Ao descobrir que uma segunda via de sua Carteira Nacional de Habilitação (CNH) tinha sido emitida sem o seu consentimento, um grande empresário belo-horizontino com atuação em todo território nacional procurou o Detran-MG. Mal sabiam ele e as equipes que investigaram o motivo de o documento ter sido enviado para um endereço desconhecido que a apuração resultaria na descoberta de um esquema de fraudes milionário, mantido por uma quadrilha que agia havia três anos e já acumulava cerca de R$ 160 milhões, produto dos golpes.
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Carro atropela sete pessoas na porta de um bar em Juiz de ForaChuva pode voltar à capital e melhorar o tempo seco nesta quinta-feiraMúmias mineiras estavam em alas destruídas pelo fogo no Museu NacionalPF desarticula quadrilha envolvida em fraude de R$ 2,9 milhões do INSSMulher deixa cachorro dentro do carro e causa revolta em pedestresDe acordo com o delegado que coordenou as investigações, Vinícius Dias, a quadrilha era composta por cinco advogados, que eram os cabeças; por laranjas, que eram usados para assumir negócios de fachada; e por auxiliares administrativos, que faziam pedidos e cuidavam da burocracia para obter documentação e certidões falsas ou fraudadas. “Os líderes da quadrilha eram muito sofisticados e conheciam bem a burocracia e os processos legais envolvidos nos crimes. Usavam um esquema que chamamos de triangulação empresarial: abriam empresas usando os nomes das vítimas como sócios, enquanto os líderes se revezavam na constituição dessa sociedade”, conta o policial, indicando a forma que os falsários adotavam para despistar sua associação criminosa.
Uma vez com a empresa fantasma ativa, a quadrilha usava documentos fraudados e até certidões falsificadas para conseguir empréstimos milionários. Só com uma certidão do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) forjada, os criminosos conseguiram obter R$ 16 milhões.
A fase seguinte do golpe consistia em abrir empresas em outros estados, como São Paulo, Rio de Janeiro, Pará e Mato Grosso. Essas firmas de fachada recebiam os recursos captados ilegalmente. Oficialmente, registravam em cartório que essas somas eram usadas para ampliar o capital social das empresas. Porém, na verdade, esse era o momento em que os criminosos dividiam o dinheiro entre si.
As empresas fantasmas tinham vida curta, de seis meses a um ano. “Quando as vítimas percebiam o golpe, ao receber cobranças, ações de execução e bloqueio de suas contas-corrente, é que descobriam que haviam sido alvo dessa quadrilha”, afirma o delegado.
A Operação Apate, nome em alusão ao espírito grego do engano, do dolo e da fraude, ocorreu com o apoio da Polícia Militar. O núcleo operacional dos criminosos era uma cobertura de luxo do Bairro Buritis, na Região Oeste de Belo Horizonte, avaliada em R$ 2,5 milhões. A polícia chegou minutos antes de o proprietário ter saído.
Carros de luxo eram incendiados
Os golpes da quadrilha financiavam uma vida de luxo. Dentro da cobertura no Buritis foram apreendidos três caixas e uma sacola cheia de relógios de luxo, três TVs, eletrodomésticos modernos, uma bicicleta, um saxofone, dois violões, dólares e outros pertences de luxo, de acordo com a polícia adquiridos com o dinheiro das fraudes. Uma caminhonete de luxo também foi apreendida.
Segundo a polícia, outros carros importados foram comprados, mas acabaram sendo incendiados, como parte de outro golpe, para receber o dinheiro do seguro. Em Pará de Minas, a busca ocorreu em uma propriedade de luxo, com 4 mil metros quadrados, que só em paisagismo recebeu mais de R$ 170 mil em investimentos. Terrenos e imóveis também foram adquiridos em Contagem e em outros municípios da Grande BH.
Os suspeitos responderão por formação de organização criminosa, lavagem de dinheiro, falsificação de documentos públicos e privados, uso de documentos falsos e falsa identidade.
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