Mais de 250 anos de peregrinação marcam a Serra da Piedade, em Caeté, na Grande BH, que tem hoje um dia especial para celebrar. Há exatamente um ano, por determinação do papa Francisco, os dois templos existentes no alto da montanha ganhavam o título de basílicas – à luz da fé católica, um território do Vaticano no coração de Minas. E a data anuncia mais um título importante para o complexo religioso, cultural, ambiental e paisagístico administrado pela Arquidiocese de Belo Horizonte. As duas construções – a ermida do século 18 que guarda a imagem da padroeira de Minas, Nossa Senhora da Piedade, e a antes chamada Igreja Nova das Romarias, de 1970 – vão se tornar “santuários irmãos” da Basílica Nossa Senhora da Anunciação, de Nazaré, em Israel, construída no local da gruta onde a Virgem Maria, conforme as sagradas escrituras, recebeu a visita do Anjo Gabriel anunciando que ela seria a mãe de Jesus.
A proximidade de receber o Gemellaggio ou decreto de fraternidade enche de alegria o arcebispo metropolitano dom Walmor Oliveira de Azevedo e mais ainda os frades franciscanos, há 801 anos cuidando da Basílica da Anunciação e de outros locais sagrados da Terra Santa. Em 9 de dezembro, às 8h, participará de uma missa na Serra da Piedade o reitor e guardião da basílica existente em Nazaré, o frei brasileiro Bruno Varriano, portador do documento oficial e de um presente de Natal antecipado para os mineiros: uma pedra da chamada Casa de Maria, a ser depositada no Santuário Basílica Nossa Senhora da Piedade. No Brasil, apenas o Santuário Nossa Senhora D’Abadia de Muquém, na diocese de Uruaçu, em Goiás, tem o título e o símbolo mariano.
O representante da Custódia da Terra Santa em Minas, frei Francisco Alexandre Viana, conhecido como frei Chico, falou ao Estado de Minas dos laços que se fortalecem entre os dois centros religiosos dedicados a Nossa Senhora. “O título se refere à grande importância do Santuário Basílica Nossa Senhora da Piedade, muito visitado durante todo ao ano. Além disso, precisamos destacar a devoção mineira à mãe de Jesus”, afirma. Para ele, o título dará ainda mais visibilidade internacional à Serra da Piedade e servirá para aumentar o número de romeiros, que já chega a meio milhão por ano.
Na sede do Comissariado da Terra Santa, no Bairro Padre Eustáquio, na Região Noroeste de Belo Horizonte, frei Chico mostra com orgulho o cartaz comemorativo de oito séculos, completados em 2017, da presença dos franciscanos na Terra Santa. Integrante da comunidade do Convento de São Francisco das Chagas, no mesmo bairro, o religioso destaca que 95% dos santuários católicos existentes na região (Israel e Palestina) são administrados pelos franciscanos. O Gemellaggio será assinado pelo Custódio da Terra Santa, frei Francesco Patton.
DEVOÇÃO MINEIRA Para dom Walmor, o título reforça a fé do povo de Minas. “Ao reconhecer o Santuário Basílica Nossa Senhora da Piedade como território irmão da Basílica Nossa Senhora da Anunciação, em Nazaré, os franciscanos, guardiões da Terra Santa, fazem justa homenagem à devoção do povo mineiro, que desde o século 18 peregrina ao topo da Serra da Piedade”, disse. O arcebispo acredita que o reconhecimento aumenta a responsabilidade de todos no cuidado diário com esse patrimônio. “O mundo contempla e percebe nosso santuário como um dom, lugar único, também uma terra santa. Nós, que somos guardiões do Santuário Basílica Nossa Senhora da Piedade, precisamos nos unir, cada vez mais, para defendê-lo e preservá-lo.”
Dom Walmor explica que “no interior da Basílica da Anunciação está o local onde o Anjo Gabriel se encontrou com Maria Santíssima para anunciar que Deus a escolheu para ser a Mãe do Salvador”. E acrescenta: “O Santuário Basílica Nossa Senhora da Piedade vai receber um símbolo do lugar sagrado da Terra Santa. Assim, todos que peregrinarem ao Santuário da Padroeira de Minas poderão estar ainda mais próximos dos acontecimentos que precederam a chegada do Menino Jesus. E, no caminho da oração, da contemplação, do silêncio, a partir de atenta escuta da palavra de Deus, diante das muitas situações da vida, poderão dizer, seguindo o exemplo de Maria: Seja a feita a vontaade de Deus.”
Basílicas da Piedade, em Minas
Com mais de 250 anos de peregrinação, a Serra da Piedade, em Caeté, na Grande BH, abriga há um ano, por determinação do papa Francisco, duas basílicas: a Basílica Ermida da Padroeira de Minas Gerais – Nossa Senhora da Piedade, considerada a menor do mundo, representada pelo templo do século 18, no qual fica a padroeira do estado, e a Basílica Estadual Nossa Senhora da Piedade – Padroeira de Minas Gerais, ex-Igreja Nova das Romarias, construída em 1970. Chamada de “magnífica arquitetura divina”, pelo segundo arcebispo de BH, dom João de Resende Costa (1910-2007), o complexo, que recebe meio milhão de romeiros por ano, tem uma longa história de devoção.
A fama do lugar teria começado entre 1765 e 1767, conforme a tradição oral, com a aparição de Nossa Senhora, com o Menino Jesus nos braços, a uma menina, muda de nascimento, cuja família vivia na comunidade de Penha, a seis quilômetros da serra. Naquele momento a menina teria recuperado a fala. O episódio tocou o coração do português Antônio da Silva Bracarena, então na colônia para ganhar dinheiro. Ele se converte e decide dedicar sua vida à construção de uma capela no lugar onde ocorrera o milagre. O singelo templo dedicado a Nossa Senhora da Piedade começa a ser erguido em 1767 e, mais tarde, ganha a imagem esculpida por um jovem de Ouro Preto, Antonio Francisco Lisboa, que se tornaria reconhecido como mestre do barroco mineiro, sob a alcunha de Aleijadinho (1738-1814), cujos 280 anos de nascimento são lembrados este mês os 280.
Basílica da Anunciação, em Israel
Gente do mundo inteiro visita a Terra Santa para conhecer os lugares sagrados do cristianismo. Em Israel, os olhos se voltam para Jerusalém e também Nazaré, onde está a Basílica da Anunciação. No primeiro andar do templo erguido em 1969 fica a Gruta da Anunciação, onde o Anjo Gabriel anunciou à Virgem Maria que ela seria mãe de Jesus, conforme a tradição religiosa. A construção atual é um edifício de dois andares sobre o local onde, anteriormente, estava uma igreja da era das Cruzadas que, por sua vez, fora erguida sobre as ruínas de uma antiga construção bizantina.
Edificada em um ponto de importância histórica e considerada sagrada, a igreja recebe muitos peregrinos católicos, anglicanos e ortodoxos. O primeiro santuário foi provavelmente construído no século 4, onde havia apenas um altar na caverna onde Maria teria vivido. Uma estrutura maior foi encomendada pelo imperador romano Constantino I, que ordenou que sua mãe, Santa Helena, fundasse igrejas nos locais de importância na vida de Jesus. A Igreja da Anunciação, hoje basílica, foi fundada mais ou menos na mesma época que a Igreja da Natividade (no local do nascimento de Jesus) e da Igreja do Santo Sepulcro (onde Cristo foi sepultado).
A origem do termo
Basílica é um título concedido pelo papa, após análise da Congregação do Culto Divino e da Disciplina dos Sacramentos, do Vaticano. De origem grega, a palavra deriva de basileus, que significa reis. “Para nós, portanto, é o espaço do Cristo Rei”, explica o arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira de Azevedo. A partir do século 5, cresce o número dos cristãos e, para receber os fiéis em orações ou celebrações, teve início a construção de grandes templos, que receberam o nome de basílicas. No mundo, são quatro as basílicas maiores: de São Pedro, São Paulo, Santa Maria Maior e São João de Latrão, em Roma, Itália. Todas as demais são chamadas basílicas menores. Hoje, o título tem um sentido peculiar, sendo dado a igrejas que preencham alguns requisitos: ter qualidades artísticas e ser centros de concentração religiosa e piedade do povo. Para merecer o reconhecimento, há critérios como documento oficial do papa, sagração e coroação da imagem.