A decoração chama a atenção pelo detalhe. Tem um propósito muito maior que o de enfeitar. O bom velhinho chega hoje a um dos shoppings mais tradicionais de Belo Horizonte com uma missão e tanto. Ele será o guardião de quatro árvores do bem. Em cada uma delas, cartões pendurados com o nome de uma criança, a idade e a creche à qual ela é vinculada são o convite para fazer uma boa ação. Adotar um deles é presentear um menino ou menina carente e garantir que Papai Noel não se esquece de ninguém. A proposta é simples e faz toda a diferença: é só comprar o presente e deixar aos pés da árvore. O resto, ele faz.
O projeto Árvore do bem é uma parceria do BH Shopping com a Jornada Solidária Estado de Minas. As cerca de 1,6 mil crianças que estão identificadas nos cartões, com idades entre 0 e 6 anos, são das 12 creches beneficiadas pelo programa social do jornal. O gerente de marketing do centro de compras, Renato Tavares, explica que o local procura inovar a cada ano nos dias que antecedem a principal data do varejo, oferecendo a lojistas um diferencial a lojistas seja nas ações que efetua, na decoração ou em promoções. “Este ano, queríamos algo que devolvesse às pessoas um pouco do que elas deixam aqui para gente”, conta.
A ideia foi motivada pelo dia das crianças, quando 100 crianças de uma creche da Vila São José, na Região Noroeste de Belo Horizonte, passaram uma manhã no shopping, com direito a cinema, brincadeiras e brindes. “Vimos a felicidades delas. A maioria nunca havia pisado num shopping ou ido ao cinema. Foi muito gratificante não só para nós da administração, como para os lojistas”, afirma. “Muitos dos nossos clientes gostam de presentear e ajudar alguém”, diz. Os interessados podem escolher um nome, comprar o presente e depositá-lo na caixa próximo às árvores, com o cartão anexado ao embrulho. A ideia é que o próprio Papai Noel, junto com personagens de desenhos infantis, entreguem os presentes nas creches, na época do Natal.
Os primeiros presentes serão entregues a uma creche no início do mês que vem. A ação vai ocorrer no próprio shopping e as crianças vão recebê-los das mãos de Papai Noel. A expectativa é que bem antes do dia 24 todas as crianças já tenham sido adotadas, para que outras creches que já fizeram parte da jornada também possam ser beneficiadas. “É muito bacana sermos procurados para essa ação, pois mostra a credibilidade, o reconhecimento e a seriedade e da longevidade do nosso trabalho. É o primeiro programa social de empresa privada no país. Antes, só havia do governo federal”, destaca a coordenadora da Jornada Solidária, Isabela Teixeira da Costa.
COMO COMEÇOU
A jornada foi criada em 1963, com o nome de Jornada pelo Natal do Menor. Nesse formato, chegou a atender 300 instituições, beneficiando 60 mil crianças no ano. A ideia era dar um lanche ou um almoço e um brinquedo para as crianças. “Naquela época, a sociedade não tinha o olhar voltado para voluntariado”, ressalta Isabela. Na primeira edição, diretores do Estado de Minas fecharam a Avenida Afonso Pena, entre a Igreja São José e o Edifício Acaiaca, puseram palanque e música. Foi cobrado pedágio de carros e pedestres que passavam pelo local. O dinheiro foi doado para algumas instituições, para que fizessem suas festas. No ano seguinte, o então colunista social Eduardo Couri, foi mobilizado para fazer ações sociais junto com a sociedade para arrecadar dinheiro e estruturar a Jornada pelo Natal do Menor.
As instituições prestavam contas para se inscrever para a edição seguinte. “Há 16 anos, percebemos que prestavam contas de pequenos reparos que precisavam, como escapamento de gás, uma troca de vidro. Estavam com outras necessidades, maiores até que o Natal. Começamos a pesquisar e falaram que já tinham muitos natais. A sociedade já estava sensibilizada para o voluntariado. Se uniam e faziam o Natal em creche e abrigos. Logo, não estavam mais precisando do dinheiro para fazer a festa, mas de reforma”, lembra Isabela.
Nessa época, Nazareth Teixeira da Costa assumiu a presidência da jornada e implantou a mudança para o formato de atendimento atual. Há 15 anos, são feitas reformas patrimoniais. As creches são também equipadas com móveis, computadores, mobiliário e brinquedos pedagógicos e lúdicos. É oferecido ainda atendimento psicológico para crianças em condição de vulnerabilidade. Ao longo desse período, foram entregues à comunidade 35 creches prontas – totalmente reformadas, algumas ampliadas e outras com instalações para portadores de necessidades especiais. “Criou-se na época em que não existia o nome responsabilidade social. Fazemos porque achamos que é papel ajudar essas crianças”, diz Isabela.
O trabalho feito pela jornada foi ao encontro do projeto do shopping e resolveu a principal questão: como encontrar instituições sérias e legalmente constituídas. “Sabemos da seriedade da jornada, que é uma marca repertoriada em BH. Foi uma associação muito gratificante. Sabemos que os presentes serão realmente entregues a esses meninos”, relata Renato Tavares. “A pessoa já compra o presente e deixa aqui. O único trabalho é escolher o que dará e todo mundo adora isso, ainda mais para uma causa tão nobre. Será um grande sucesso”, conclui o gerente do shopping.