Um desafio interminável se expande por debaixo dos pilares de concreto que sustentam viadutos, passarelas e outras estruturas urbanas de Belo Horizonte, onde uma população que aparenta estar em constante crescimento vive em condições degradantes. Ações da prefeitura da capital têm sido permanentes no sentido de recolher materiais que se acumulam em ocupações feitas de tapumes, lonas e barracas, mas as providências são claramente insuficientes diante de um contingente que não apenas vem crescendo, como se descentralizando e se espalhando pelos bairros. Oficialmente, os cidadãos em situação de rua são cerca de 4,5 mil em BH, segundo os últimos dados disponíveis. Mas, entre janeiro e agosto, foram feitas 16.556 abordagens em toda a cidade, média de 68 por dia – o que indica que a mesma pessoa é abordada várias vezes por servidores da Subsecretaria de Assistência Social.
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Pastor vive entre dois tapumes, onde se lê a inscrição “Deus é fiel”. Dentro do abrigo, sobre uma mesa improvisada se observa uma pimentinha. Tempero para a comida que recebe de colaboradores – quando recebe.
Um dos que não arredaram pé do endereço desde a ação do poder público explica que há perfis diferentes entre os sem-teto. “Tem quem está na rua por descaso público, por necessidade, por falta de opção. Mas tem também os que estão por falcatrua”, considerou. Ele se refere a usuários de crack e a pequenos traficantes que se misturam a essa população errante. “Eles saem, mas logo voltam. São pessoas dependentes de drogas. Mas é complicado, porque eles assaltam até outros moradores de rua, acredita?”, indagou.
Migração preocupa equipes do município
Em julho, a Prefeitura de BH admitiu que o contingente de pessoas em situação de vulnerabilidade social está se afastando do Hipercentro da capital, embora ainda não dispusesse de números sobre o fenômeno. Diante da situação, a administração municipal anunciou ter mobilizado nove vezes mais equipes para atuar na abordagem e no convencimento dessa população, para que deixe as ruas e permita que objetos que ocupam o espaço público sejam removidos. Uma das promessas é investir R$ 5 milhões para aumentar quantidade de equipes.
Na manhã de ontem, era possível observar uma dessas equipes da prefeitura fazendo a retirada de objetos, lixo e entulho na Lagoinha, na Região Noroeste de BH, onde vive grande contingente de pessoas. Foi esse o local que Darcy Batista, de 46, “escolheu” para montar seu barraco de lona. Ele contou que toda semana uma equipe visita o lugar, mas também testemunha que a ação não ocorre de forma invasiva ou truculenta. “Eles chegam aqui, conversam... Recolhem coisas que são realmente desnecessárias, como pedaços de madeira que podem fazer o barracão pegar fogo”, contou. “Mas não mexem dentro do meu barraco, sou eu que escolho o que deve ser descartado”, completou. Darcy diz que tenta uma bolsa-moradia para deixar a vida nas ruas, ainda sem sucesso. Enquanto isso, quatro carrinhos de supermercado o acompanham em sua trajetória.
NOVAS ÁREAS No pacote de intervenções intersetoriais que a prefeitura promete lançar para lidar com o desafio da população de rua, uma das medidas prevê a abertura de duas unidades de acolhimento. Uma delas terá 40 vagas específicas para grávidas e mulheres que acabaram de ter seus bebês. Na segunda, estão previstas 50 vagas provisórias para famílias, até que consigam reunir condições de iniciar um novo projeto de vida.
Além das unidades para grávidas e famílias, foi anunciada pela prefeitura a criação do Centro de Referência Especializado para Pessoas em Situação de Rua, que ficará na Lagoinha, área de grande concentração de usuários de crack e outras drogas. A previsão é de que o atendimento, com capacidade para 200 pessoas apenas durante o dia, comece até o fim do ano. Outra frente aberta pelo município prevê a ampliação do bolsa-moradia. Hoje, cerca de 250 pessoas são beneficiadas com o programa e a previsão é de que o número chegue a 500 até 2020.
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