Jornal Estado de Minas

Atingidos na tragédia de Mariana realizam marcha de Mariana a Vitória

"É um absurdo que três anos depois a gente ainda precise estar lutando, mas nós estamos em lutas e vamos continuar em lutas. Vamos resistir." No dia em que se completam três anos do maior desastre socioambiental do Brasil, Simone Silva, de 41 anos, integrante da Comissão dos Atingidos de Barra Longa, pede pela punição dos responsáveis. Em 5 de novembro de 2015, a Barragem de Fundão – da mineradora Samarco, controlada pela Vale e pela BHP Billiton – se rompeu e matou 19 pessoas. 

"O crime continua acontecendo todos os dias. Ninguém perguntou se a gente aceitava a lama, se a gente aceitava nossa vida ser virada de cabeça pra baixo. Recebemos um tsunami e as ondas continuam nos atingindo E os assassinos estão soltos", afirmou Simone, que pede por respostas.

Com o objetivo de denunciar os três anos e fortalecer a luta nas regiões, os atingidos pelo crime realizam a marcha Lama no Rio Doce: 3 Anos de Injustiça, que ocorre entre os dias 4 e 14 de novembro. A marcha teve início ontem, com um encontro de mulheres que debateram "as consequências do crime na vida das mulheres e crianças na Bacia do Rio Doce". A atividade foi promovida pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).

"As mulheres e as crianças são as que mais sofrem, pois a Samarco reconhece o marido como chefe da casa e exclui a mulher.
Somos mais de 300 mulheres, e algumas delas tinham renda independente do marido, mas somente o homem recebe ajuda. Isso também tem causado muita separação, pois quando alguns homens recebem o dinheiro, eles somem. Têm mulheres passando fome dentro de casa", disse a atingida.

Nesta segunda-feira, ocorreu um ato na praça da cidade e, em seguida, e uma celebração ecumênica pelas mortes causadas pelo rompimento da barragem.

De lá, os atingidos seguem para iniciar o mesmo trajeto feito pela lama – até Vitória no Espírito Santo. A marcha realiza ações em dez municípios do trecho até o mar, com feiras de saúde, atos culturais, caminhadas, celebrações religiosas e assembleias.

 

Em nota, a Fundação Renova informou que "pauta seu trabalho pelo respeito aos direitos humanos de todas as pessoas com as quais se relaciona, sem tolerar qualquer tipo de discriminação por origem, raça, cor, gênero, idade, orientação sexual, religião ou opinião política, entre outros, em seus programas, projetos e ações, incluindo as indenizações". A organização ainda ressaltou que "pretende refletir sobre uma política afirmativa de gênero a fim de mitigar essa desigualdade estrutural".

 

A Renova também destacou que, com as mudanças aprovadas no Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) Governança, haverá maior participação dos atingidos nas decisões da organização, assim como nas medidas em prol da reparação de danos.  

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