deficientes visuais possam conhecê-la com as pontas dos dedos.
“Fiquei muito triste com a destruição do Museu Nacional. Já conhecia a história da Luzia, mas é bom ver tudo aqui de perto. Fico emocionada”, disse Maria Júlia Medina, de 12 anos.
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