Em um cenário de desalento quanto à preservação do patrimônio histórico após o incêndio no Museu Nacional, no Rio de Janeiro, a cidade de Mariana, na Região Central do estado, ganhou incentivo para valorização da memória mineira. Por meio da Lei Rouanet, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) vai repassar R$ 14,2 milhões para a execução das obras de restauração e reforma da Igreja São Francisco de Assis, fechada desde 2012, e da Casa do Conde de Assumar, anexa ao templo. O dinheiro também se destina à criação do Museu da Cidade, localizado no complexo religioso, com o intuito de resgatar a história do município. As negociações pela verba duraram dois anos e os recursos vão quitar 94% do investimento total.
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Segundo o secretário Efraim Rocha, os projetos já estão prontos e devem demorar cerca de dois anos para ser concluídos. Para o representante do Executivo municipal, as obras representam um avanço significativo para a economia da cidade, abalada desde o rompimento da Barragem do Fundão, que despejou rejeitos de mineração e destruiu o distrito de Bento Rodrigues. “São obras muito esperadas pela comunidade, pois a igreja está fechada há muito tempo. Estamos contando com esse dinheiro. Nossa cidade perdeu muita receita e renda e é hora de restabelecer nossa vocação para a arte e para a cultura”, ressalta.
Além do restauro das duas construções e da criação do museu, o projeto prevê também a realização de ações educativas. A ideia é que elas contribuam para estreitar laços entre a população e o patrimônio histórico da cidade, por meio de visitas monitoradas ao canteiro de obras. Outra iniciativa no cronograma é a Escola de Ofícios, um programa de formação nos modos de fazer tradicionais da construção civil – considerados patrimônio imaterial de Minas Gerais. As obras do conjunto arquitetônico do Museu de Mariana poderão servir de canteiro de aprendizagem para os alunos e integrantes do programa.
Após o término das obras, a gestão das edificações será compartilhada: a casa do Conde de Assumar e a sede do museu serão de responsabilidade da Prefeitura de Mariana, enquanto a Igreja de São Francisco de Assis ficará a cargo da Arquidiocese da cidade. Ambas também deverão destinar recursos para manutenção das respectivas construções pelo período de 20 anos, a partir da assinatura do convênio.
A professora Luciana Silveira, de 47 anos, ficou feliz com a notícia. “Acho importante preservar, não só pela arte, mas também para o povo ter acesso.
Para a servidora pública federal Fábia Alves, de 34, que estava a passeio em Mariana com duas amigas, a restauração é essencial. “Para visitar Minas Gerais temos de ver a parte histórica. Por isso, ela precisa ser preservada. Viemos do Nordeste, onde há também igrejas antigas e patrimônio, justamente para ver as de Minas, tão belas”. Também funcionárias públicas, Thereza Xavier, de 36, e Evoncleide Ramos, de 40, concordam. “O conjunto daqui é um tesouro, um patrimônio que precisa mesmo ser preservado. Não podemos deixar acabar para depois agir”, diz Thereza. “Se como estão hoje já são tão bonitas, imagine quando as igrejas forem restauradas”, admira-se Evoncleite.
Tesouro do século 18 interditado
Interditada há mais de seis anos, a igreja ostentava a vice-liderança no ranking de visitação a templos religiosos de Mariana quando foi fechada.
Três anos antes, em abril de 2009, uma decisão judicial também lacrou as entradas da igreja. À época, a juíza Lúcia de Fátima Magalhães Albuquerque Silva acatou pedido do Ministério Público Estadual (MPE), que denunciou as fragilidades do prédio por causa da umidade causada pelas infiltrações e pela ação dos cupins.
A Igreja São Francisco de Assis foi construída no século 18, entre 1761 e 1794, por meio de um projeto proposto pelo arquiteto José Pereira Arouca. A primeira missa foi celebrada em dezembro de 1777, quando começou uma série de intervenções. Em 1794, a igreja foi entregue, depois de ser concluída pelo irmão Miguel Teixeira Guimarães, administrador da obra. A fachada e os elementos ornamentais (como púlpito, retábulo-mor, lavabo e teto da capela-mor) são de autoria de Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho.
O ponto turístico conta também com influência de outro expoente do Barroco mineiro. No período de 1791 a 1825, Mestre Ataíde ficou responsável pelo douramento do retábulo do altar-mor, do trono, do tabernáculo e do altar de Santa Isabel. Os painéis do forro da sacristia e do teto do corpo da igreja são de autoria desconhecida, embora haja dados a respeito de um pagamento efetuado entre 1816 e 1817 pelas pinturas da sacristia.
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