Jornal Estado de Minas

'A família está desesperada', diz advogada de aluno que morreu espancado no IEMG

Estudantes promovem abraço coletivo em homenagem ao aluno morto e pedindo paz na escola - Foto: Reprodução da Internet/Facebook
“A família está desesperada, nunca imaginou uma situação assim. Ele sai para ir à escola e não volta mais”, disse a advogada, Adriana Eymar, que representa os parentes do adolescente de 17 anos que morreu na manhã de ontem depois de ficar gravemente ferido em uma briga no Instituto de Educação de Minas Gerais, escola estadual localizada no Bairro Funcionários, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, na última quarta-feira. O corpo de Luiz Felipe Siqueira Souza foi liberado à noite para ser velado na cidade de Minas Novas e enterrado em Turmalina, no Vale do Jequitinhonha, onde grande parte da sua família mora. A Secretaria de Estado de Educação determinou a instauração de sindicância para apurar a agressão e um laudo circunstanciado sobre os fatos deverá ser emitido. Ontem, professores e estudantes do Instituto de Educação se uniram para um abraço simbólico em homenagem ao aluno morto. Durante o ato, sob forte comoção, foi feito um pedido de paz na escola.


A briga que provocou a morte teria começado quando alunos jogavam futebol na quadra da escola. Inicialmente, houve apenas agressão verbal. Mas um grupo de alunos acabou atingindo a vítima com socos e pontapés.
De acordo com a direção da instituição de ensino, o adolescente tentou fugir para o interior da escola, mas lá dentro foi  agredido com um chute na cabeça. Ele estaria de costas quando sofreu o golpe. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi chamado ao local e levou o aluno ferido ao Hospital de Pronto-Socorro João XXIII, onde ficou internado por seis dias no Centro de Terapia Intensiva (CTI). Suspeito de ser o principal agressor, Hudson Rangel Gomes Rosa, de 18 anos, foi detido pela Polícia Militar no dia da briga e teve sua prisão transformada de temporária para preventiva na sexta-feira pela 1ª Vara Criminal de Belo Horizonte.


“Agressor e vítima eram da mesma escola, mas de turmas diferentes. Luiz era bom de bola e, durante a partida de futebol daquela tarde, ele deu uma ‘canetada’ (drible). O agressor, que já tinha o histórico de violência e era lutador, não aceitou que rissem dele. A partir disso, começaram as agressões”, completou a advogada da família.

O histórico com indícios de violência do rapaz que matou o colega mais novo chama a atenção, aponta ela: “Ele já havia rasgado o boletim escolar e agredido o vice-diretor.”. Em nota à imprensa, a Secretaria de Estado da Educação (SEE) fala em “mais de 20” registros sobre o comportamento do aluno anotados desde o 1º ano do ensino fundamental e cita brigas com colegas, uso de palavrões e agressões verbais. “Inicialmente não foram constatadas anotações sobre boletins de ocorrências policiais ou medidas socioeducativas envolvendo o agressor”, diz o texto. Hudson está matriculado no ensino médio.


Segundo informações da direção da unidade à SEE, em mais de uma ocasião foi solicitada à família que providenciasse a transferência do estudante (as transferências são sempre feitas em comum acordo com a família), sem ter obtido sucesso. “Como foi instaurado um inquérito policial, as documentações dos estudantes e da escola serão encaminhadas à Justiça, sempre que for solicitado”, garantiu a secretaria. Hudson foi detido pela Polícia Militar no dia da briga. A Polícia Civil informou que ele está preso no Centro de Remanejamento do Sistema Prisional (Ceresp) Gameleira. “Todo o trabalho jurídico já foi feito e faremos Justiça.

Luiz faleceu, então o processo muda para homicídio consumado.”, disse a advogada.

Sonho era ser engenheiro

 

Um jovem tranquilo e cheio de sonhos, que pretendia ser engenheiro. Assim era Luiz Felipe Siqueira Souza, de acordo com a família do adolescente. “Era um menino de bem, da paz. Não contribuiu em nada para a violência contra ele”, afirmou em entrevista ao Estado de Minas, no início da noite de ontem, a enfermeira Janaína Maciel, prima do adolescente. Moradora de Minas Novas, ela disse que “o sentimento da família é de indignação e muita tristeza diante de um ato brutal como esse”.


Luiz Felipe perdeu a mãe, Abigail Siqueira, aos 3 anos e foi criado pelo pai, Valdenson Evangelista de Souza, que tem outro filho, Luca, de 16. Valdenson trabalhava como vendedor de eletrodomésticos em Minas Novas. Mas há dois anos, diante do desemprego e falta de oportunidades no Vale do Jequitinhonha, viu-se obrigado a deixar o lugar de origem. Junto com os dois filhos, foi para São Paulo, onde trabalha como motorista de uber. Em maio, Luiz Felipe se transferiu para Belo Horizonte, onde passou a morar com uma tia no Bairro Santa Efigênia, enquanto o pai e o irmão dele continuaram na capital paulista.

 

O adolescente foi matriculado no terceiro ano do ensino médio no Instituto Estadual de Educação e fez as provas do último Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). “O sonho era cursar engenharia civil”, revela Janaína. O corpo do adolescente será sepultado no mesmo jazigo da mãe dele, em Turmalina.

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