Em meio a congestionamentos que parecem cada vez mais longos e duradouros em ruas e avenidas de Belo Horizonte, a capital alcança um número emblemático, mas nada favorável para as perspectivas do trânsito. Dados do Departamento Estadual de Trânsito de Minas Gerais (Detran/MG) mostram que a frota registrada na cidade rompeu pela primeira vez na história a barreira dos 2 milhões de veículos, dos quais 1,3 milhão de automóveis e 219 mil motocicletas, número significativo para se medirem os níveis de mobilidade urbana em um município que dobrou sua frota em 12 anos e quase a triplicou neste século (veja arte).
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No mesmo intervalo, a capital mineira ganhou apenas o Sistema Move como mudança significativa na estrutura do transporte público. O BRT, na sigla em inglês, deu prioridade de espaço para os coletivos em quatro grandes corredores da cidade, além de duas vias menores no Hipercentro de BH. Muito pouco diante do avanço da frota, para o coordenador do Núcleo de Infraestrutura e Logística da Fundação Dom Cabral, Paulo Resende.
Resende destaca que a barreira dos 2 milhões de veículos é simbólica para o trânsito. “A cidade perdeu a luta que vinha mantendo, de maneira extremamente tímida em suas intervenções, com o veículo privado”, afirma. Quando se analisa o crescimento apenas dos automóveis, esse número também dobrou em 12 anos. Enquanto em 2006 a capital mineira tinha 673 mil carros registrados, hoje são 1,3 milhão, 105% a mais.
O resultado disso é o que o professor chama de “espraiamento dos congestionamentos”. Enquanto há 10 anos o horário de pico da manhã era das 7h às 8h30, hoje, segundo o especialista, esse horário se estendeu das 6h30 às 9h. Outro problema ainda mais grave é o potencial que pequenos acidentes ou outros eventos têm para instalar o caos nas ruas da capital. “Dependendo de onde acontecer um acidente ou outro evento, imediatamente cria-se o que chamamos de efeito de arrasto.
Não resta outro caminho, na avaliação do coordenador do Núcleo de Infraestrutura e Logística da Fundação Cabral, senão investimentos que visem ao melhor uso e ocupação do solo, voltar a fazer linhas de metrô, aumentar o BRT/Move, aumentar integração entre os modais públicos e usar trechos abandonados de ferrovias para implantar trens intermunicipais na região metropolitana.
O fantasma do rodízio
Sem essas medidas, o caminho natural para Belo Horizonte são ações de restrição para uso de veículos particulares, segundo Resende. “São Paulo implantou rodízio e já se fala em pedágio urbano, que significa pagar para entrar em determinados lugares da cidade. Outras opções são aumentar placas em rodízio e fechamento de ruas. Se não criarmos um processo acelerado de alternativas, Belo Horizonte caminha para isso”, alerta.
Enquanto Belo Horizonte rompeu a barreira dos 2 milhões de veículos, a frota de Minas Gerais caminha para a marca de 11 milhões de carros, motos, caminhões, ônibus e outros em pouco tempo. Dados do Detran apontam 10,8 milhões de unidades, com quase 6 milhões de automóveis e 2,4 milhões de motocicletas. O estado tem um aumento percentual ligeiramente maior do que o da capital, já que dobrou sua frota em 11 anos, um a menos que a capital mineira. Em 2007, a frota estadual apontava 5,2 milhões de veículos, o que indica aumento de 105% até este ano.
Adeus ao velho rotativo de papel
Termina hoje o longo reinado dos tíquetes de papel do Estacionamento Rotativo em Belo Horizonte.