Se no período de maior calor a poluição exala um mau cheiro que incomoda muito os frequentadores da Lagoa da Pampulha, em Belo Horizonte, na temporada chuvosa, o odor e a nata verde formada pela sujeira são incrementados pelo aporte de lixo que chega ao dobro da época de estiagem. Com entrada diária de resíduos sólidos de até 20 toneladas no cartão-postal todos os dias, a crosta de poluição acaba prendendo esse lixo, piorando bastante o aspecto do espelho d’água. Essa situação deixa a população desconfiada com os resultados do trabalho de despoluição, e cobra melhorias no ponto turístico, que integra o conjunto moderno e paisagístico declarado patrimônio cultural da humanidade em 17 de julho de 2006, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.
A assistente social Daisy Dias Lopes, de 63, diz que mora perto da lagoa há 23 anos e que houve avanços nesse período em relação à limpeza do reservatório. Mas ela critica a falta de continuidade de ações de despoluição. “Acho que precisamos de uma política que se mantenha independentemente de quem seja o governante. A limpeza precisa ser frequente”, afirma. A reclamação de Daisy diz respeito à paralisação do tratamento que foi feito nos últimos dois anos, mas ficou seis meses suspenso após o encerramento do contrato que regulava o serviço.
O trabalho só foi retomado no mês passado e a Prefeitura de Belo Horizonte admitiu que houve piora na qualidade da água da lagoa enquanto parou de ocorrer o tratamento. O contrato que vigorou de março de 2016 a igual mês deste ano teve investimento de R$ 36 milhões na aplicação de dois produtos que reduziram a poluição, principalmente atacando o nível de fósforo e a matéria orgânica. Segundo a prefeitura, cinco níveis considerados pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) para medir a qualidade da água foram enquadrados na classe 3 após o uso dos produtos, padrão que permite a prática de esportes náuticos. Mas o fim do serviço e a interrupção na aplicação dos chamados biorremediadores fez com que a poluição aumentasse e os indicadores extrapolassem o limite da classe 3.
No mês passado, o trabalho foi retomado, a partir da recontratação da mesma empresa que prestou o serviço com dispensa de licitação. O preço do contrato caiu de R$ 18 milhões por ano para R$ 16 milhões, mas ainda não foram divulgados os primeiros resultados da retomada. Na semana passada, o secretário de Meio Ambiente de BH, Mário Werneck, comentou sobre a situação do espelho d’água quando explicava o manejo das capivaras que vivem na orla. Ele destacou que a prefeitura está desenvolvendo um trabalho técnico para ser referência e conduzido de forma contínua, mas por enquanto não é possível comemorar a solução do problema, porque é uma tarefa muito difícil. “A gente não pode transmitir para a sociedade que é um trabalho fácil”, disse Werneck.
Ontem, a prefeitura informou, por meio da Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), que com a retomada dos trabalhos em outubro, a meta é que água da lagoa alcance novamente a Classe 3 em até seis meses. “A melhoria da qualidade da água será gradual e já deverá ser percebida pela população nos próximos dois meses. As medições serão trimestrais”, disse, por meio de nota. “Serão perceptíveis a melhoria no visual do espelho d’água e ausência de maus odores como consequência da redução da carga poluidora”, conclui o texto.