A Justiça Federal adiou a decisão sobre novo pedido de suspensão do reajuste de quase 89% na tarifa do metrô de Belo Horizonte, que se tornou desde ontem o mais caro administrado pela Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) no país, depois que a tarifa saltou de R$ 1,80 para R$ 3,40. Em despacho editado na tarde de ontem, o juiz federal João Miguel Coelho dos Anjos decidiu que a 7ª Vara Cível da Justiça Federal em Minas, pela qual responde, não tem competência para julgar a ação contra o aumento, interposta pelo Ministério Público. Sem apreciar o pedido de suspender o reajuste, o magistrado encaminhou o processo para a 15ª Vara Federal, que já avalia ação civil pública sobre o mesmo assunto.
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Pedido de suspensão de aumento da tarifa do metrô em BH é redistribuído e fica sem decisãoMinistério Público Federal tenta suspender aumento da tarifa do metrô em BHTarifa do metrô de Belo Horizonte sobe para R$ 3,40 nesta quarta-feira Apesar de liminar, metrô de BH continua 88% mais caro; falta notificaçãoJustiça Federal determina que tarifa do metrô de BH volte para R$ 1,80Na ação que propôs contra o aumento, o MPF informou que ratifica integralmente os termos da ação civil pública proposta em maio pelo MPMG contra o reajuste, e voltou a pedir que a Justiça Federal o suspenda, liminarmente. De acordo com o processo, o reajuste superior a 88%, sem análise técnica aprofundada, leva a um “desarrazoado prejuízo ao consumidor, que, num passe de mágica, sofre um assaque nas suas finanças”.
Entre os passageiros, as maiores queixas são dos que precisam pagar a passagem do próprio bolso, sem auxílio de empregadores. “Acho que é um aumento muito grande para um metrô que vive lotado. Tem dia em que eu tenho que esperar passar três trens para embarcar na Estação São Gabriel”, diz a diarista Vanda Correia, de 50 anos. “Sou eu que pago minha passagem e estou há quatro anos sem aumento no valor da diária. Se eu disser que aumentou esse tanto, as pessoas vão parar de contratar meu serviço.
“Assusta bastante, porque é um aumento extraordinário. Eu estou há oito anos sem reajuste de salário e não recebo dinheiro de transporte, então terei que bancar. Minha filha também usa o metrô todo dia para estudar”, afirma o funcionário público estadual Marcos Lacorte, de 59. O açougueiro Reginaldo José de Melo, de 38, disse que já tinha ouvido do patrão que a firma não arcaria com o aumento, quando houve a primeira tentativa de reajuste, em maio. O novo preço foi praticado por quatro dias, mas decisão da Justiça barrou o aumento. Na terça-feira, decisão do STJ permitiu que a nova tarifa voltasse a ser praticada.
ALIENAÇÃO
Tanto para o Ministério Público Federal quanto para o Ministério Público de Minas Gerais “qualquer aumento de tarifas públicas num momento econômico delicado como o atualmente vivenciado no Brasil, o que é de conhecimento público e notório, desperta no meio social o sentimento de que ações governamentais sempre estão dissociadas da busca do bem social dos seus administrados”. “Entre os anos de 2002 e 2006, a CBTU já havia imposto aumento exacerbado da tarifa do metrô de Belo Horizonte, com a passagem aumentando em 100%, enquanto a inflação no período teria sido de cerca de 35%”, diz nota divulgada ontem.
A ação contra os quase 89% de reajuste argumenta que o aumento de 2006 possibilitou à CBTU ampliar seus rendimentos e que, a partir de 2007, o metrô de BH passou a operar com superávit progressivo.
CBTU Em nota, a CBTU informou que, como o último reajuste do metrô de Belo Horizonte ocorreu em dezembro de 2006, a receita “não evoluiu de forma compatível com o aumento de seus custos, sendo necessária aplicação do presente reequilíbrio financeiro”. “A recomposição parcial das perdas inflacionárias autorizada pelo Ministério do Planejamento para a CBTU busca o fortalecimento do transporte de passageiros sobre trilhos e opera como medida fundamental para dar continuidade à operação e manutenção do serviço prestado. Rigorosamente em todo o país, tarifas de transportes públicos sofrem reajustes baseados, normalmente, em índices inflacionários”, completou a CBTU.
Reflexo na integração
Como aumento do metrô, as tarifas integradas com o ônibus sofrerão alteração, já que o usuário que utiliza os dois serviços vai pagar o reajuste do metrô também na tarifa de integração. Nos terminais Vilarinho, São Gabriel e José Cândido, ao usar uma linha de ônibus com tarifa de R$ 4,05 e o metrô de R$ 1,80, o passageiro pagava o total de R$ 4,05, sendo R$ 2,60 destinados ao sistema ônibus. Com o reajuste, passa a pagar um total de R$ 5,50, sendo os mesmos R$ 2,60 destinados ao ônibus e R$ 2,90 destinados ao metrô. Na integração com linhas de R$ 2,85 fora das estações, o valor que antes somava R$ 1,80 referente ao metrô, agora soma R$ 3,40, em um total de R$ 6,25. Com desconto para usuário do cartão BHBus, passa de R$ 3,75 para R$ 5,20. Na integração com linhas de R$ 4,05 fora das estações, o preço sai de R$ 5,85 para R$ 7,45.
Ranking do preço
Capital Tarifa 2017 Tarifa 2018
BH R$ 1,80 R$ 3,40
Recife R$ 1,60 R$ 3,00
Natal R$ 0,50 R$ 1,00
João Pessoa R$ 0,50 R$ 1,00
Maceió R$ 0,50 R$ 1,00.