Atingidos pelo rompimento da Barragem do Fundão, operada pela mineradora Samarco, em Mariana, convivem com emoções antagônicas nos últimos dias. Ao mesmo tempo que se reúnem com promotores, juízes e advogados para tentar garantir seus direitos, uma vez que o prazo legal de prescrição está próximo, a notícia de que advogados do escritório anglo-americano SPG Law vão buscar indenizações na Justiça britânica em processo contra a BHP Billiton – controladora da Samarco, ao lado da Vale – trouxe mais esperança de justiça. E essa sensação se intensificou ontem, com o lançamento de um website em português orientando as vítimas sobre como podem aderir à ação internacional e marcando uma data próxima para que ela seja ajuizada: em 36 dias.
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Site de escritório anglo-americano orienta atingidos de Mariana sobre ação contra a BHP Billiton Advogados apostam em acordo na ação internacional pela tragédia de MarianaAdvogado britânico fala ao EM sobre ação de 5 bilhões de libras pela tragédia de MarianaAtingidos por rompimento de barragem de Mariana têm dúvidas sobre ação internacionalMoradores conseguem reformas de casas danificadas por tráfego de caminhões após tragédia de Mariana Advogados preveem indenizações até 40% maiores em ação internacional pela tragédia de MarianaO website brasileiro do escritório anglo-americano (www.spglaw.com.br) já conta com orientações básicas para que os atingidos possam aderir a essa ação. De acordo com os representantes do escritório, as custas do processo podem atingir US$ 20 milhões, que serão bancados pela firma internacional. Ao todo, 39 municípios mineiros e capixabas foram afetados pelo desastre, em uma população estimada em 500 mil vítimas.
De acordo com as informações do site, a ação será proposta em corte inglesa até 1º de novembro de 2018 contra BHP Billiton PLC (braço inglês da mineradora anglo-australiana), visando à reparação dos danos socioeconômicos dos atingidos de formas direta e indireta. “A ação é única e a reparação do direito assegurado será individual”, explica o texto, afirmando ainda que o processo será dividido por categorias de afetados (veja quadro), que vão desde famílias que perderam algum parente até pessoas que tenham sofrido impacto financeiro, indireto, por viver na região afetada economicamente, incluindo empresas atingidas ao longo da Bacia do Rio Doce.
ADVOGADO BRASILEIRO A adesão a essa ação só poderá ocorrer com a contratação de um advogado brasileiro, que poderá fazer parceria com o escritório SPG Law. Uma vez que o profissional entre em contato com o escritório, será firmado um contrato de colaboração. Os clientes não pagarão “absolutamente nada para aderir à ação no Reino Unido”, conforme informou a representação do SPG. “Somente serão devidos honorários em caso de sucesso na ação. O percentual será de 30% do valor total da indenização, incluindo nesse percentual honorários, custas processuais e reembolso de despesas, e esse valor será dividido entre o SPG Law, que suportará os custos da ação, e cada advogado brasileiro”, informou o escritório, que em caso de vitória no processo pode chegar a embolsar algo em torno de 1,5 bilhão de libras (cerca de R$ 8 bilhões).
O SPG Law deixa claro que o valor de eventual indenização será depositado diretamente na conta-corrente ou conta poupança do atingido, depois de preencher os dados de cadastro.
Os advogados coordenadores não poderão atender diretamente a nenhuma pessoa atingida, nem mesmo indicar defensores, pois isso contraria a Lei de Ética e Disciplina da advocacia brasileira. Na noite de ontem, estava prevista mais uma reunião entre promotores e atingidos em Mariana. De acordo com representantes dessas pessoas – que pediram para não ser identificados até que a ação seja proposta –, a esperança de que um processo internacional traga as reparações ainda não alcançadas no Brasil é assunto recorrente em grupos de redes sociais e conversas entre atingidos. Principalmente frente à ameaça de prescrição de direitos segundo a legislação brasileira.
Procurada, a BHP Billiton reafirmou posição divulgada nos últimos dias, reiterando, por meio de nota, que “sempre apoiou todas ações de remediação e compensação realizadas pela Samarco e pela Fundação Renova”.
CARTÃO DE VISITAS O anglo-americano SPG Law se apresenta, no site em português criado para orientar os candidatos a indenização relativa à tragédia de Mariana, como um escritório de advocacia que combate práticas ilícitas de algumas das maiores e mais influentes companhias mundiais. Define sua missão como a de “assegurar justiça a todos os prejudicados, em todo o mundo, defendendo seus clientes contra as injustiças praticadas por algumas das maiores empresas globais”. “O SPG Law combina talentos de alguns dos principais advogados do Reino Unido com os recursos financeiros e a expertise dos advogados americanos especializados em class action, uma forma de ação coletiva. Ninguém nos intimida, nenhuma empresa é grande demais para ser responsabilizada por seus erros. Ninguém está acima da lei”, sustenta a firma internacional, que pode levar 30% do total de eventual indenização, o que inclui honorários, custas processuais e reembolso de despesas. Caso a estimativa de reparação se cumpra, esse valor pode chegar a R$ 8 bilhões, em moeda nacional.
Processos na Justiça brasileira
Cortes em Minas Gerais e no Espírito Santo estão abarrotadas de ações referentes à tragédia de Mariana, que resultaram também em acordos extrajudiciais. Confira as principais iniciativas:
Indenizações pela interrupção do uso de água
» São cerca de 50 mil ações, sobretudo na comarca de Governador Valadares. No fim de agosto, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) concedeu à Samarco pedido de Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas (IRDR).
Termo de Ajustamento de Condutas (TAC) da governança
» Foi assinado em junho deste ano pelo Ministério Público em níveis federal e estadual (de Minas e Espírito Santo); Defensoria Pública dos dois estados, governos estaduais atingidos; a União e seus representados; a Samarco e suas controladoras (Vale e BHP Billiton). Estabeleceu maior participação dos atingidos; assessoramento por câmaras técnicas escolhidas por eles; a revisão dos programas propostos pela Fundação Renova; bem como a inserção de atingidos nos quadros da própria entidade.
Ação civil pública proposta pela Força-Tarefa Rio Doce
» Estimou em R$ 155 bilhões os valores de reparação. Foi suspensa por dois anos após o novo TAC da Governança, sob o argumento de que as reparações serão integrais, sem prever teto de investimentos. Caso a reparação não seja conduzida a contento, a ação pode ser reaberta
Termo Transacional de Ajuste de Condutas (TTAC)
» Foi o primeiro acordo, assinado pela União, estados e empresas responsáveis pelo desastre, ainda em 2015, ano da tragédia. Previa reparação de R$ 20 bilhões e a criação da Fundação Renova. Também foi extinto com o novo acordo
Ações coletivas em Mariana
» São 16 ações cíveis pedindo indenizações por danos materiais e morais e duas ações criminais
Ações de reparação individuais
» Milhares de ações individuais de reparação de danos materiais e morais estão ativas nas comarcas dos 39 municípios afetados pelo rompimento. Os próprios promotores sugerem que as pessoas que se julguem atingidas e que não se sentem representadas na totalidade de seus prejuízos pelas ações civis públicas que procurem advogados ou a Defensoria Pública
Fontes: MPF, MPMG e TJMG
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