“Já fui assediada várias vezes dentro do ônibus. O caso mais marcante foi quando um rapaz, que estava de short de malhar, ficou com o pênis ereto ao ‘ralar’ nas mulheres do meu lado. Quando ele se aproximou de mim, eu gritei. Ninguém fez nada e ele simplesmente desceu do ônibus e foi embora. Foi constrangedor. Se tivesse um apito como esse em mãos, eu sopraria e denunciaria”, disse a advogada Maria de Lourdes Dias, de 27 anos, ao aguardar a chegada do ônibus na plataforma da Estação São Gabriel, na Região Nordeste de BH. Na ocasião, ela não procurou a polícia por não acreditar que medidas seriam tomadas. Porém, desde ontem, apitos de plástico começaram a ser distribuídos às passageiras do transporte público com o intuito de ajudar essas vítimas a denunciar o crime.
Leia Mais
Mulheres recebem apitos e panfletos contra assédio nos ônibus e metrô de BHMulheres começam a receber apitos para denunciar assédio em transporte público nesta quartaContra assédio sexual, prefeitura vai distribuir apitos no transporte público de BHHomem de 60 anos é detido suspeito de assédio em ônibus do MoveMais um homem é detido após uso do botão de assédio em ônibus de BHHomem é preso por importunação sexual dentro de ônibus em BHRegistrada primeira autuação com acionamento do botão contra o assédio em ônibus de BHMoradores protestam contra tráfego de caminhões no Bairro Olhos D'ÁguaAcidente em Minas mata dois e joga moto em cima de árvore“Achei a iniciativa muito interessante. Infelizmente, o assédio é muito comum e temos muito medo. Outro dia a minha irmã estava no ônibus e sentiu um homem se movimentando. Ela foi se afastando, mas não teve coragem de olhar. Quando percebeu, o homem já estava com o órgão pra fora, ejaculando. Ele saiu correndo e ela ficou em choque”, contou a cientista de dados Aline Bittencourt, de 32. Casos como o dela são comuns, tanto que, nos últimos dois anos, aumentou em 44,8% o número de queixas de atos contra a dignidade sexual em ônibus em Minas Gerais, segundo a Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp). Embora esse tipo de importunação seja extremamente subnotificado, as ocorrências registradas em ônibus até setembro deste ano já superaram em 21,7% o número de queixas de todo o ano passado.
RISCO O professor do Departamento de Saúde Mental da UFMG Frederico Garcia avalia a campanha como positiva. “Existe o agressor que tem como prazer surpreender a vítima. Nesse caso, os apitos serão muito bons, pois vão quebrar essa ‘surpresa’ no sentido de a mulher poder anular essa atitude. Estudos nos Estados Unidos mostram que 85% dos agressores sexuais interrompem a agressão quando são surpreendidos pelo apito. Gritar, fazer barulho e responder é sempre melhor do que ficar calada”, comentou. “O apito é uma ótima novidade, mas a educação é o mais importante para mostrar que essas situações não são normais, temos que eliminar essa cultura machista”, completou Frederico. Já o coordenador do Centro de Estudos e Pesquisas em Segurança Pública da PUC-Minas, Luís Flávio Sapori, pondera: “Ainda tenho dúvidas da operacionalidade e da eficiência do botão no ônibus. Entretanto, é uma tentativa válida”.
A jornalista Jéssica Almeida, de 26, se mostrou animada com a novidade. “Agora, temos instituições se envolvendo com uma coisa que as pessoas achavam que era individual. Se temos o apoio do Estado, nos sentimos mais encorajadas a denunciar”, disse. Jéssica conta que foi vítima de pelo menos dois episódios graves de assédio no transporte público e que não teve coragem de fazer a denúncia na ocasião. “Na época em que aconteceu comigo não me sentia fortalecida, mas hoje sim. O importante é que as mulheres cuidem umas das outras. Hoje, há quem denuncie, mas também há muitas outras que não têm coragem de fazê-lo. Vamos ficar atentas”, completou. A guarda municipal Aline Oliveira dos Santos Silva frisa que nem todas as mulheres terão o apito, mas podem denunciar via 153 ou 190.
SERVIÇO PARA DENÚNCIA
153 - Guarda Municipal de BH
190 - Polícia Militar
99999-1108 - Denúncia de
importunação no metrô
(via SMS ou WhatsApp)
Definição do crime
A importunação sexual foi definida em termos legais como a prática de ato libidinoso contra alguém sem a sua anuência “com o objetivo de satisfazer a própria lascívia ou a de terceiro”.