Buracos, remendos no asfalto, sinalização precária, vegetação alta. Esses são alguns problemas enfrentados por motoristas que trafegam por rodovias federais que cortam Minas Gerais. Em 12 meses, essas avarias aumentaram, como mostram os dados da segunda edição do Índice de Condição da Manutenção (ICM), divulgada ontem pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). Em um ano, as estradas consideradas péssimas aumentaram cinco vezes, enquanto as vias classificadas como boas diminuíram aproximadamente 12 pontos percentuais. O Dnit credita o resultado ruim à diminuição de repasse de recursos destinados à infraestrutura rodoviária.
A comparação com o levantamento realizado de 2017 mostra que faltaram ações para manter o bom estado das estradas. Na primeira edição do ICM, 72% das rodovias mineiras foram consideradas boas. Em 12 meses, a queda das estradas em bom estado foi de 12,3 pontos percentuais. Já as consideradas em estado regular representavam 18% do total, índice que permaneceu praticamente estável de um período para o outro. O mesmo ocorreu com os trechos considerados ruins. Em 2017, correspondiam a 6% do total, tendo uma pequena queda em 2018, de um ponto percentual. A grande diferença foi mesmo nas estradas em péssimo estado. No ano passado, apenas 3% estavam nesta situação. Um ano depois, esse índice saltou para 15,7%.
Os dados refletem a situação no país. Neste ano, a pesquisa mostrou que 59% das estradas a cargo do Dnit em todo o território nacional estão em bom estado de conservação, 18% em estado regular; 10% em situação ruim e 13% estão péssimas. No primeiro levantamento, 67,5% das rodovias estavam em bom estado; 21% regulares; 7%, ruins; e 5% péssimas.
MENOS RECURSOS Em texto sobre o estudo, o Dnit afirma que a queda coincide com a diminuição dos recursos destinados à infraestrutura rodoviária. “Nos últimos quatro anos, a média do orçamento do Ministério dos Transportes para o setor rodoviário caiu 28%, passando de R$ 9,66 bilhões, entre 2011 e 2014, para R$ 6,97 bilhões, de 2015 a 2018”, disse. “A redução provocou uma variação negativa de 22% nos recursos para manutenção e conservação das rodovias no comparativo entre esses dois períodos citados. No entanto, nos últimos quatro anos, o ministério tem direcionado mais da metade do seu orçamento (54%, em média) para a manutenção da malha federal”, completou.
A pesquisa foi feita pelo Dnit com o objetivo de apresentar uma radiografia das condições da malha federal. O ICM é obtido com a soma do índice do pavimento – que tem peso de 70% na nota final – com o índice de conservação. Os critérios para avaliação do pavimento consideram a ocorrência e a frequência de defeitos no pavimento, enquanto os de avaliação da conservação analisam a roçada (altura da vegetação), a drenagem (dispositivos superficiais) e a sinalização (elementos verticais e horizontais).
METODOLOGIA Para se ter ideia, uma estrada considerada em boas condições precisa não ter buracos, registrar poucas ocorrências de remendos e/ou trincas, ter canteiros centrais e áreas vegetais laterais podadas e sinalização visível. Já as consideradas ruins ou péssimas têm vários remendos, as chamadas panelas, que são cavidades na pista, sinalização precária e mato alto.
Equipes técnicas do Dnit percorreram cada rodovia da malha federal pavimentada para realizar o levantamento. Foi feito um georreferenciamento das estradas por satélite. As rodovias de pista simples são avaliadas em um sentido, considerando as duas faixas. As de pista dupla, nos dois sentidos, de forma independente. Depois disso, os dados foram registrados no aplicativo criado pela área de engenharia do órgão para conclusão do levantamento e elaboração do relatório.
Palavra de especialista
Márcio Aguiar, mestre em engenharia de transportes
Deterioração constante
“Há muito tempo temos um nível de investimento muito pequeno dos governos no setor de transporte. No caso de Minas, que tem a maior malha viária do país, faltaram também investimentos nas estradas a cargo do governo do estado (não analisadas no estudo). A situação está cada vez se deteriorando mais. As estradas estão com problemas na pavimentação e também na capacidade das vias. Muitas das rodovias federais têm que ser duplicadas. São vias importantes. Quando não tem manutenção, as chuvas provocam destruição. Estamos em um momento de transição. Nesta época de eleição, nada aconteceu em termos de investimento. Nossa expectativa é que o próximo governo, seja lá quem for, recupere e faça um trabalho de modernização nas rodovias”