Décadas de atraso nas pequisas científicas, perda de coleções de animais e arquivos de documentos históricos, interrupção na dinâmica de estudos de doutorado e ainda uma completa perplexidade diante do incêndio que destruiu o prédio e grande parte do acervo do Museu Nacional, no Rio de Janeiro (RJ). Pesquisadores das áreas de história e biologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) não têm contabilizados todos os estragos causados pela tragédia, ocorrida há pouco mais de uma semana, mas sabem que as perdas em muitos casos são irreparáveis. “Trata-se de uma perda irreparável para a ciência, afinal, o Museu Nacional tinha a coleção de aracnídeos mais antiga do Brasil. Mas, como há intercâmbio entre as instituições de ensino, temos aqui coleções do museu, que ficaram protegidas”, diz o chefe do Laboratório de Aracnologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB), professor Adalberto José dos Santos.
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Levantamentos estão em andamento, pela equipe do Laboratório de Aracnologia do ICB, para que sejam avaliados os prejuízos. “Temos, aqui, material do Museu Nacional, como parte do intercâmbio. Mas é pequeno em relação ao que emprestamos a eles”, afirma Vinícius, reiterando que serão necessárias muitas décadas para recuperar o acervo destruído.
DOCUMENTOS Graduada em ciências sociais e com mestrado em história na UFMG, a doutoranda Stefany Sidô Ventura também vê um grande atraso nas pesquisas na sua área de estudos. Ela tem alguns anos pela frente para defender a tese sobre a Exposição Antropológica Brasileira de 1882, que ficou em cartaz no Museu Nacional e recebeu a visita do imperador dom Pedro II (1825-1891). Stefany conta que o objetivo da grande mostra, com estrutura baseada em três eixos – antropologia, etnologia e arqueologia –, já quase no fim do século 19, era entender o homem brasileiro e o homem americano, com sua constituição física, raça, comportamento, moral e outros aspectos.
Para desenvolver a tese, a doutoranda tirou cópias de várias pastas de documentos do Museu Nacional a respeito da exposição, que geraram uma revista e um guia. “Os originais ficaram lá, e consegui arquivos digitais de outros documentos. Agora, com o incêndio, terei que aprofundar meus estudos em outras instituições no Rio de Janeiro, mas isso causa uma mudança na dinâmica do trabalho e dos estudos. Tenho mais uns quatro anos de pesquisas, mas, para a ciência de modo geral, há um atraso de décadas”, reforçou.