Jornal Estado de Minas

Fechada desde de julho, igreja da Pampulha começa a apresentar efeitos da reforma

No interior do templo, parte das estruturas está protegida. - Foto: SUDECAP/PBH/DIVULGAÇÃOPouco mais de dois meses depois do início das obras, a Igreja São Francisco de Assis, na Pampulha, em Belo Horizonte entra na fase de resultados concretos, com intervenções em um dos pontos críticos da estrutura. Segundo arquiteta Janaína França, gerente do Conjunto Moderno da Pampulha/Fundação Municipal de Cultura, a fase atual é de montagem de andaimes no interior do templo e desmontagem forro. Há uma semana, na data consagrada ao santo padroeiro dos animais e da natureza, Janaína esteve no local e disse que essa etapa é fundamental, já que grande parte dos problemas da construção projetada por Oscar Niemeyer (1907-2012) decorre das infiltrações decorrentes da água de chuva.


Um dos ícones da arquitetura moderna brasileira, com tombamento municipal, estadual e federal, além de componente do conjunto reconhecido como Patrimônio da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), a chamada Igrejinha da Pampulha demandava intervenções mais do que urgentes, segundo especialistas. Elas fazem parte do compromisso assumido pela Prefeitura de Belo Horizonte com instituição internacional ligada à ONU, depois da entrega do título, há pouco mais de dois anos.


A obra vai demandar recursos de R$ 1,075 milhão do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) das Cidades Históricas. Em nota, a Fundação Municipal de Cultura informa que “serão realizados os serviços de recuperação das juntas de dilatação e das pastilhas externas, impermeabilização, substituição dos painéis de madeira, pintura, polimento do piso de mármore e limpeza das fachadas”. Cerca de 20 pessoas trabalham nas obras.


Em nota, a Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap/PBH) informa que as obras de restauro do templo têm término previsto para julho de 2019. Até o momento, foram executados serviços de instalação dos tapumes e do canteiro de obras, proteção dos pisos e dos bens integrados (afresco, púlpito, batistério, degraus e painéis internos em azulejos), remoção do reboco deteriorado, lixamento da pintura na laje frontal, instalação dos andaimes no interior da nave para remoção do forro, recuperação das juntas de dilatação e reexecução do forro em painéis de madeira.

VISITAS Quem visita a igrejinha e a encontra fechada pelos tapumes, à exceção do painel externo de azulejos contando a vida de São Francisco, de autoria de Cândido Portinari (1903-1962), sente um pouco de frustração. Ter uma boa visão do templo, só de longe, do outro lado da lagoa, de pontos como o Museu de Arte da Pampulha (MAP).


Os arquitetos Thálita Zavaski, de 27 anos, Oliveira Júnior, de 52 e o estudante de jornalismo Vítor Nery, de 23, saíram de João Pessoa (PB) para visitar a capital mineira.

“Quando eu penso em Belo Horizonte, a primeira coisa que me vem à cabeça é a igrejinha. Então, é um marco muito importante para a cidade. Nós não sabíamos que estava fechada e nos frustramos”, lamentou Oliveira. Ele, que já esteve na cidade outras vezes, se surpreendeu na primeira oportunidade que entrou na igrejinha, e disse que gostaria muito de compartilhar a experiência com a família: “Eu já estive aqui antes de começar a reforma. A gente fica surpreso, porque temos a impressão de que a igrejinha é muito maior. Mas é uma capela, algo mais singelo, mais delicado, que você não consegue perceber por foto”, pontuou.


Na opinião de Oliveira Júnior, haveria formas de fazer uma reforma sem que a estrutura fosse interditada por completo. “Fazer uma recuperação é muito importante.

Mas existem várias formas de restauração. A logística de como fazer também tem que ser pensada. E acho que é importante que seja de uma forma que impacte menos e não seja necessário o fechamento total da igreja”, avaliou. A paulista Mônica Dias Aguiar, de 34, foi uma das que também se frustraram ao se deparar com os tapumes. Ela ainda chamou para a atenção da interdição do gramado em frente ao mural do artista plástico Cândido Portinari: “Eles podiam pelo menos tirar a rede vermelha, para que pudéssemos nos aproximar para uma foto”.


A turista Fátima Alnassan, de 40, tentou olhar pelas gretas dos tapumes para apreciar mais detalhes de um dos principais cartões-postais em Belo Horizonte. Mas, não deu: “Vários amigos me recomendaram a visita, mas não foi desta vez. Quem sabe na minha próxima vinda a BH”, lamentou. De acordo com a Fundação Municipal de Cultura, a data de reabertura da igreja à visitação está condicionada ao fim das obras.

Por dentro da obra

Histórico
l Concluída em meados da década de 1940, a Igreja São Francisco de Assis só foi integrada pela Cúria Metropolitana em 1959, quando foi enfim consagrada como templo religioso.

A resistência se deveu aos seus traços não convencionais. Projetado por Oscar Niemeyer e considerado a obra-prima do conjunto, o templo tem também obras de Cândido Portinari (1903-1962), Paulo Werneck (1903-1962) e Alfredo Ceschiatti (1918-1989), além de jardins do paisagista Burle Marx (1909-1994)

Custo da reforma
l R$ 1,075 milhão, verba do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) das Cidades Históricas

Início
l 30 de julho de 2018 (implantação do canteiro de obras)

Término
Previsto para julho de 2019

Objetivos
l Restauro das juntas de dilatação
l Recuperação das pastilhas externas
l Impermeabilização
l Substituição dos painéis de madeira internos
l Pintura
l Polimento do piso de mármore
l Limpeza de fachada

Serviços já executados
l Instalação de tapumes e implantação do canteiro de obras
l Proteção dos pisos e dos bens integrados (afresco, púlpito, batistério, degraus e painéis internos em azulejos)
l Remoção do reboco deteriorado
l Lixamento da pintura na laje frontal
l Instalação dos andaimes no interior da nave, para remoção do forro
l Recuperação das juntas
de dilatação
l Reinstalação do forro em painéis
de madeira

Fontes: Fundação Municipal de Cultura/Sudecap

Saiba mais - Título da Unesco

O conjunto arquitetônico moderno da Pampulha se tornou Patrimônio Cultural da Humanidade em 17 de julho de 2016, durante a realização da 40ª sessão do Comitê do Patrimônio Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). O encontro, com a presença de representantes da Fundação Municipal de Cultura da Prefeitura de Belo Horizonte, ocorreu no Centro de Convenções de Istambul, na Turquia. A aprovação dos conselheiros se deu por unanimidade. Além da Igreja São Francisco de Assis, o conjunto interligado pela lagoa inclui o Museu de Arte da Pampulha (MAP), a Casa do Baile e o Iate Tênis Clube, obras assinadas por Oscar Niemeyer.

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