A morte de uma paciente depois de uma cirurgia plástica numa clínica na Região Centro-Sul de Belo Horizonte traz à tona novamente os riscos do procedimento. O caso está sendo investigado pela Polícia Civil que, ontem, interrompeu o velório para levar o corpo para autópsia. A atendente Renata Avelino Bretas, de 35 anos, era moradora de Itabirito, na Região Central, onde foi sepultada. A equipe médica responsável pela plástica atribui a morte a uma fatalidade. Polícia informa não ter encontrado erro aparente.
Pela manhã, pouco antes do enterro, policiais interromperam a cerimônia informando que seria necessário fazer a autópsia do corpo. Levado para um posto médico, o corpo passou pelos procedimentos antes de ser liberado. Renata submeteu-se a duas intervenções na quarta-feira passada na Clínica Forma, no Bairro Santo Agostinho: pôs próteses de silicone nos seios e fez lipoaspiração na região das axilas. Familiares dela que acompanhavam o velório no Cemitério Parque da Esperança disseram que ela passou mal já no pós-operatório, foi atendida na clínica e liberada. A mulher teria se sentido mal em casa, voltou à clínica na sexta-feira para trocar os curativos, e lá passou mal novamente. Ainda segundo os parentes, na segunda-feira, ela teve convulsões. Foi socorrida a um hospital de Itabirito, onde morreu. A causa da morte está sendo apontada como embolia pulmonar.
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O cirurgião plástico Frederico Vasconcelos, que operou Renata, negou que a paciente tenha passado mal na clínica e atribuiu a morte dela a uma fatalidade. “Foi uma infeliz variável de fatores da medicina”, disse na tarde de ontem, durante entrevista coletiva. Segundo o médico, ela fez todos os procedimentos pré-operatórios, e nada mostrou qualquer risco. Essa foi a segunda vez que a mulher passou pela avaliação. Em 2014, ela queria fazer a cirurgia, mas, por algum motivo, desistiu. “Pela avaliação e pelo histórico que ela nos passou, foi considerada uma paciente de risco habitual ou baixo risco”, afirmou.
Ele disse que no sumário de alta havia os telefones da clínica e da equipe de profissionais para caso de emergência e a data de retorno, para dois dias depois, podendo ser antecipada caso fosse necessário. O médico, integrante do Conselho Brasileiro de Cirurgia Plástica, relatou que a paciente foi ao consultório na sexta-feira e que chegou andando e falando normalmente, sem relatar qualquer mal-estar. Continuou conversando por mensagem com a enfermeira, dizendo que estava bem e reclamando apenas do desconforto dos curativos. “Na segunda, o namorado dela comunicou à clínica que Renata acordou bem, que o pai dela saiu para comprar algo no supermercado e, quando voltou, notou que a filha estava passando mal, entrando num quado de insuficiência respiratória”, contou.
“O médico que prestava atendimento a ela no hospital (de Itabirito) me disse serem grandes as chances de ela falecer. O quadro, de acordo com ele, era de embolia pulmonar aguda, que pode ocorrer a qualquer momento e em questão de minutos”, explicou. O anestesista Dener Augusto, lembrou que a paciente tomou anestesia peridural e ficou acordada durante a cirurgia. “Ela preenchia todos os critérios de alta hospitalar. Mesmo com todo o avanço tecnológico, a embolia é a principal causa de morte no pós-operatório e o diagnóstico é muito complicado.”
Ele explicou que a embolia é a formação de um trombo (coágulos sanguíneos) e que pode se iniciar no pré ou no pós-operatório. A partir do momento em que o trombo se solta e cai na circulação sanguínea, vai parar dentro do pulmão, entope a circulação pulmonar, dificultando a oxigenação do sangue e o bombeamento pelo coração. “A trombose pode ser desencadeada no mesmo dia, no posterior ou antes da cirurgia”, informou Vasconcelos. Os médicos lamentaram o ocorrido e disseram esperar que o laudo da necrópsia esclareça a causa da morte.