Galileia – A seca deste ano esvaziou o Córrego Boa Vista ao ponto de o fazendeiro Marcos Jacob da Costa, de 57 anos, não ter mais como bombear água para sua propriedade. Mas uma das medidas de compensação para os estragos trazidos pelo rompimento da Barragem do Fundão, em Mariana, pode mudar esse futuro, já que a fazenda dele, no município de Galileia, a cerca de 50 quilômetros de Governador Valadares, no Vale do Rio Doce, foi selecionada pela Fundação Renova para receber o cercamento e a preservação de 11 nascentes do Córrego Boa Vista. “Minha esperança é que, com esse cercamento e com o plantio de árvores nas nascentes, o Boa Vista possa voltar a correr aqui na seca como fez a vida toda”, disse.
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Igreja e indígenas devem aderir a ação internacional de reparação pela tragédia de MarianaAção bilionária da tragédia de Mariana atrai interesse de ao menos 19 prefeiturasPrefeituras discutem adesão à ação internacional contra mineradora pela tragédia em MarianaAção internacional pela tragédia de Mariana amplia adesão para até sexta-feiraMoradores de Governador Valadares ainda se recusam a usar água do Rio DoceO programa de cercamento, reflorestamento e manutenção de nascentes da fundação visa atender a 5 mil surgências em 10 anos. Desde sua implementação, em 2016, já foram beneficiadas 1.050 nascentes em 12 municípios de Minas Gerais e do Espírito Santo. “Pode parecer pouco ante a grandeza do Rio Doce e de suas 350 mil nascentes, mas a ideia é também mudar essa cultura local, muito ligada ao extrativismo, para uma de mais preservação e sustentabilidade”, disse o analista de programas socioambientais da Fundação Renova, Felipe Drummond.
As microbacias beneficiadas são determinadas pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Doce (CBH-Doce), que seleciona estrategicamente aquelas mais degradadas ou de maior contribuição para o rio. “Vamos até os produtores dessas regiões procurar saber quem se interessa. Damos incentivo para cercar a nascente e plantamos mudas nativas. Com isso, o gado para de pisotear a nascente, reduzimos a erosão e o ingresso de sedimentos para lá, aumentando a retenção de água na área de recarga que abastece o olho d’água”, disse Jacomelli.
O rompimento da Barragem do Fundão, em Mariana, despejou cerca de 40 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério de ferro, matando 19 pessoas, atingindo aproximadamente 500 mil pessoas e devastando a bacia hidrográfica do Rio Doce, até o litoral brasileiro, nessa que é considerada a pior tragédia socioambiental brasileira e uma das piores do mundo.
Esperança para a produção
O Córrego Boa Vista fluía o ano inteiro e de suas águas o fazendeiro Marcos Jacob Costa abastecia seu terreno, uma propriedade rural que recebeu de herança dos seus pais, em 1986. O líquido é precioso para matar a sede das cerca de 300 cabeças de gado de corte e leiteiro nos terrenos erodidos e secos que são comuns na região de Governador Valadares, um reflexo de anos de derrubada da Mata Atlântica, plantio de capim e pisoteamento pelo gado.
“Fui subindo o córrego e descobri que muita gente, inclusive uma mineradora, não pararam de puxar a água nem com essa seca”, conta o fazendeiro, que foi obrigado a construir barragens com sacos de areia no leito seco e arenoso para manter empoçamentos durante a estiagem. Mas nem essa solução garantiu o abastecimento da propriedade. “A minha esperança é mesmo cuidar das nascentes que estão bem aqui na minha propriedade. Isso daqui é tudo que tenho para sustentar a minha família”, disse. O produtor ainda foi atingido diretamente pela tragédia.