Governador Valadares – Apesar de laboratorialmente apresentar condições de ser consumida depois de tratada, a água do Rio Doce, em Governador Valadares, ainda é rejeitada pela população desse município de 280 mil habitantes, o maior da bacia hidrográfica. Desde que os rejeitos de minério de ferro vazaram do rompimento da Barragem do Fundão, em Mariana, na Região Central do estado, despejando 40 milhões de metros cúbicos de sobras das minerações da Samarco e da Vale, boa parte da população passou a incorporar a compra de água mineral em suas despesas do mês. No próximo dia 5, esse que é o maior desastre socioambiental do Brasil completa três anos. De lá para cá, a Fundação Renova projeta um gasto de R$ 200 milhões com a modernização das cinco estações de tratamento de água (ETAs) de Valadares e com a construção de uma nova adutora, de 35 quilômetros, para trazer água do Rio Corrente. Gastos que ainda não mudaram essa rejeição da população.
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Uma das esperanças para contornar essa situação é a construção da nova adutora, que começou no início deste mês.
DESCONFIANÇA O fazendeiro Marcos Jacob da Costa, de 57 anos, passou a comprar água mineral desde que a lama inundou o Rio Doce. “Aquela água lá não tem condição de se beber. A gente não sabe se vai aparecer algum produto da mineração e que faça mal para a nossa saúde. Por isso a gente prefere evitar. Usa a água só mesmo para lavar as roupas e a casa. Para cozinhar e beber tem de ser mineral”, afirma.
O município de Governador Valadares ficou sete dias sem abastecimento de água devido ao desastre com os rejeitos de Fundão. Nesse tempo, o reabastecimento só foi possível com a utilização de produtos químicos que aglutinavam as partículas de rejeito, permitindo a decantação e distribuição. Ainda assim, o abastecimento emergencial feito com a distribuição de água mineral seguiu por vários meses, sendo garantida por acordos entre a Samarco e a prefeitura e o MP.
De acordo com a Fundação renova o rejeito da Barragem do Fundão era composto essencialmente de ferro, manganês, alumínio e sílica (areia). Contudo, devido ao poder de destruição da onda de rejeitos ter revolvido o fundo dos rios atingidos (Gualaxo do Norte, Carmo e Doce), produtos de atividades mineradoras como arsênio e mercúrio chegaram a aparecer nas amostragens de água e de solo, mas já voltaram aos níveis considerados seguros pela legislação ambiental.
Recorde de ações na Justiça
Governador Valadares, no Vale do Rio Doce, constitui o município com mais ações na Justiça pedindo reparação pelo comprometimento do abastecimento de água e outros danos advindos do rompimento da Barragem do Fundão, em Mariana, na Região Central do estado. Só no Juizado especial do município tramitam 50 mil processos pedindo reparação contra a Samarco. As ações estão paralisadas, aguardando que o Tribunal de Justiça de Minas Gerais decida se o juizado tem competência para esse tipo de julgamento. É de lá também o maior volume de adesões esperado pelo escritório anglo-americano SPG Law, que pretende pedir nas cortes da Inglaterra e do País de Gales uma reparação, acionando a BHP Billiton SPL, controladora da Samarco ao lado da Vale, mas que tem escritório na Inglaterra.
De acordo com os advogados norte-americanos e ingleses, o potencial de representações de valadarenses nessa causa seria de 100 mil atingidos. O processo no Reino Unido foi mostrado pelo Estado de Minas com exclusividade e estima-se poder reaver para os atingidos 5 bilhões de libras (cerca de R$ 28 bilhões) em indenizações, sem qualquer custo para os atingidos, mas cobrando 30% dos valores arrecadados.
O rompimento da Barragem do Fundão despejou cerca de 40 milhões de metros cúbicos de lama e de rejeitos de minério de ferro na Bacia Hidrográfica do Rio Doce, atingindo também a costa brasileira. Nesse que é o pior desastre socioambiental do Brasil, morreram 19 pessoas. Até hoje não foi encontrado o corpo de Edmirson José Pessoa, de 48 anos, que trabalhava para a Samarco havia 19 anos quando ocorreu o desastre. Cerca de 500 mil pessoas foram atingidas..