Minas Gerais – e especificamente a região de Lagoa Santa, na Grande BH – se confirma mundialmente como um ponto estratégico para as pesquisas em arqueologia e paleontologia (estudos de fósseis). Um grupo de pesquisadores internacionais e brasileiros, incluindo três da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), apresenta resultados inéditos sobre o povoamento pré-colombiano das Américas, por meio do estudo dos processos iniciais de ocupação na América do Norte e do Sul. Uma das mais surpreendentes conclusões é que Luzia, considerada a primeira brasileira, cujo crânio datado de 11,4 mil anos foi salvo incêndio no Museu Nacional, do Rio de Janeiro, não tinha feições africanas, mas dos indígenas brasileiros. O trabalho será publicado na revista norte-americana Science.
A pesquisa apresentada no Rio inclui várias amostras com mais de 10 mil anos (entre 10,4 mil e 10,7 mil), coletadas em Lagoa Santa, no século 19, pelo dinamarquês Peter W. Lund (1801-1880), chamado de doutor Lund, que viveu e trabalhou 46 anos na região. Os pesquisadores tiveram sucesso no processo de datação por radiocarbono e estudos genômicos dos famosos restos humanos na chamada região cárstica. O material faz parte do acervo do Museu de História Natural da Universidade de Copenhagen, na Dinamarca, enviado para lá por Lund, no século 19. De acordo com os pesquisadores, o acervo é crucial para o entendimento da ocupação das Américas na pré-história.
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O estudo também dá pistas quanto ao enigmático sinal genético australomelanésio encontrado na população de Lagoa Santa, que data pelo menos de 10 mil atrás, que não é encontrado nas populações pré-históricas da América do Norte. A evidência genética só foi possível, dizem os pesquisadores, graças aos estudos feitos através dos fósseis humanos do continente americano, dentre os quais, o material original de Lagoa Santa, população da qual Luzia, o mais antigo fóssil brasileiro, fazia parte. As peças coletadas por Lund fazem parte do acervo do Museu de História Natural da Universidade de Copenhagen, na Dinamarca, e do homem de Spirit Cave, de Nevada, dos Estados Unidos, a múmia natural mais antiga do mundo.
O novo estudo genômico (DNA) a ser publicado Science e que desvenda a história de distribuição das primeiras populações do continente americano teve origem em 30 crânios originários da região cárstica de Lagoa Santa e dos quais foi feita a datação, explica Pinotti. Ele explica que, em pesquisas, há duas linhas de trabalho, como a morfologia craniana e a datação genética, que, no caso, norteou os atuais resultados.