Já está em Belo Horizonte, na sede da superintendência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) uma joia – pequena no tamanho, grande na importância – furtada há 24 anos do Museu Diocesano Dom José Medeiros Leite, de Oliveira, na Região Centro-Oeste. Para marcar a data da devolução à cidade de origem, a superintendente da autarquia federal, Célia Corsino, está em entendimentos com o bispo da diocese de Oliveira, dom Miguel Ângelo Freitas Ribeiro. Na tarde de ontem, a peça em madeira, do século 18 e com 15,5 centímetros de altura, foi apresentada. Segundo o restaurador André Luís de Andrade, não mostra danos que exijam intervenção antes de ser entregue. É bom lembrar que, nestes tempos de crise, Santo Onofre é considerado entre os católicos “forte” para melhorar o padrão de vida e para ajudar àqueles quem querem abandonar o álcool.
Conforme o Estado de Minas publicou com exclusividade em 1º de setembro, a imagem de Santo Onofre foi devolvida de forma espontânea na superintendência de São Paulo do Iphan, sendo recebida por um porteiro. Junto com objeto, o portador não identificado deixou um bilhete em papel branco, apenas com a palavras “Igreja de Oliveira M.G.”, escritas em azul. Por medida de segurança, um funcionário da instituição em São Paulo esteve em BH para trazer a relíquia.
De acordo com informações do Iphan, a imagem foi entregue enrolada em plástico-bolha, dentro de uma sacola de papel. Ao saber da devolução espontânea, dom Miguel Ângelo, que era padre na época do furto, se mostrou alegre. “Ainda temos esperança de encontrar as outras 35 peças furtadas. Por causa disso, o museu acabou desativado, pois perdemos metade do acervo”, contou.
Célia Corsino ressaltou a importância dos inventários, com fotos e descrição detalhada, para identificação dos bens culturais desaparecidos, e da fiscalização constante. “Desde a década de 1980, a equipe do Iphan elabora os inventários dos acervos. Atualmente, está sendo feita a revisão dos inventários na Região Norte de Minas. Por ser uma instituição nacional, o Iphan atua na fiscalização de leilões de peças sacras e obras de arte, principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro, onde eles ocorrem com mais frequência.”
A devolução ganhou contornos mais amplos, já que Minas lembra os 15 anos da grande campanha para resgate das peças sacras desaparecidas de igrejas, capelas e museus, da qual ficaram como marco os “Anjos de Santa Luzia”, retirados por ordem judicial de um leilão no Rio de Janeiro (RJ) após denúncia do EM. As autoridades mineira ainda procuram 734 peças desaparecidas, incluindo imagens sacras, como o Santo Onofre já encontrado, castiçais, sinos, pedaços de altares e outras. Na lista, que tem objetos desaparecidos desde 1848, há muitas atribuídas a Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho 1738-1814), o “mestre do barroco”, cujos 280 anos de nascimento são lembrados em 2018.
No período de campanha, foram encontradas e devolvidas 269 peças e aguardam decisão judicial mais de 250, fruto de apreensões do MPMG, polícias Federal, Militar e Civil ou entregues espontaneamente. “Nosso objetivo é devolver as peças a seus lugares de origem. Não há alegria maior, pois os moradores nunca perdem a esperança de rever seus objetos de devoção”, disse ao EM a coordenadora da CPPC, Giselle Ribeiro de Oliveira.
VIDA DE SANTO Com o dia comemorado em 12 de junho, Santo Onofre nasceu no século 3, em terras da atual Etiópia, na África. Segundo a tradição, o pai dele, um príncipe egípcio, jogou-o nas chamas, quando criança, para comprovar se se tratava de um filho bastardo. O Livro dos Santos, de Noemí Marcos Alba, conta que “Deus não quis que sofresse dano algum e as chamas não lhe causaram nada”. Criado num mosteiro, Onofre, ao atingir a idade adulta, renunciou a seus direitos de príncipe: “Na Capadócia, atual Turquia, encontrou uma cova e nela viveu por 60 anos”. Em suas meditações, o ermitão se alimentava de tâmaras e água.
Onofre teve um discípulo chamado Pafúncio, que, em sua última visita, encontrou o ermitão enfermo e agonizante. “Chegou a tempo de lhe dar a eucaristia e permaneceu a seu lado até o momento da morte.” Anos mais tarde, o seguidor teria escrito a biografia de Onofre, que é representado como um “ancião com barba e longos cabelos, corpo muito delgado, sem roupa e afastado do mundo”.
FAÇA CONTATO
Qualquer informação sobre as peças desaparecidas deve ser comunicada aos órgãos competentes. Veja como fazer:
» Ministério Público de Minas Gerais, via Coordenadora das Promotorias de Justiça de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico (CPPC) – pelo telefone (31) 3250-4620, por e-mail seccultural@pmmg.mp.br ou carta para Rua Timbiras, 2.941, Bairro Barro Preto, Belo Horizonte, CEP 30.140-062
» Iphan – (31) 3222-2440 / (61) 2024-6342 / (61) 2024-6355 / (61) 2024-6370 – depam@iphan.gov.br, cgbm@iphan.gov.br e faleconosco@iphan.gov.br
» Iepha – (31) 3235-2812 e (31) 3235-2813 – www.iepha.mg.gov.br