Mariana – O escritório SPG Law, que vai acionar a BHP Billiton britânica na Justiça do Reino Unido pelo desastre do rompimento da Barragem do Fundão, em Mariana, pretende adiantar cerca de 10% das indenizações devidas aos atingidos para que eles não se sintam fragilizados e dependentes de acordos desesperados com as mineradoras. A informação é de um dos sócios do escritório anglo-americano, Glenn Phillips, durante reunião com clientes em Mariana, encontro no qual o Estado de Minas esteve presente. “Nós fazemos isso para que as pessoas continuem tendo comida no prato, paguem suas contas, tenham gasolina para seus carros e não fiquem dependendo das migalhas que as empresas jogam em troca de acordos desvantajosos”, disse. Seguindo essa estratégia, o escritório também ganha maior poder de atuação. “Assim que passamos esses recursos, paramos de conversar com eles (BHP Billiton). Daí, dizemos: quer negociar? Só com 5 bilhões de libras sobre a mesa, ou vamos a julgamento”, disse Phillips.
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Entenda a ação que pode fazer a BHP Billinton pagar 5 bi de libras pela tragédia de MarianaBHP Billiton será processada em mais de 5 bi de libras por tragédia de MarianaIgreja que resistiu ao desastre de Mariana é tombadaQuase três anos após tragédia de Mariana, atingidos podem ter direito prescritoAdvogados apostam em acordo na ação internacional pela tragédia de MarianaRECEIO Para o advogado Flávio Almeida, que representa 50 clientes em Mariana, essa forma de agir pode aliviar a situação de muitos pais de família e outros profissionais que têm receio de ingressar com ações ou de cobrar com mais veemência pelos seus direitos. “Há um grande temor de os profissionais serem retaliados, principalmente entre aqueles que trabalham no ramo de mineração, que é muito forte em Mariana. Há um medo velado e até um dizer de que o empregado que é contra uma das mineradoras e entra na Justiça acaba não sendo mais contratado pelas outras empresas. Quem presta ou prestou serviço no setor tem muito esse temor”, disse o advogado.
A ação coletiva deverá ingressar nos tribunais britânicos na primeira semana de novembro, quando o desastre completa três anos.
O sistema de classificação dos atingidos será feito por categorização. Dependendo dos danos morais e materiais, a pessoa entra num nível de reparação por intervalos de valor indenizatório. Dentro de cada categoria, serão especificadas subcategorias com valores específicos. Uma das dúvidas que os atingidos tinham era com relação à sua capacidade de aceitar acordos propostos pela mineradora. Tais ações poderão ser feitas por meio de procurações confiadas aos seus advogados.
Mesmo sendo levada a tribunais britânicos, a ação será julgada segundo a lei brasileira. Isso, segundo o escritório anglo-americano, não significa que as reparações ficarão restritas a valores indenizatórios já previstos pela jurisprudência nacional.
O rompimento da Barragem do Fundão despejou cerca de 35 milhões de metros cúbicos de lama e de rejeitos de minério de ferro na Bacia Hidrográfica do Rio Doce, atingindo também a costa brasileira. Nesse que é o pior desastre socioambiental do Brasil, morreram 19 pessoas. Até hoje não foi encontrado o corpo de Edmirson José Pessoa, de 48 anos, que trabalhava para a Samarco havia 19 anos quando ocorreu o desastre. Cerca de 500 mil pessoas foram atingidas.
Resposta rápida e eficiente
Uma situação que pode transcorrer com maior reconhecimento na Justiça britânica do que na brasileira é a das pessoas que não foram diretamente impactadas, como comerciantes e empresários que não estavam no caminho da lama. “Represento casos de pessoas que fizeram acordos de divórcio num patamar de ganhos, mas perderam sua renda depois que a Samarco parou de produzir, após o acidente, e suspendeu os serviços de sua empresa terceirizada. Essa pessoa não consegue mais pagar essas pensões. Tem muita gente que está sob efeito de medicamentos, frequentando psiquiatras”, descreve o advogado Flávio Almeida.
A também advogada Maria Marta da Silva tem uma situação ainda mais dramática. Ela é nascida e criada em Bento Rodrigues, a comunidade que o rompimento simplesmente riscou do mapa. Agora, advoga pelos seus direitos e pelos dos seus pais, que ainda moravam no vilarejo e se salvaram do tsunami de lama e rejeitos de minério de ferro.
Outra questão que causa insegurança aos atingidos é o fato de vários terrenos terem sido inundados para a construção do Dique S4, um dos quatro criados pela Samarco para segurar o fluxo de sedimentos da barragem que ainda está aberta, impedindo esse material de entrar nos rios Gualaxo do Norte, do Carmo e Doce.